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Atlas da Almirante Reis reúne "vários olhares" sobre avenida lisboeta

O "primeiro grande Atlas da Avenida Almirante Reis", que reúne "vários olhares" de investigadores sobre uma das mais extensas avenidas da cidade de Lisboa e uma das menos estudadas, chega na sexta-feira às livrarias.

Atlas da Almirante Reis reúne "vários olhares" sobre avenida lisboeta
Notícias ao Minuto

15:36 - 24/09/20 por Lusa

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Sob a chancela da Tinta da China, o Atlas da Avenida Almirante Reis é um projeto coordenado pela investigadora Filipa Ramalhete, pela historiadora Margarida Tavares da Conceição e pela arquiteta Inês Lobo, que contou com a participação de 28 profissionais ligados à História da Arte, Geografia Urbana, Sociologia, Arquitetura e Fotografia, entre outros.

O Atlas é estruturado em quatro partes que se dividem fisicamente por plantas desdobráveis, congregando perspetivas históricas e geográficas, dados inéditos, uma análise arquitetónica e uma abordagem projetual.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora Filipa Ramalhete contou que o projeto nasceu em 2016, tendo sido publicados artigos sobre o assunto, mas só agora, quatro anos depois, é que se chegou ao produto final: o Atlas.

"A razão principal de termos escolhido a Almirante Reis foi por esta ser uma avenida muito singular no contexto da cidade de Lisboa e muito pouco estudada. É também uma das avenidas mais longas de Lisboa e foi sempre assim um bocadinho delegada para segundo plano nos estudos e investigações", contou.

Filipa Ramalhete, que também é professora no Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) e diretora do Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da UAL, explicou que havia muito interesse em aprofundar mais história da avenida.

"Já tínhamos dados que já existiam e sabíamos de certeza que íamos descobrir material novo e original que contribuísse para a história da cidade de uma forma bastante inovadora e interdisciplinar", disse.

No início do projeto foram contactados vários investigadores de diversas áreas para colaborarem, pessoas que estavam em doutoramento e alunos de Arquitetura e mestrado integrado.

"O livro acaba por ser um cruzamento de muitos olhares que, por vezes, tem uma abordagem mais generalista e mais ligada à avenida como um todo - há um artigo histórico que explica toda a história da construção da avenida desde o início -- e também olhares mais aprofundados, como a escultura, outros edifícios", referiu a docente universitária.

A mistura de várias escalas e vários olhares foi propositada, explicou, uma vez que se pretendia integrar "não só uma visão histórica, mais descritiva, analítica, academicamente mais tradicional, mas também quatro grandes mapas que são desdobráveis e são resultado de investigações de mestrados e são propositivos, não são planos para a cidade, não são propostas urbanísticas, mas de alguma forma são visões que já resultam de uma reflexão com um olhar no futuro".

Do livro, Filipa Ramalhete destaca, por exemplo, um ensaio visual da socióloga Ágata Dourado Sequeira: um conjunto de fotografias sobre os coletivos de criação e sobre espaços que foram nos últimos anos transformados não especificamente na avenida, mas naquela zona, para albergar novas dinâmicas sociais e de trabalho.

"Um outro exemplo que posso dar é um capítulo que fiz com a antropóloga Maria Assunção Gato e a arquiteta Raquel Vicente que tem a ver com as casas de porteira e quartos de criada nos edifícios da avenida construídos a partir do final dos anos 1950. Acaba por mostrar uma realidade da avenida que é muito característica de uma determinada vivência de Lisboa na segunda metade do século XX", contou.

De acordo com a investigadora, este capítulo tem muito a ver com a forma como Lisboa cresceu mesmo nas avenidas consideradas mais pobres.

"A Almirante Reis não era um bairro nobre como outras zonas de Lisboa, como a Avenida da República. Era uma avenida de uma classe média ligada aos serviços e comércio, mas onde assistíamos àquela visão de Lisboa, que nós temos de imaginários dos anos 50, das raparigas que vinham do campo para trabalhar como criadas internas de servir", disse.

A partir dos anos 1950, começaram a ser construídos dentro dos edifícios quartos de criadas que, com o passar dos anos, foram adaptados a outras valências.

"Embora tenhamos feito a análise um bocadinho formal, ajuda-nos a fazer a ponte com as formas de viver da cidade e como têm mudado as sociabilidades da cidade de Lisboa nos últimos anos", referiu.

O Atlas, sublinhou, abre portas para muitas outras investigações que podem surgir.

"Estamos satisfeitos. Todos os artigos têm informação original, pesquisa feita com algumas fontes e documentos inéditos e que estão a ser publicados pela primeira vez", concluiu.

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