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Definição de museu divide museólogos e provoca demissões no ICOM

A criação de uma nova definição de museu está a dividir os membros do Conselho Internacional de Museus (ICOM, em inglês), tendo já provocado várias demissões, e deverá ser alvo de votação na próxima assembleia geral, em 2022.

Definição de museu divide museólogos e provoca demissões no ICOM
Notícias ao Minuto

12:25 - 14/08/20 por Lusa

Cultura Museu

O tema gerou polémica no ano passado, quando a maioria dos membros deste organismo optou, em assembleia, no Japão, por adiar a aprovação da nova definição com o objetivo de promover um debate alargado e atingir um consenso.

Um grupo de 28 países, incluindo Portugal, e também a Alemanha, França, Irão, Canadá, Argentina e Espanha, entre outros, apresentou a moção que pediu esse adiamento.

Na sua edição ´online´ de hoje, a publicação The Art Newspaper refere que a questão já levou a várias demissões de altos responsáveis do ICOM, nomeadamente a presidente, Suay Aksoy, grande defensora da renovação, e a líder da comissão que desenvolveu o novo texto, Jette Sandahl, queixando-se de falta de apoio.

Suay Aksoy chegou a defender, em documentos da organização, ser "uma responsabilidade do ICOM estar atento aos desenvolvimentos sociais, políticos e económicos, e ter em consideração os muitos desafios atuais e futuros dos museus".

Em sua substituição foi nomeado, poucos dias depois, Alberto Garlandini, para presidente desta organização não governamental, criada em 1946, dedicada à preservação e divulgação do património natural e cultural mundial, tangível e intangível, através de orientações de boas práticas.

A atual definição de museu, que data dos anos 1970, diz que "o museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite".

Por seu turno, a nova definição proposta introduz novos conceitos, nomeadamente de "dignidade", "transparência", "inclusivo", "justiça", "democracia" e "igualdade", que vão para além do modelo vigente, e tem sido criticada por "reunir ideias politicamente corretas", e não contemplar as noções de "educação" e até de "coleção", consideradas essenciais no quadro da missão do ICOM.

Alberto Garlandini, novo presidente do ICOM, disse ao The Art Newspaper desejar que "todos aceitem a diversidade de opiniões, e coloquem de parte as posições ideológicas", mostrando-se confiante que conseguirá "criar uma atmosfera" que permita votar uma nova definição na próxima assembleia geral, marcada para 2022, em Praga, na República Checa.

"Devemos olhar com empenho para uma nova era na história do ICOM", apelou o responsável.

Muitos membros defendem que a nova definição deve ser ampla o suficiente para incluir todo o tipo de museus, enquanto outros, que trabalham em países politicamente mais autoritários, receiam não poder acolher um texto que manifestamente apele ao respeito pela democracia e direitos humanos.

No ano passado, contactado pela agência Lusa, o arqueólogo português Luís Raposo, presidente do ICOM-Europa, que participou na assembleia geral do ICOM, com representantes de comités nacionais de 118 países membros, revelou que 70,49% dos membros votaram a favor do adiamento da controversa definição.

"Nós apresentámos uma moção a pedir que essa votação fosse adiada pelo menos um ano, para que os membros do ICOM pudessem apresentar outras propostas, já que o assunto é muito complexo, e a nova definição não é consensual", disse o museólogo, acrescentando que a proposta podia, a ser aceite, "criar uma situação bastante negativa de divisão" na instituição.

O grupo de trabalho proposto pela presidência mundial dedicou-se durante dois anos no projeto, realizando centenas de sessões informais e recebeu mais de 250 propostas anónimas, "sobretudo com teor mais ativista do que técnico, e, além disso, os comités nacionais do ICOM nunca foram formalmente consultados", criticou Luís Raposo nas declarações anteriores à Lusa, para justificar a oposição.

"A nossa ideia é também fazer alterações à atual definição, mas não tão radicais", disse, defendendo que "a nova definição deve continuar a centrar-se na missão primordial dos museus, que é a sua atividade original, e não estar carregada de ativismo e ideologia", defendeu o presidente do ICOM-Europa, reeleito no cargo no ano passado.

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