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EGEAC. Rita Rato destacou-se por "visão integrada" para o Museu do Aljube

A Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) de Lisboa afirmou hoje que a ex-deputada Rita Rato apresentou "uma visão integrada" para o Museu do Aljube, na capital, e "destacou-se", entre os candidatos, por uma "abordagem múltipla".

EGEAC. Rita Rato destacou-se por "visão integrada" para o Museu do Aljube
Notícias ao Minuto

16:56 - 09/07/20 por Lusa

Cultura EGEAC

Em resposta a um contacto da agência Lusa, a propósito de críticas que têm surgido nas áreas da história e da museologia, sobre a escolha da antiga deputada comunista para a direção do museu, a EGEAC divulgou um conjunto de esclarecimentos.

"A candidata selecionada [Rita Rato Fonseca] defendeu uma visão integrada para o Museu do Aljube, incluindo uma proposta de programação relacionada com temáticas de liberdades contemporâneas, como as questões de género ou a inclusão social, e destacou-se numa segunda ronda de entrevistas nessa abordagem múltipla", justifica a empresa, em comunicado.

Adianta ainda que "o processo de recrutamento contou com a participação ativa do anterior diretor do museu [Luís Farinha], uma vez que se pretende uma continuidade do projeto desenvolvido nos últimos cinco anos, sem prejuízo de um reforço nas áreas de comunicação e captação de novos públicos".

O resultado do concurso realizado pela EGEAC para a substituição de Luís Farinha, que se aposentou, foi anunciado na terça-feira, e, desde então, surgiram várias críticas nas redes sociais a esta escolha, nomeadamente por parte de historiadores e investigadores como Irene Pimentel, autora de "A História da PIDE", e António Araújo, que publicou "Morte à Pide! - A queda da polícia política do Estado Novo".

No centro da polémica está o perfil da antiga deputada do PCP, licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa.

Rita Rato foi deputada pelo PCP à Assembleia da República, entre 2009 e 2019, e fez parte, como coordenadora do Grupo Parlamentar, da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, entre 2011 e 2015. 

Hoje, em declarações à Lusa, tanto a presidente do comité português do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal), Maria de Jesus Monge, como o presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João Neto, mostraram-se surpreendidos com a escolha, e consideraram que a antiga deputada "não tem o perfil indicado para o cargo", quer ao nível da formação, quer de experiência prática museológica.

Para a presidente do ICOM-Portugal, "formação na área, e perfil profissional são essenciais para o cargo de direção de um museu, que precisa de conhecer as condições do meio, e deter competências técnicas que vão fazer falta".

"A pessoa selecionada [Rita Rato] não tem nenhuma experiência que a capacite nem formação adequada que a recomende para aquele lugar", sublinhou Maria de Jesus Monge.

Em resposta à Lusa, a EGEAC responde que o Museu do Aljube "conta com uma equipa com sólida formação académica e científica que continuará a apoiar a nova direção, assim como o Conselho Consultivo do Museu, do qual fará parte, Luís Farinha, anterior diretor do museu".

"O Museu do Aljube, tal como a EGEAC, é uma instituição plural onde convivem as mais diversas correntes politicas", afirma a empresa que gere os espaços culturais da câmara de Lisboa.

Na terça-feira, a EGEAC recordava que o processo de recrutamento para selecionar a nova direção tinha sido aberto em abril deste ano, e que contou com algumas dezenas de candidaturas, resultando na seleção de Rita Rato Fonseca, "que se destacou pelo projeto apresentado e pelo desempenho nas entrevistas realizadas com o júri", indicava a EGEAC.

O júri foi composto por Luís Farinha, a presidente da EGEAC, Joana Gomes Cardoso, o assessor para a área do património e dos museus, Manuel Bairrão Oleiro, e pelo diretor de Recursos Humanos da empresa municipal, Joaquim René.

Contactado pela Lusa, o presidente do movimento cívico Não Apaguem a Memória (NAM), Fernando Cardeira, manifestou opinião sobre uma escolha que "cria uma situação muito difícil".

"Por um lado, as pessoas com carreira política não devem ser prejudicadas por isso, mas, por outro lado, estas instituições [como o Museu do Aljube] devem ter dirigentes que não tenham conexões tão diretas e óbvias com um partido político", defendeu.

Em reação às críticas, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu a antiga deputada, recusando a sua estigmatização por ser comunista.

"Que ninguém pense em lançar esse estigma porque isso acabou há 46 anos, com o 25 de Abril de 1974", afirmou Jerónimo de Sousa, depois de uma reunião com o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), na sede do partido, em Lisboa, questionando sobre as críticas de que Rita Rato foi alvo, por exemplo, por historiadores.

O secretário-geral dos comunistas, "com preocupação", disse que não se deve "penalizar alguém, estigmatizar só por causa desta ou daquela opção partidária".

Desde a instalação, o museu tem vindo a desenvolver projetos como a recolha de testemunhos de combatentes pela liberdade e de histórias de vida de muitos resistentes, para consulta pública e para memória futura dos crimes cometidos pela ditadura e os agentes que a sustentaram.

Na rede social Facebook, a historiadora Irene Pimentel, com investigação feita sobre a história contemporânea, portuguesa, e várias obras publicadas sobre a PIDE, questiona: "O que é isto? Que escolha é esta? Alguém que não é nem historiadora, nem museóloga, mas apenas militante de um partido, da qual foi deputada e que, ao ser questionada, sobre o Gulag estalinista e prisões políticas na China, responde que não sabe de nada! E que tem uma licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais".

"Não há concurso público para museus camarários, ou a escolha é por camaradagem? Não será de discutir o que é um museu sobre o tema do Aljube, que - lembro - foi um cárcere político?", acrescenta a investigadora, Prémio Pessoa, em 2007, doutorada em História Institucional e Política Contemporânea, pela Universidade Nova de Lisboa.

Por seu lado, o jurista e historiador António Araújo, doutorado em História Contemporânea pela Universidade Católica Portuguesa, também questionou, no seu blogue, a escolha de Rita Rato, considerando-a "um insulto grave aos historiadores e investigadores portugueses (...) aos resistentes e às vítimas pela liberdade".

Ambos os historiadores referem uma entrevista ao Correio da Manhã, em 2009, na qual Rita Rato dizia desconhecer a existência dos Gulag, os campos de trabalho forçado da antiga União Soviética.

A Lusa tentou contactar a ex-deputada agora selecionada para diretora do Museu do Aljube, mas, até ao momento, não obteve resposta.

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