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Humidade é o principal inimigo do quadro O Grito', de Munch

A humidade é o principal inimigo ambiental na origem da degradação da obra-prima da pintura "O Grito", de Edvard Munch, segundo as descobertas hoje publicadas por uma equipa internacional de cientistas que usaram técnicas não invasivas com raios-x.

Humidade é o principal inimigo do quadro O Grito', de Munch
Notícias ao Minuto

19:15 - 15/05/20 por Lusa

Cultura Munch

A equipa, liderada pelo Comité Nacional de Pesquisa (CNR), de Itália, congregou, entre outras, intervenções de especialistas da European Synchrotron, em França, que usaram uma combinação de métidos espectroscopicos não invasivos e de raios-x avançados, para não destruir a pintura que se encontra no Museu Munch, em Oslo, na Noruega.

O estudo, publicado pela revista Science Advances, poderá ajudar a preservar esta importante obra do século XX, que se admite ter sido concluída em 1910, na posse do Museu Munch, e que é raramente exposta ao público, devido à sua progressiva degradação.

"O Grito" é uma das mais famosas pinturas da era moderna, tendo sido apropriada pela cultura pop em todo o mundo, o que tem contribuído para a sua reprodução em todo o tipo de objetos e vestuário, dede canecas a 't-shirts'.

A imagem tem sido interpretada como uma representação simbólica da ansiedade e angústia humanas, e é vista como uma interpretação pessoal do artista norueguês que abriu caminho à corrente expressionista.

Existem várias versões da obra de Edvard Munch (1863-1944), nomeadamente duas pinturas, duas obras em pastel, várias litografias e alguns desenhos e esboços.

A primeira pintura, datada de 1893, encontra-se na Galeria Nacional da Noruega, também em Oslo. O Museu Munch detém a segunda versão, de 1910, e um pastel que se acredita ter sido um estudo da original.

Um segundo pastel, datado de 1895, na posse de um colecionador privado, foi vendido em leilão pela Sotheby's, em 2012, por cerca de 120 milhões de dólares (perto de 111 milhões de euros, ao câmbio atual).

Os especialistas acreditam que, nas duas mais conhecidas versões da obra - as pinturas de 1893 e 1910 -, o artista procurou e encontrou as cores exatas para representar a sua própria experiência, misturando tempera, óleo e pastel, com pigmentos sintéticos brilhantes para dar origem às "cores gritantes" pelas quais ficou conhecido "O Grito".

No entanto, os materiais amplamente usados para criar esta luminosidade especial que lhe deu fama têm sido um desafio para os técnicos de restauro preservarem as obras a longo prazo.

A versão de "O Grito" que pertence ao Museu Munch, em Oslo, é a obra que se encontra com mais problemas. Exibe sinais claros de degradação em diferentes áreas, nas nuvens da paisagem e no pescoço da figura central, não apenas pelos materiais usados, mas também devido ao roubo de que foi alvo em 2004, quando ficou desaparecido e provavelmente desprotegido durante dois anos.

Desde a recuperação do quadro, raramente foi exposto ao público, e encontra-se protegido no museu, com condições controladas de luz, temperatura (cerca de 18 graus) e humidade relativa (50%).

Numa colaboração internacional liderada pelo CNR e a Universidade de Perugia, ambos em Itália, a Universidade de Antuérpia, na Bélgica, o Bard Graduate Center de Nova Iorque, nos Estados Unidos, a European Synchrotron (ESRF), em França, a Electron Synchrotron (DESY) de Hamburgo, na Alemanha, e o Museu Munch, foi estudada em pormenor a natureza dos pigmentos, e como se degradaram ao longo do tempo.

As descobertas do grupo de especialistas forneceram várias pistas relevantes sobre os mecanismos de deterioração das tintas, com base em cadmio e sulfetos, que terão implicações na futura conservação preventiva da obra.

"As microanálises permitiram-nos descobrir a principal razão do declínio do quadro, que é a humidade. Também descobrimos que o impacto da luz no quadro é reduzido. Estou muito satisfeita com os resultados do nosso estudo e a forma como pode contribuir para preservar esta famosa obra de arte", afirma uma das coordenadoras do estudo, Letizia Monico, no texto publicado pela revista Science Advances.

Com estas descobertas, os investigadores concluíram pela humidade como a principal inimiga do quadro, e recomendam uma percentagem não superior a 45, ou até inferior, para a sua conservação.

"Estes resultados trazem novos conhecimentos e vão permitir fazer ajustamentos na estratégia de conservação do museu", acrescentou Irina Sandu, cientista conservadora do Museu Munch, num resultado que sublinha a cooperação frutuosa entre a ciência e a arte.

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