Compositores "vão estar com bastantes dificuldades" durante pandemia
As medidas de mitigação da pandemia covid-19 estão a afetar muitos compositores que deixaram de receber licenças pela performance das suas músicas ao vivo, disse à Lusa Ana Rocha, responsável da indústria em Los Angeles.
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Cultura Música
A portuguesa é gestora de serviços criativos na SESAC, empresa que garante o pagamento de direitos autorais aos compositores de músicas usadas em televisão, rádio, performances ao vivo, locais públicos e outros, tendo a seu cargo compositores de música latina e rock independente.
De acordo com a gestora, o setor em que a crise está a ser mais sentida é nas licenças pagas pelos bares e restaurantes. "Cada um desses licenciamentos é pequeno mas num ?pool' de um país inteiro de estabelecimentos de entretenimento e restauração fechados é bastante representativo", explicou.
O encerramento dos negócios não essenciais e a ordem de permanência em casa entraram gradualmente em vigor em grande parte dos Estados Unidos a partir da terceira semana de março.
"Obviamente temos muitos compositores afetados, uma vez que muito do trabalho e do salário deles vem de concertos ao vivo", disse. É o que acontece sobretudo com os compositores mais pequenos. "Esses vão estar com bastantes dificuldades e estou em contacto com vários que estão a tentar arranjar alternativas, porque deixaram de ter qualquer tipo de dinheiro a entrar", afirmou.
"O tombo maior na indústria acontece para todos os que viviam de ?live performances', atuações pequenas e grandes que são muitas vezes o ganha-pão de artistas ?up and coming', que ainda não têm posicionamento no mercado de massa", sublinhou Ana Rocha. Os trabalhos alternativos e biscates mais comuns também não estão disponíveis: "O plano B não é evidente para ninguém neste momento".
Perante o cenário, a Academia de Gravação e a fundação MusiCares estabeleceram um fundo com o montante inicial de 2 milhões de dólares para ajudar as pessoas da indústria mais afetadas pelos cancelamentos generalizados.
Para os compositores mais estabelecidos, que escrevem para artistas com muita rotação de rádio, Spotify e televisão, o cenário é menos preocupante. No que toca a televisão, os dados da Recurly mostram um aumento de 32% no número de assinantes de serviços pagos nos Estados Unidos, só na semana de 16 de março.
O Spotify não está a crescer, segundo uma análise do banco de investimento Raymond James, mas este é um fenómeno menos problemático porque o 'streaming' pesa menos no pagamento de direitos autorais. É uma tendência do mercado que ainda não move as somas de outros segmentos, o que segundo Ana Rocha "é bem representativo de uma indústria em mudança" que tem tido dificuldade de adaptação.
A redução do envolvimento dos utilizadores com o Spotify acontece numa altura em que os encerramentos afastaram as pessoas dos ginásios e o teletrabalho eliminou a necessidade de deslocação entre casa e local de trabalho, duas ocasiões que até aqui motivavam a utilização de serviços de streaming de música.
"Rádio e principalmente tv/cinema continuam a ser as licenças com mais peso monetário para compositores, pelo que esse setor tem mantido o meu ramo em movimento neste momento", indicou Ana Rocha. "A empresa vai sentir, como vão todas, porque a crise vai ser generalizada e global, mas estamos protegidos ainda".
Entre os nomes grandes que são geridos pela SESAC, que Ana Rocha descreve como um intermediário "boutique" e "seletivo", encontram-se a cantora Adele e os patrimónios de Kurt Cobain e Bob Dylan. A empresa paga aos compositores da música e da letra e não aos artistas que fazem a interpretação.
Em teletrabalho desde 13 de março, a responsável não antevê mudanças a nível pessoal provocadas pela crise. "Tenho a minha vida muito estabelecida aqui, com um nível salarial que em Portugal não teria", afirmou.
Licenciada em Biologia pela Universidade do Porto, Ana Rocha desistiu do doutoramento em biologia molecular e decidiu que "queria mudar para algo mais criativo e em contacto com pessoas", o que a levou à indústria da música em Los Angeles.
A paralisação motivada pela covid-19 deixou em suspenso um estilo de vida que disse apreciar muito, numa cidade onde "as pessoas são mais orientadas para um balanço da vida pessoal e profissional" e o clima ameno "dita muito a maneira como as pessoas encaram a vida", de forma mais relaxada.
Los Angeles, o condado mais afetado pela pandemia na Califórnia, está sob ordens de permanência em casa até 15 de maio.
Desde que foi detetado, na China em dezembro passado, o novo coronavírus já provocou mais de 164 mil mortos e infetou mais de 2,3 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 525 mil doentes foram considerados curados.
Os Estados Unidos são o país com mais mortos (40.500) e mais casos de infeção confirmados (mais de 737 mil).
Seguem-se Itália (23.660 mortos, em mais de 178 mil casos), Espanha (20.453 mortos, mais de 195 mil casos), França (19.718 mortos, mais de 152 mil casos) e Reino Unido (16.060 mortos, mais de 120 mil casos).
Por regiões, a Europa soma mais de 103 mil mortos (mais de 1,1 milhões de casos), Estados Unidos e Canadá mais de 42 mil mortos (mais de 775 mil casos), a Ásia mais de seis mil mortos (mais de 163 mil casos), o Médio Oriente mais de cinco mil mortos (mais de 125 mil casos), a América Latina e Caribe quase cinco mil mortos (mais de 98 mil casos), África 1.091 mortos (mais de 21 mil casos) e a Oceânia com 90 mortos (mais de sete mil casos).
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