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Músicos lançam associação para retirar música são-tomense dos bairros

Músicos de São Tomé e Príncipe em Portugal estão a preparar o lançamento de uma associação que possa dar um impulso cultural à comunidade e retirar a música são-tomense dos bairros periféricos.

Músicos lançam associação para retirar música são-tomense dos bairros
Notícias ao Minuto

08:12 - 29/02/20 por Lusa

Cultura Músicos

A ideia surgiu após uma reunião com o embaixador de São Tomé e Príncipe em Lisboa, António Quintas, em que participaram cerca de três dezenas de músicos, intérpretes e cantores, segundo explicou à agência Lusa Tonecas Prazeres, que lidera uma comissão de quatro pessoas que vai preparar o lançamento da associação.

Em Portugal, "ouve-se pouca música são-tomense, só se ouve nos bairros periféricos onde está a comunidade. Dificilmente há espetáculos de um músico são-tomense em salas de relevo", considerou.

Para Tonecas Prazeres, na origem deste estado de coisas estão "a falta de produção discográfica de qualidade, de formação e de encaminhamento e agenciamento dos artistas. Quase não se ouve música são-tomense de raiz", disse.

"Num ano, há 20 cantores cabo-verdianos que lançam [discos], 20 angolanos, 10 moçambicanos e dois são-tomenses", adiantou, notando que, por causa disso, há também menos música são-tomense a passar nas rádios.

"A radio vive muito do 'prime' e se as coisas não são novas, passam menos", acrescentou, sublinhando, por outro lado, os investimentos feitos por Angola e Cabo Verde na promoção do semba e da morna, respetivamente.

Segundo o músico, "Angola fez, desde o início dos anos 2000, um esforço e um investimento enormes para levantar o semba que se ouve agora", assinalou.

A morna foi classificada, em dezembro, como Património Imaterial da UNESCO.

Um esforço que Tonecas Prazeres gostaria de ver também da parte de São Tomé e Príncipe, nomeadamente em relação à rumba, o ritmo que considera melhor identificar musicalmente o país.

Para já, há a ideia de fazer uma noite de rumba numa sala emblemática em Lisboa, mas os constrangimentos financeiros e técnicos podem tornar-se um obstáculo ao projeto.

"Não temos uma produtora que possa suportar a preparação da gala, a embaixada [de São Tomé e Príncipe] também não tem condições e, por isso, acabamos por ficar sempre na margem das coisas mais baratas, nos bairros onde está a comunidade e muitas vezes [com espetáculos] de borla", disse.

Tonecas Prazeres sustentou que há ainda "um conjunto de coisas para serem trabalhadas", admitindo que "vai demorar algum tempo" até a música são-tomense se afirmar, mas acredita que a futura associação de músicos são-tomenses pode ser "um primeiro passo" para promover a divulgação de estilos tipicamente são-tomenses como o socopé, rumba, a ússua ou a dêxa.

"Se estivermos bem organizados, uma associação pode criar vários eventos, pode pedir apoios para cumprir com um plano de atividades [...] que pode passar pela gravação de músicas de alguns artistas ou pela criação de um espaço para dar aulas de música", exemplificou.

De momento, o músico apontou como prioritária a criação de uma base de dados de músicos são-tomenses em Portugal, onde, segundo disse, mais de 80% não são profissionais e têm outro emprego além da música.

Nascido na ilha do Príncipe, em 1963, e a viver, desde 1984, em Portugal, para onde se mudou para estudar engenharia civil, Tonecas Prazeres é um dos músicos são-tomenses mais reconhecidos em Portugal.

O compositor, cantor e guitarrista tem atualmente em curso um trabalho de "resgate" nos seus concertos de alguns "cotas" da música são-tomense, pessoas que fizeram grande sucesso no passado, juntando-os com talentos que estão agora a despontar.

"Para que essa geração, que já está na fronteira da reforma, dê o último suspiro da sua criatividade e deixe o seu legado", disse.

Como exemplo, indicou o concerto em que participou com Anastácia Carvalho, que integrou o elenco artístico de Madonna, e com o músico e escritor Felício Mendes, que apelidou de "seu maestro".

"São artistas de outra geração que fizeram grandes trabalhos na música de São Tomé e Príncipe e que era preciso aparecerem também para ajudar a combater o tipo de música que a juventude faz hoje, música de ninguém e sem a identidade do país", concluiu.

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