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O melhor dos MAU voltou às plataformas. Aos palcos? "Neste momento, não"

O pop eletrónico estratosférico de ‘Safari Entrepeneur’, dos portugueses MAU, regressou às plataformas digitais de música na passada sexta-feira, numa edição alargada com temas inéditos e remisturas.

O melhor dos MAU voltou às plataformas. Aos palcos? "Neste momento, não"
Notícias ao Minuto

09:20 - 20/01/20 por Anabela Sousa Dantas

Cultura MAU

Os portugueses MAU (Man and Unable) decidiram reeditar o último álbum lançado antes do anúncio do término da banda, em 2015, e numa versão alargada, um presente de Natal tardio, para os fãs, decidido em conjunto num momento de reencontro dos seus elementos - Luís Fonseca de Sousa, Nuno Lamy, Eliana, Carlos Costa e Paulo Silva.

Foi assim que ‘Safari Entrepeneur’ (2014) regressou às plataformas de streaming de música, na passada sexta-feira, numa “reedição com 30 músicas, entre remisturas, temas bónus que ficaram fora do disco, músicas em modo demo e mais algumas inacabadas”, conforme se pode ler no comunicado enviado às redações.

O relançamento não vem acompanhado de nenhum esforço promocional, servindo apenas o propósito de “corrigir o erro” que foi retirar dessas mesmas plataformas os dois últimos trabalhos da banda, conforme indica ao Notícias ao Minuto o vocalista e compositor dos MAU, Luís Fonseca de Sousa.

Com quatro álbuns lançados, só os últimos dois - ‘Backseat Love Songs’ e ‘Safari Entrepeneur’ - foram lançados à margem de grandes editoras e são esses mesmo que Luís descreve como “os melhores”, planeando devolvê-los à audição on demand. Primeiro um, depois, talvez, o outro.

Numa altura em que os artistas começam a abrir espaço público para reclamar a sua esfera pessoal, num meio que evoluiu demasiado rápido na sua impessoalidade, Luís Fonseca de Sousa não tem receio de dizer que não volta aos palcos por não querer – ainda que as músicas o merecessem.

Continuo a não gostar de tocar ao vivo, continuo a não conseguir viver da música e o desgaste emocional e de tempo continua a não justificar um compromissoEscreveram nas redes sociais que decidiram reeditar o ‘Safari Entrepeneur’ depois de um jantar bem regado. É um caso de nostalgia reprimida ou o “hiato” poderá parecer menos “indeterminado”?

O “hiato” assemelha-se cada vez mais a um final definitivo. Só não digo 100% definitivo porque não quero morder a língua daqui a um par de anos… Quanto à nostalgia, apesar de não ser nada saudosista na música, mesmo no que diz respeito à que é feita por mim, confesso que o encontro natalício e o entusiasmo dos meus parceiros de banda me fez voltar a ouvir o disco. E voltei a ter a mesma certeza que tive há anos anos quando saiu, o disco é realmente bom. Não me chateia nada ser imodesto neste caso. Sou sempre estupidamente crítico em tudo o que faço, mas este 'Safari Entrepreneur' deixa-me com uma sensação de orgulho muito tranquilizadora, mesmo que não tenha chegado a muita gente. E hoje, passados seis anos, não o sinto nada datado. Acho que está mais atual do que nunca. Sou incapaz de ouvir muita coisa que fizemos no início dos MAU, por exemplo. São coisas que envelheceram pessimamente. Este não. Este, em 2020, está no ponto. 

Volvidos quase cinco anos, mudou alguma coisa nas razões que vos levaram a fazer um intervalo na banda?

Não, nada. O meu projeto a solo que se seguiu, Mira, un Lobo!, veio confirmar as mesmas conclusões que já tinha com MAU. Continuo a não gostar de tocar ao vivo, continuo a não conseguir viver da música e o desgaste emocional e de tempo continua a não justificar um compromisso ou um vínculo permanente a uma banda. Desde aí tenho preferido emprestar a minha criatividade a outras áreas que me sustentam realmente financeiramente e que me permitem ter uma vida mais estável com a minha família. A música vai-se fazendo, mas cada vez mais de uma forma mais egoísta. Só para mostrar à família e amigos. 

Disseste que decidiste retirar os últimos dois discos das plataformas digitais de música, na altura, "por pirraça". Porquê?

Uma mistura de pirraça e negligência. E a culpa é inteiramente minha. Decidi que não ia gastar mais dinheiro nenhum com a banda e nem o aviso de renovação de permanência dos discos nas plataformas digitais (Spotify, iTunes, etc) me fez mudar de ideias. Achei que, tal como eu, ninguém ia querer saber. Não estive bem. O disco, tal como os restantes elementos dos MAU (produtores incluídos), mereciam mais respeito da minha parte. Uma forma de respeitar o trabalho de toda essa gente era manter esses discos online. Estou agora a começar a corrigir o erro. 

Porquê só o ‘Safari Entrepeneur’?

Na realidade, os dois primeiros discos, por estarem associados editoras major, nunca saíram dessas plataformas de stream. Continuam lá. Os últimos dois, na minha opinião os melhores, que foram edições de autor, é que saíram. O último acabou de voltar e há planos para devolver o terceiro, o 'Backseat Love Songs', também em versão alargada, aos Spotify desta vida. 

Antes do anúncio do intervalo indeterminado dos MAU ainda abraçaste um outro projetoMira, Un Lobo!. Foi uma aventura de um só disco para fazer face à impaciência e saturação de que falavas ou ainda não está totalmente arrumado?

Está completamente arrumado. Aquele disco foi o meu psicólogo na fase mais negra da minha vida. Despejei tudo ali e fui profundamente ajudado por ele. Não só pela música, mas por tudo o que me trouxe. Mas era um projecto de disco único. Voltar lá seria um erro e um perigo para a minha estabilidade emocional. Esse não corre o risco de sair das plataformas de stream, que está a ser muito bem tratado pela editora alemã Tapete Records. 

O problema sou eu. Eu sofro realmente com toda a ansiedade que a ideia de um novo espectáculo me provocaNa perspetiva de uma pessoa que trabalhou mais de uma década dentro da indústria musical, julgas existir alguma espécie de obstáculo para o impulso de música nova (ou menos alinhada com o mainstream) no panorama português?

O trabalhar é relativo. Nunca senti como trabalho no sentido profissional do termo, nem nunca senti que tivéssemos mesmo entrado na industria musical. É um facto que no início assinámos por uma major, mas, nessa fase, talvez por muita imprudência e por termos uma noção demasiado romantizada das coisas, fechámos muitas portas importantes por impulso. Nunca fizemos parte do “clube”. 

O maior obstáculo que encontro na panorama musical português é mesmo a nossa dimensão. O nosso mercado é muito pequenino para um artista mainstream, quanto mais para quem faz música que se destina a nichos muito específicos. A net e a blogosfera pode esbater essa limitação, mas não é fácil. Nós fizemos uso disso nos últimos dois discos, tivemos bastante atenção da blogosfera internacional, tivemos músicas em publicidade importante no estrangeiro, entre outras coisas que muito nos orgulham, mas todas essas pequenas vitórias não fizeram realmente a diferença e nunca nos permitiram dar o salto. 

É muito difícil, mas não é impossível. Temos alguns exemplos (muito poucos) em Portugal que conseguiram. 

Continuas envolvido em projetos relacionados com música?

Não. Só pequenas composições que não saem das paredes de minha casa. 

É possível voltar a ver os MAU ao vivo de novo?

Há mesmo muita vontade por parte do Lamy, da Eli, do Paulo e do Carlos, a última formação dos MAU, para voltar a tocar ao vivo, nem que fosse fazer um ou dois espectáculos para amigos. O problema sou eu. Eu sofro realmente com toda a ansiedade que a ideia de um novo espectáculo me provoca. Esse receio tira-me toda a vontade, porque sinto sempre que nunca compensa, por melhor que corra o concerto. Já foi mais difícil de acontecer, mas se tivesse de dar uma resposta neste momento diria que não, que não vamos voltar aos palcos. Mas uma coisa é certa, as músicas deste último disco e os 18 temas bónus que enchem esta reedição Deluxe mereciam ser tocados ao vivo. Até porque a larga maioria dessas composições inéditas nunca foi testada em palco. 

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