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Museólogos portugueses dizem que nova definição de museu "é política"

Museólogos reunidos hoje em Lisboa consideram que a nova definição universal de museu, que causou polémica este ano, "é política" e deve incluir valores como a justiça social, os direitos humanos, a educação e a igualdade.

Museólogos portugueses dizem que nova definição de museu "é política"
Notícias ao Minuto

15:26 - 11/11/19 por Lusa

Cultura Museus

Estas posições foram manifestadas no encontro 'Afinal, o que é um Museu?', organizado pela Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Museus (ICOM-Portugal), no âmbito dos seus Encontros de Outono, e decorreu durante a manhã no Palácio Nacional da Ajuda.

Perante mais de uma centena de museólogos, responsáveis de museus e estudantes, José Alberto Ribeiro, presidente do ICOM-Portugal, disse que "a definição de museu tem contornos políticos muito importantes" e que a nova proposta, debatida, no Japão, em setembro deste ano, na Assembleia Geral, que acontece de três em três anos, "é sobretudo uma visão e um texto muito politicamente correto e vago".

A proposta, apresentada pela presidência do ICOM-Mundial, liderada por Suay Aksoy, introduz novos conceitos, nomeadamente de "dignidade", "transparência", "inclusivo", e "igualdade", que vão para além do modelo vigente, com mais de cinco décadas, muito mais resumida.

Como mais de metade dos membros do ICOM decidiu, em Quioto, adiar a votação desta polémica definição de museu, ficou decidido que cada comité nacional promovesse debates para atingir um consenso.

Um dos elementos que provocaram divisão foi a inclusão da ideia de que "os museus são espaços democratizantes", sobre a qual José Alberto Ribeiro alertou que "pode colocar em causa instituições de países que não são democracias".

O responsável disse ainda que, no debate, na Assembleia Geral, "revelaram-se as diferentes realidades mundiais dos museus, dependendo do continente onde estão ativas".

José Alberto Ribeiro defendeu que a nova definição "não deve existir para normalizar, mas para unir" os profissionais do setor de todo o mundo.

Também advogou que qualquer definição "deve poder ser incluída na legislação de cada país, o que seria catastrófico que não acontecesse".

O responsável disse que países como o Canadá e os Estados Unidos estavam a favor da nova definição, enquanto muitos países europeus, incluindo Portugal, mas também a França, a Alemanha, a Espanha, ou, de outras regiões, Israel e o Irão, se opuseram.

Por seu turno, Joana Sousa Monteiro, diretora do Museu de Lisboa, sublinhou que a reunião de Quioto "foi histórica e a mais participada de sempre, e a par dos outros participantes, nomeadamente Luís Raposo, presidente do ICOM-Europa, e Mário Antas, do Museu Nacional de Arqueologia, sublinhou a necessidade de que a nova definição seja atualizada, mas que inclua conceitos essenciais, como a defesa dos valores, nomeadamente os direitos humanos, a igualdade, inclusão, acessibilidades, a descolonização do discurso e a justiça social.

"Os museus não são neutros nem podem ser neutros. Mas também não devem ser ativistas", defendeu Joana Sousa Monteiro.

Por seu turno, Mário Antas recordou que o ICOM, instituição que tem a chancela da UNESCO e existe há 74 anos, já teve oito definições de museu, "mas o seu essencial deve ser mantido, nomeadamente que sejam instituições permanentes e não projetos temporários".

Antas considerou que esta discussão "é complexa, mas também é um momento histórico, e uma enorme oportunidade, já que a museologia tem vindo a evoluir bastante, e há realidades muito diferentes, umas mais comerciais, e outras mais ligadas à comunidade".

Luís Raposo, presidente do ICOM-Europa - que tomou a iniciativa de propor o adiamento da votação para daqui a três anos, na próxima reunião, em Paris -, tem a opinião que "a nova definição deve continuar a centrar-se na missão primordial dos museus, de conservar o património, promover o seu estudo e divulgá-lo, com um envolvimento social crescente".

Depois das introduções destes responsáveis, os participantes do encontro criaram mesas de trabalho que deverão resultar em propostas que o ICOM-Portugal vai reunir num único documento a apresentar no início do próximo ano.

A nova definição de museu surgiu da iniciativa da atual presidente do ICOM Mundial, a museóloga turca Suay Aksoy, que, depois de tomar posse, criou um grupo de trabalho com o objetivo de pensar em perspetivas do futuro dos museus, ao nível do pensamento estratégico.

Suay Aksoy defendeu, em Quioto, que "é responsabilidade do ICOM estar atento aos desenvolvimentos sociais, políticos e económicos, e ter em consideração os muitos desafios atuais e futuros dos museus".

A atual definição de museu, que data dos anos 1970, diz que "o museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite".

Em Quioto, os mais de cinco mil participantes aprovaram um conjunto de resoluções que, entre outras, passam pela defesa da sustentabilidade do planeta, acompanhar a integração da Ásia na entidade, e promover a segurança do património mundial.

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