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'Reinar depois de morrer', a viagem mística sobre Inês de Castro

Uma "viagem mística" é como o encenador de 'Reinar depois de morrer' define a peça do dramaturgo espanhol Luis Vélez de Guevara (1579-1644) que tem estreia absoluta em Portugal, na sexta-feira, no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada.

'Reinar depois de morrer', a viagem mística sobre Inês de Castro
Notícias ao Minuto

14:31 - 24/10/19 por Lusa

Cultura Teatro

Uma "viagem mística de uma personagem como Inês de Castro que pensa que a transcendência na vida é mais importante do que a própria vida", afirmou o encenador Ignacio García em entrevista à agência Lusa a propósito do espetáculo que põe em cena "uma das mais lendárias" histórias de amor de Portugal, a de D. Pedro e D. Inês de Castro.

Coproduzida pelas companhias de Teatro de Almada (CTA) e Nacional de Teatro Clássico (Madrid), a peça terá também uma versão em espanhol com atores locais e encenação de Ignacio García, um divulgador do repertório do chamado "Século de Ouro" espanhol.

A versão portuguesa estará em cena no Teatro Municipal Joaquim Benite, até 17 de novembro, e a espanhola na sede daquela companhia, o Teatro da Comédia, em Madrid, onde se estreará em 10 de janeiro de 2020 e permanecerá em cartaz até 09 de fevereiro.

Em 27 de janeiro de 2020, aquela sala madrilena acolherá uma sessão da versão portuguesa que se estreia agora em Almada, com uma tradução "esplêndida" de Nuno Júdice, nas palavras de Igacio García, a partir da versão dramatúrgica de José Gabriel Antuñano.

'Reinar depois de morrer' marca o regresso dos dois criadores espanhóis a Almada, depois de, em 2017, terem posto em palco "História do cerco de Lisboa", a partir da obra homónima de José Saramago.

Estreada na 34.ª edição do Festival de Teatro da cidade, tratou-se de uma coprodução das companhias de teatro de Almada (CTA), ACTA (Algarve), Braga (CTB) e Teatro dos Aloés (Amadora).

Um regresso que deixa Ignacio García "muito feliz", admitiu, e que o faria ficar "ainda mais feliz" se, em 2020, conseguisse levar as duas versões da peça ao Festival Internacional de Teatro Clássico de Almagro, que decorre em julho, naquela cidade espanhola, e do qual é diretor.

Mas ainda é cedo para avançar mais pormenores, ressalvou.

'Reinar depois de morrer' surge também na sequência do "sonho ibérico" de que falava Saramago, conferindo ao projeto hispano-português um "vínculo institucional, artístico e de atores" entre os dois países, explicou.

Escrito em 1635, no mesmo ano em que o poeta e dramaturgo Calderón de la Barca escreveu "A vida é sonho", esta peça, ainda que "seja de temática portuguesa [...] é uma lenda de claras influências espanholas, porque tanto Blanca de Navarra como Inês de Castro são personagens espanholas [duas das personagens da peça] ", frisou o encenador.

Um "texto precioso, de uma elevação poética enorme e com uma grande reflexão sobre o amor, a justiça e o poder" e "necessário ao mundo atual que, às vezes, é muito vulgar, muito superficial e muito banal", observou.

E as obras do "Século de Ouro" espanhol, período que vai do Renascimento do século XVI até ao período Barroco do século XVII e que são um dos temas privilegiados do trabalho do encenador, "não são banais [...], refletem sobre a profundidade do ser humano de uma maneira formosa e profunda".

"Vão aos abismos da alma", precisou.

Para o encenador, outro dos atrativos do texto reside no facto de "os mecanismos de poder, a capacidade que o poder tem de aniquilar, de destruir um ser humano serem exatamente os mesmos, hoje, que no tempo de Inês de Castro".

A história de amor de Pedro e Inês, à qual se opôs uma razão de Estado, mantém-se atual pelos temas que trata: justiça, dignidade e compaixão.

"O que faz um rei ser rei é que seja mais compassivo que os demais, que seja melhor que os demais seres humanos. Se não é melhor que os demais seres humanos, não merece ser rei", precisou.

Um princípio que, para Ignacio García, continua atual, numa altura em que "o exercício do poder se baseia mais na força".

O exercício do poder "baseia-se no serviço, na generosidade, na exemplaridade. Se como rei não mereces ser rei, se como governante não estás a fazer o que é correto, então não tens legitimidade [para exercer o poder]".

Esta é outra das lições da obra de Luis Velez de Guevara, que foi publicada, pela primeira vez em Portugal, em 1652, em castelhano, no âmbito de uma coleção intitulada "Comedias de los mejores y más insignes poetas de España", segundo a CTA.

"O facto de Inês de Castro estar convicta de que estava a proceder de forma correta, preferindo ser a rainha infeliz do que renunciar ao matrimónio, não cedendo à sua dignidade, foi o que a fez reinar depois de morrer", argumentou o encenador.

Foi "pelos seus atos e não pela herança de sangue" que Inês de Castro "continua hoje a ser conhecida e, de alguma forma, continua a ser rainha". É isso que "ainda hoje lhe confere legitimidade como rainha", enfatizou.

Protagonizado por José Neves (D. Pedro), ator cedido pelo Teatro Nacional D. Maria II, Margarida Vila Nova (D. Inês) e João Lagarto (rei D. Afonso), "Reinar depois de morrer" conta ainda com interpretação de Ana Cris, David Pereira Bastos, Leonor Alecrim, Maria Frade e Pedro Walter. Como filhos de Pedro e Inês estão as crianças Diogo Moura e Gonçalo Saraiva.

O cenário é de José Manuel Castanheira, os figurinos de Ana Paula Rocha e o desenho de luz de Guilherme Frazão.

Com hora e meia de duração, a peça pode ser vista na sala principal do Teatro Joaquim Benite, de quinta-feira a sábado, às 21h00, e às quartas-feiras e domingos, às 16h00.

Inserida na Mostra Espanha 2019, "Reinar depois de morrer" será também tema das habituais 'Conversas com o público', todos os sábados às 18h00, enquanto está em cartaz.

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