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David Bruno alia "bonito e foleiro" no novo álbum 'Miramar Confidencial'

'Miramar Confidencial' é o mais recente álbum de David Bruno, o músico gaiense que cria "realidades paralelas", constrói universos para balançar o "bonito e o foleiro" de Vila Nova de Gaia e saúda o "tempo das vacas gordas".

David Bruno alia "bonito e foleiro" no novo álbum 'Miramar Confidencial'
Notícias ao Minuto

14:15 - 09/10/19 por Lusa

Cultura David Bruno

Depois do desgosto romântico relatado em 'O último tango em Mafamude', de 2018, o artista regressou aos vídeo-álbuns, desta vez num recuo até à década de 1980, para contar a história de um jovem empreiteiro que começava a dar os primeiros passos na carreira.

Em Miramar, David Bruno explicou à Lusa que a inspiração para o novo trabalho surgiu da mudança de emprego que o levou para essa zona, numa altura em que começaram a aparecer inscrições na parede nas quais se liam "Adriano Malheiro caloteiro" ou "casal Malheiro caloteiros", tendo inclusivamente tentado chegar ao contacto com a pessoa em causa.

"Para bem ou mal, a resposta dele foi 'não passar cartão' e disse-me: 'o assunto foi entregue às autoridades competentes, mas se precisar de trabalhos de construção fale comigo'. Como tenho uma imaginação fértil e passava todos os dias pelos murais, inventei uma história numa realidade paralela, passada nesta zona, que eu conheço dos anos 1980 e a sua evolução. Imaginei a história ao longo destes anos que culminou nestes murais, de um jovem empreiteiro que fez estas moradias de luxo", contou.

Apesar do obstáculo, garantiu que não precisa de conhecer Adriano Malheiro para saber quem é, definindo-o como "a personagem-tipo da zona" que sempre trabalhou por conta própria, admitindo que o "fascínio não é sobre a pessoa, é sobre o estilo da pessoa que existe" em Vila Nova de Gaia.

"Como tem uma história inspirada pelos maus filmes de ação dos anos 1990 e tendo em conta o sítio onde estamos, o formato DVD assentava que nem uma luva. Não me preocupo com a edição física ser um meio de ouvir a música porque hoje está em todo o lado, mas sim como uma peça de coleção. Daí arriscar nos formatos pouco convencionais para que as pessoas tenham uma peça que seja fácil de associar à história do álbum e a possam guardar", indicou.

Sobre os concertos de apresentação do álbum, em Lisboa, na sexta-feira, e no Porto, dia 25, o gaiense explicou que apostou mais na parte cénica com projeção de vídeo e luzes, para os "transformar num espetáculo ainda mais foleiro e na onda do artista 'pop' romântico da época".

"Tem de ser exagerado. Uma coisa retratada neste disco é que [na altura] não existiam limites, nem o conceito de noção. Nos filmes, o artista podia estar a cair de um avião e acender um cigarro, ou sair de uma explosão com um gatinho ao colo. Hoje em dia só podias fazer isso nas comédias, na altura não. É pôr o espetáculo ao vivo dentro desse estilo", acrescentou.

O músico confessou ter um "fascínio" por esses "tempos de grandes excessos" e admirar a "liberdade criativa e o conceito de não haver noção", um reflexo do que acontecia na altura em Portugal, acabado de entrar na Comunidade Económica Europeia.

"Havia muitos excessos e falta de gosto e resulta tudo numa coisa espetacular que está dentro do espírito do meu trabalho. Já me chamaram isso e não sei se existe, o 'luso-kitsch', eu acho que essa época foi a dourada para o 'kitsch' português, daí inspirar-me tanto nessas épocas para contar as minhas histórias", prosseguiu.

Apesar de referências a políticos corruptos portugueses ser um apanágio de David Bruno, o mesmo rejeitou ter "fascínio por uma pessoa que prejudica" todos, mas acha "piada à falta de noção" que esses políticos tinham e que "hoje em dia está a morrer um pouco".

"Eu acho piada à lata desmedida dessas pessoas, de mentirem com os dentes todos. Tento usar isso ao vivo porque David Bruno é uma personagem. Em Corona sou o 4400 OG, um 'guna' de Gaia, e David Bruno é o mais parecido comigo. É uma espécie de jovem Valentim Loureiro da zona de Gaia que faz o que é preciso para se safar e tem lata", revelou.

Apesar do amor proclamado a Vila Nova de Gaia nos dois discos, as personagens veem-se obrigadas a abandonar a zona do final de cada história, o primeiro por uma questão de amor, o último por causa das dívidas, mas o carinho dado à cidade é real e vem de David Bruno.

"Mostro carinho porque é a zona onde nasci e cresci e sobre a qual posso falar com propriedade. Posso fazer um disco sobre Gaia e brincar com as pessoas sem que fiquem ofendidas porque também sou daqui. No fundo, estou a brincar comigo próprio e sei do que estou a falar. Os protagonistas dos discos têm de fugir porque a vida não é fácil, é preciso lidar e às vezes é preciso fazer coisas que custam", gracejou.

Sobre o futuro, o músico vê Vila Nova de Gaia como uma fonte de inspiração com "muito potencial", recordando que tem a "mesma população que a Islândia e uma diversidade de paisagens" e estados de espírito, mas sublinhou não ter nada planeado.

"O que acontece é que, como moro aqui, acabam sempre por me aparecer à frente dos olhos alguns fenómenos ou alguma coisa que me põe a imaginação a funcionar e faz criar uma história. Acho que vai haver matéria-prima para sempre", concluiu.

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