Rui Reisinho, da tabela de letras ao DJ que "fala" com o público
Rui Reisinho comunica através de uma tabela de letras e números, um dos recursos com o qual contorna a impossibilidade de falar por ter paralisia cerebral, o outro é a música, que fez dele o DJ ET.
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Cultura Paralisia Cerebral
Numa entrevista à Lusa, que foi primeiro respondida por escrito e depois lida pelo colaborador Rui Barbosa da Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC), o DJ ET relatou uma vida cheia de luta e de projetos e de como aos 42 anos se recusa a deixar de sonhar.
Sublinhando que "pôr música para os outros" o ajuda "a animar e a colorir" a própria vida, interpreta-o como uma "forma de dialogar" com quem está nos locais onde atua, no Grande Porto, e dos quais destacou "já ter perdido a conta".
Luís Carvalho, proprietário do Marbelo Praia bar, em Espinho, onde "várias vezes por ano durante o verão", o DJ ('disc-jockey') ET atua, relatou à Lusa a evolução de "uma parceria ótima" que começou numa oferta de amigos.
"Isto aconteceu porque um grupo de amigos meus e do Rui juntaram-se e oferecemos-lhe um computador portátil, com um rato especial, e desde aí que ele tem desenvolvido capacidades extraordinárias para pôr música. Ele não só tem muito jeito (...) põe música como se fosse uma pessoa normal", contou o proprietário.
Assumindo ter sido uma "surpresa" a "resposta do Rui Reisinho", porque "não imaginava que fosse capaz de pôr música", contou que ele atua "também noutros sítios" e é também de surpresa e de satisfação que Luís Carvalho fala quando descreve a reação dos clientes do bar.
"Alguns não se apercebem numa primeira fase, mas ficam surpreendidos quando veem o Rui, com as incapacidades que ele tem, e reagem de uma forma muito positiva, o que é motivador para todos nós", disse.
Rui explica a escolha do nome ET (extraterrestre) para a sua versão DJ à luz do "humor" que gosta de emprestar às coisas que faz: "porque sou um ser do outro mundo (...). Gosto de gozar comigo e admito que, para algumas pessoas, possa parecer um ET. O DJ ET é um DJ muito torto que dá música a todos aqueles que são direitos".
Fã da banda britânica de rock Pink Floyd, Rui situa as suas preferências musicais na década de 1980, mas Luís Carvalho descreve o seu gosto como "muito transversal".
"Ele tanto passa música dos anos 80 como atual (...). Consegue ter uma perceção muito boa do ambiente e adapta o estilo de música ao ambiente que está. Sabe progredir ao longo da noite para cativar toda a assistência", relatou o amigo do DJ.
Bailarino, designer, ex-desportista (de boccia), Rui Reisinho "recusa-se a estar parado" e a perseverança com que luta pelo que quer fez com que, recentemente, tenha voltado a ter "emprego a tempo inteiro", numa empresa de Valbom, no concelho de Gondomar, "trabalhando na área da edição eletrónica, produzindo conteúdos multimédia".
"Dentro das limitações que tem, ele é autónomo" e também "atuou e continua a atuar", enquanto DJ, noutros locais do Grande Porto, explicou o colaborador da APPC.
Especificando que, enquanto 'disc-jockey' "não tem grandes sonhos", como pessoa não se priva e quer, "talvez quando fizer 50 anos, realizar um filme sobre a sua vida".
"Acho que tenho qualidades, conhecimento e experiência multimédia para ser produtor, ator e realizador", argumentou.
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