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Arquivo sonoro já tem plano estratégico e vai colmatar lacuna de 40 anos

Um Arquivo Nacional do Som, que permita arquivar o património sonoro de Portugal, tem a partir de hoje as bases lançadas, com a apresentação do plano estratégico para a sua instalação, colmatando uma lacuna com mais de 40 anos.

Arquivo sonoro já tem plano estratégico e vai colmatar lacuna de 40 anos
Notícias ao Minuto

18:00 - 09/09/19 por Lusa

Cultura Graça Fonseca

"É um projeto que se discute há pelo menos 40 anos, a criação desta estrutura", afirmou à Lusa a ministra da Cultura, Graça Fonseca, destacando que passará a ser possível a integração de Portugal (m dos poucos países da Europa que não tinha ainda um arquivo de som), na rede europeia internacional de instituições homólogas, que tem como missão garantir o património sonoro nacional.

Este é um dos pontos do plano estratégico que foi hoje apresentado no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa.

Este plano estratégico vai focar-se no enquadramento jurídico do arquivo sonoro nacional e na sua estrutura técnica e tecnológica, atendendo a que o que está em causa são fundamentalmente fonogramas, ou seja, conteúdos áudio.

Esses conteúdos áudio são tão diversos como "a voz do Joaquim Furtado com a declaração do Movimento das Forças Armadas, no dia 25 de Abril de 1974", ou "uma gravação de 2019 dos ruídos da cidade", exemplificou a ministra.

"O arquivo sonoro é uma estrutura que tem uma dimensão tecnológica para conseguir arquivar, preservar e disponibilizar aquilo que é o património sonoro, os arquivos áudio, e que vai permitir para o futuro a utilização, a investigação, sobre aquilo que é o nosso património histórico", acrescentou.

Usando como referência o filme "A Herdade", que se estreia na próxima semana em Portugal, e que foi distinguido em Veneza, Graça Fonseca lembra que esta obra cinematográfica utiliza vários arquivos sonoros da RTP, que permitem aproximar o espetador da ação.

"Se as pessoas forem ver o filme, vão perceber que há uma cena que utiliza um arquivo áudio do dia 25 de Abril e que nos transporta, de uma forma que não seria possível se não estivéssemos a ouvir o original, para o que terá sido a madrugada do 25 de Abril".

Por isso, considera "absolutamente fundamental" a existência desta estrutura do arquivo sonoro para assegurar a preservação dos originais, para que "sejam depois incorporados numa estrutura física com forte componente tecnológica, que permita serem conhecidos, utilizados e que sobre eles também possa haver novas linhas científicas de investigação, que permitam olhar para a nossa própria história de uma forma bastante diferente daquela que seria se não tivéssemos este arquivo histórico", disse à Lusa.

Um dos pontos fundamentais do plano estratégico será estabelecer prioridades, ou seja, identificar as instituições com as quais se vai trabalhar ao longo dos tempos, das mais decisivas, públicas e privadas.

É o caso do arquivo da RTP, mas também do Museu de Etnologia, "que tem um acervo importante de fonogramas", ou do Museu do Fado" (o próprio museu fez este trabalho quando foi feita a candidatura do fado a património da humanidade).

"A ideia da equipa será definir o cronograma e as instituições parceiras prioritárias para fazer este trabalho, não numa lógica de se substituir às instituições que já fizeram o trabalho, mas numa lógica agregadora e com um padrão comum, técnico, para ter esse património preservado e de acesso universal às pessoas. A ideia aqui é trabalhar com todas as instituições, agregar trabalho, coordenar esforços e ter, dentro de uma lógica organizada e definida, o que é que é o património sonoro nacional", sublinhou.

Tratando-se de um projeto a longo prazo -- a equipa tem a missão a três anos, e neste tempo o que se vai definir é a instalação de todas as componentes, desde logo a física, ou seja a instalação de um espaço tecnológico -, é impossível estabelecer um orçamento, porque primeiro há que definir as características técnicas de laboratório e as infraestruturas tecnológicas, explicou Graça Fonseca à Lusa.

No entanto, adiantou que a tutela está já a trabalhar com a equipa "para identificar programas, nomeadamente comunitários, aos quais irão ser apresentadas candidaturas para receber o financiamento de parte deste projeto".

"Há uma parte de dimensão muito importante, mais de inovação e tecnologia, e queremos procurar aí ter as melhores soluções para o fazer, mas é um trabalho para fazer ao longo do próximo ano".

Graça Fonseca assumiu que a criação deste arquivo do som é um "projeto prioritário" para o Governo, já que "Portugal era dos poucos países da Europa que não tinha esta estrutura, apesar de a sua importância ser reconhecida há "pelo menos 40 anos".

"É um projeto deste Governo que fizemos muita questão de cumprir os passos todos e não terminar o mandato sem que estejam os passos todos dados para garantir que este trabalho não mais irá ficar adiado, e que Portugal vai ter o seu arquivo sonoro", salientou.

A equipa do Arquivo Nacional do Som é liderada pelo etnomusicólogo Pedro Félix, foi criada em fevereiro deste ano, e está a trabalhar desde março neste projeto, com a dupla participação dos ministérios da Ciência e da Cultura.

Posteriormente foi constituido o Conselho Consultivo, cuja estrutura - publicada em julho em Diário da República - compreende etnomusicólogo António Tilly, o responsável da Área de Conteúdos Rádio da Subdireção de Arquivo da RTP Eduardo Leite, o musicólogo Paulo Ferreira de Castro, a investigadora e diretora do Museu do Fado Sara Pereira e a professora catedrática de Etnomusicologia Salwa Castelo-Branco.

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