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Livro de Joachim Fest analisa fim do regime nazi

Joachim Fest, historiador alemão autor do livro 'No Bunker de Hitler', analisa os aspetos que levaram o ditador nazi a destruir a própria Alemanha mesmo sabendo que a guerra estava perdida.

Livro de Joachim Fest analisa fim do regime nazi
Notícias ao Minuto

11:40 - 24/07/19 por Lusa

Cultura Nazismo

"Diz-se que é no fim de uma vida ou de um fenómeno histórico que surgem à luz as verdadeiras forças motrizes que os determinam. Entre as perguntas feitas acerca da morte de Hitler, está a questão se ele se considerava fracassado quando, na tarde de 30 de abril de 1945, se matou com um tiro de pistola. A resposta não é tão evidente como pode parecer à primeira vista, e os observadores mais atentos duvidam", escreve Joachim Fest (1926-2006).

Na primeira parte do livro "No Bunker de Hitler", Joachim Fest descreve os últimos dias do ditador e da cúpula do regime nacional-socialista alemão com base em relatos, memórias e informações que o autor recebeu de familiares e amigos que viveram os acontecimentos finais do Terceiro Reich, cercados em Berlim pelo Exército Vermelho.

A partir dos factos que marcaram o fim da cúpula do nazismo o autor levanta a questão relacionada com a vontade de Adolf Hitler querer destruir a própria Alemanha arrastando a população civil para a morte, mesmo sabendo que não podia vencer a guerra que provocou em 1939.

Fest recorda a chamada "Ordem Nero", emitida no dia 19 de março de 1945, que pretendia criar um "deserto de civilização" através das medidas de destruição no território alemão.

"Todas as instalações militares, de transportes, da indústria e de abastecimento, assim como objetos ou materiais que o inimigo possa utilizar, imediatamente ou em tempo previsível para prosseguir a luta, devem ser destruídos", referia a ordem que incluía vários decretos "fanáticos" e sem qualquer "consideração especial pela população", como o fuzilamento dos civis que pretendessem render-se.

Para Fest não se podem entender estas ordens como uma última medida desesperada de defesa, devido à superioridade do inimigo que se aproximava da capital do Reich.

Pelo contrário, escreve o historiador e jornalista, as ordens tinham sido sempre o "primeiro e o preferido" método de Hitler porque, acrescenta, a intenção de destruir era simplesmente a expressão da sua voz mais autêntica.

"Já se tinha ouvido um hino de combate no começo do movimento [nazi], que prometia quebrar 'tudo em pedaços' mas depois com a conquista do poder, tinha sido calado pelos lemas de honra nacional, por protestos pela paz e, mais tarde, durante os primeiros anos da guerra, pelo barulho das fanfarras que precediam as notícias extraordinárias", escreve Joachim Fest.

Na exposição sobre a vontade de destruir, o investigador recorda que perto do final da guerra, no dia 27 de abril, nas últimas conversas havidas no 'bunker' da Chancelaria, Wilhem Mohnke, chefe das operações "Cidadela" e membro das SS, pediu a palavra e, dirigindo-se a Hitler, disse que o que os nazis queriam em 1933 não tinha sido conseguido totalmente: a destruição absoluta.

"O que realmente [Wilhem Mohnke] tinha dito, na sua qualidade de pretoriano radical do regime, era que, atrás de todas as máximas sobre a 'salvação do mundo' nunca passava despercebido o seguinte: a vontade ilimitada de destruição que constituía a autêntica verdade sobre Hitler e o seu séquito de conjurados", refere o livro.

Em março de 1945, um mês antes da queda de Berlim, Goebbels declarava em público um sentimento radical face à catástrofe, encenando a "derrota iminente como espetáculo de desmoronamento":

"Se nós nos afundarmos, todo o povo alemão irá afundar-se connosco, e será de tal maneira glorioso que, mesmo daqui a mil anos, a queda heróica dos alemães na história universal se encontrará em primeiro lugar", afirmou o ministro da propaganda que se suicidou com a mulher, depois de matar os sete filhos, no interior do 'bunker' de Berlim.

Fest nota também que sempre que se investiga com maior rigor o "legado de Hitler", ressalta o tom niilista que "dominava a totalidade das suas ideias" e que convertia sempre em mérito pessoal os choques "inesquecíveis que tinha causado", nunca se preocupando com as consequências.

Finalmente Fest ressalta como preocupação que todas as tentativas para atribuir a Hitler um papel específico em relação à época, ficam-se "por espaços vazios", que não chegaram a lado nenhum.

"O que arrastou, entusiasmou e fascinou a maioria das pessoas foi unicamente a pessoa de Hitler, por mais inquietante que isto possa parecer a muitos. A força indomável que o comandou a vida inteira foi a máxima pré-civilizacional da lei do mais forte. Só ela explica na sua totalidade aquilo que ele fazia passar como a sua conceção do mundo", conclui.

A rendição total da Alemanha nazi deu-se a 07 de maio de 1945, e o cessar fogo das hostilidades foi marcado para a meia-noite do dia 08 de maio, uma semana depois do suicídio do ditador, um período desnecessário que provocou "inúmeras vítimas".

A submissão e o "servilismo cego" dos altos oficiais nazis prolongaram os combates e "nenhum esteve disposto a içar a bandeira branca" até ao momento em que não tiveram mais opções.

O livro "No Bunker de Hitler -- Os últimos dias do Terceiro Reich", de Joachim Fest (Guerra e Paz, 196 páginas), inclui mapas da batalha de Berlim e foi lançado este mês em Portugal.

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