Artista Luedji Luna canta a mulher negra em estreia em Portugal
A cantora brasileira Luedji Luna, que se estreia esta semana em Portugal, considera que a mulher negra ainda vive com temor, mas também carrega séculos de "mecanismos de sobrevivência", como contou à agência Lusa.
© Luedji Luna/Facebook
Cultura Música
Luedji Luna, 32 anos, natural de Salvador da Bahia, está a cumprir a primeira digressão internacional, que inclui quatro datas em Portugal: quinta-feira no B.Leza (Lisboa), no sábado na Casa da Música (Porto), no dia 17 na estalagem Ponta do Sol (Madeira) e, no dia 19, no Festival Músicas do Mundo (Sines).
A razão de ser desta digressão é o álbum de estreia, 'Um corpo no mundo', de 2017, que a apresenta como uma das cantoras e compositoras da nova música afro-brasileira, plural e negra, que abarca o rock, a pop, o rap, o funk ou o samba.
Nas vésperas de atuar em Portugal, Luedji Luna contou, em entrevista à agência Lusa, que o álbum se inspirou na experiência pessoal de "êxodo de migrada" de Salvador da Bahia, onde nasceu em 1987, para São Paulo, onde vive. É uma história de diáspora e que nunca esquece a condição de mulher negra, sublinha.
Luedji Luna, cujo nome se inspira num livro do escritor angolano Pepetela, nasceu numa família com grande consciência ativista e numa região que é das marcadas pela presença de africanos. "Não é à toa que carrego essa nova. Desde pequena fui educada no sentido de mulher negra e onde se escolhem nomes aficanos para os filhos", contou à Lusa.
Influenciada por nomes como Milton Nascimento ou Lauren Hill, a cantora trocou a licenciatura de Direito pela música, escolhendo o caminho do ativismo pela arte para contrariar um "processo de apagamento das mulheres negras". Esse caminho faz-se pela música, mas também na participação em projetos como o Palavra Preta, uma mostra anual que reúne poetas e artistas negras.
"Enquanto mulher negra, vivo sempre sob o jugo da ditadura. É um temor que toda a pessoa negra vive. O temor é agora vivido com todos, mas não é o medo que me impede de cantar e de fazer o que eu faço. São mais de 400 anos de medo e entretanto [os afro-brasileiros] criaram mecanismos de sobrevivência", sublinhou a cantora.
É uma luta contra um mundo "racista e misógino", diz. No caso particular do Brasil, fala de "um contexto político bizarro", sob a presidência de Jair Bolsonaro.
"Vou continuar fazendo o que os meus antepassados fizeram. Com Bolsonaro ou sem Bolsonaro", garantiu Luedji Luna.
A propósito da estreia em Portugal, Luedji Luna admitiu ter alguma expectativa, por saber que existe "uma migração muito forte de brasileiros e africanos", e pela "proximidade histórica" entre Portugal e Brasil.
Embora essa "proximidade histórica" remeta para o tempo em que portugueses foram colonizadores e levaram escravos africanos para o outro lado do Atlântico, Luedji Luna considera que a História está por contar: "O papel do artista é te fazer pensar e cobrar uma reparação".
É a tudo isto que o álbum de estreia 'Um corpo no mundo' também faz referência, com uma sonoridade que a própria diz ser intencionalmente difícil de catalogar: "É sobre um não lugar, sobre uma crise identitária. Não é Brasil, não é África, não é a Bahia estereotipada. É uma música do mundo, da diáspora".
Luedji Luna continua a revelar as canções daquele disco de estreia, embora já tenha em mente um novo álbum, que ainda não está gravado, mas que deverá sair em 2020 e do qual sabe já o nome: "Bom mesmo é estar debaixo de água".
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