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Coleção Berardo tem "obras muito raras" da História da Arte do século XX

O curador e historiador de arte Pedro Lapa, ex-diretor do Museu Coleção Berardo, em Lisboa, afirmou hoje que a coleção do empresário cedida ao Estado "tem obras muito raras" da História da Arte do século XX.

Coleção Berardo tem "obras muito raras" da História da Arte do século XX
Notícias ao Minuto

17:53 - 24/05/19 por Lusa

Cultura Coleção Berardo

Contactado pela agência Lusa, o diretor artístico do museu durante seis anos e profundo conhecedor da coleção, garantiu que é "muito valiosa e muito importante para o país, porque reúne os desenvolvimentos artísticos no mundo ocidental no decurso do século XX".

A coleção, com 862 obras cedidas ao Estado desde 2006 pelo empresário e colecionador José Berardo para criar um museu em seu nome no Centro Cultural de Belém (CCB), tem, entre outras, obras raras de Jean Dubuffet, Joan Miró, Yves Klein e Piet Mondrian.

Portugal "nunca construiu nenhuma coleção de arte internacional, ao contrário do que foi acontecendo nos outros países europeus e Américas".

"Chegou ao final do século XX sem ter um efetivo museu de arte moderna", apontou o também antigo diretor do Museu de Arte Contemporânea - Museu do Chiado.

A criação do Museu Berardo, em 2007, na sequência de um acordo entre o Estado e o empresário madeirense José Berardo, "foi o colmatar dessa lacuna, e o seu objetivo foi exatamente esse, reportar os movimentos artísticos mais significativos" do século passado.

Pedro Lapa explicou à Lusa a origem da chamada Coleção Berardo: "Foi essencialmente adquirida entre 1994 e 1998, os anos mais significativos da constituição, que se seguiram a uma grande crise económica nos mercados, no final da década de 1980, com impacto também nos mercados de arte".

"Os ´stocks´ das galerias estavam repletos de grandes obras que não conseguiam vender", recordou o antigo diretor do museu.

Foi nessa altura que José Berardo comprou "obras absolutamente máximas da História da Arte do século XX, nalguns casos muito raras, de autores como Miró, Mondrian, Yves Klein, Dubufett, que são obras de grande valor, a par de muitas outras, que são mais comuns noutros museus, mas muito importantes para o contexto português, de artistas como Duchamp, Picasso ou Warhol".

Depois de alcançado o acordo com o Estado, a coleção foi avaliada em 316 milhões de euros pela leiloeira Christie´s, mas de 2006 para 2019 este mercado sofreu alterações significativas com a entrada de novos grandes compradores, enquadrou Pedro Lapa, que saiu do museu em 2017, ao fim de seis anos como diretor artístico daquele espaço.

Nessa altura, recordou, começaram a ser criadas grandes coleções no Médio Oriente, na China, e deu-se também uma retoma de colecionadores na Rússia.

"Isto veio aumentar a procura no mercado de arte a partir do final da primeira década deste século em diante", o que fez com que "os valores [das coleções] crescessem muito significativamente".

"A Coleção Berardo terá hoje um valor muito diferente", sublinhou.

Para o curador, esta coleção tem um interesse histórico especial para Portugal "porque não existe forma de a substituir".

"Houve muitas escolas que a puderam conhecer, ao longo de mais uma década, com a exposição pública" no CCB, apontou, acrescentando que "sem ela não temos nada" equivalente no país.

Sobre a atual ação executiva sobre José Berardo pela CGD, BCP e Novo Banco para cobrar 962 milhões de euros, que tem entre os seus objetivos aceder às obras de arte da Coleção Berardo, Pedro Lapa diz que é um problema que o ultrapassa: "Neste momento será uma questão com contornos políticos, económicos e financeiros muito complexos".

As obras de arte continuam em exposição no Museu Berardo, CCB, em Lisboa, no quadro de uma adenda ao acordo inicial que vigora até 2022, podendo ser renovado automaticamente se nenhuma das partes o denunciar.

"É um problema complexo dado os seus contornos, mas também motivado por uma profunda ausência por parte das entidades públicas de se preocuparem com a necessidade de construir um museu nacional que fizesse essa representação", considera Pedro Lapa.

O Museu do Chiado foi fundado em 1911 com o objetivo de criar um museu internacional de arte contemporânea, "mas, de facto nunca o foi, porque logo o seu segundo diretor, Columbano Bordalo Pinheiro, comprometeu essa possibilidade, e o contexto português de ditadura impediu também qualquer desenvolvimento nesse sentido".

Na opinião do ex-diretor daquele museu, trata-se de uma instituição museológica "estritamente nacional, que não representa o que se passou em termos internacionais".

Já o caso do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, "definiu os seus parâmetros a partir de 1968 para a sua coleção, portanto é voltado para o final do século XX, e nem funciona tanto como um museu, mas como um espaço de exposições temporárias, porque não tem uma exposição permanente com uma visão histórica".

Pedro Lapa considera que o Estado "perdeu uma boa oportunidade de aquisição no quadro do anterior protocolo, porque permitia a compra pelo valor inicial".

Mesmo assim, considera "fundamental que tenham em consideração o bem público e mantenham o acesso a uma coleção destas que é de grande relevância nacional e internacional".

O Museu Coleção Berardo recebeu até hoje cerca de sete milhões de visitantes, e está entre os cem mais visitados do mundo, segundo o The Art Newspaper, publicação internacional especializada em arte contemporânea.

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