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Laura Gibson em Espinho com concerto único sobre uso surreal na verdade

A cantora folk norte-americana Laura Gibson leva sábado ao Auditório de Espinho, no único concerto previsto em Portugal para apresentação do seu último álbum, histórias de perda contadas em registo surreal para melhor se aproximarem "da verdade".

Laura Gibson em Espinho com concerto único sobre uso surreal na verdade
Notícias ao Minuto

11:44 - 08/03/19 por Lusa

Cultura Música

É essa a visão da intérprete, instrumentista e compositora de Portland que, em outubro de 2018, reuniu no disco "Goners" vários temas sobre amor e perda, luto e a intimidade da tristeza partilhada - o que a artista assume estar relacionado com a morte do seu pai quando era ainda adolescente.

Tal como o disco, o concerto terá assim um tom intimista pontuado por histórias em registo de fábula, o que irá envolver figuras de fantasia, metamorfoses e metáforas cuja inspiração a artista diz ter retirado de passeios na natureza ou leituras de ficção com enredos estranhos.

"É o meu subconsciente, a minha mente sonhadora a trabalhar, e, no final, quando abordo o tema da perda, sinto que consigo chegar mais próximo da verdade usando imaginário surreal do que recorrendo ao realismo ou a uma confissão direta", explica hoje Laura Gibson em entrevista à Lusa.

A compositora dá exemplos: a referência a mulheres que se transformam em lobos "é sobre fazer as pazes com a parte animal de cada um e representa também um apelo às armas em nome das mulheres 'difíceis'"; homens que se metamorfoseiam em máquinas é sobre "a tecnologia, o futuro e a existência em autopiloto"; e cicatrizes como um canal para a memória "é sobre as vidas que se poderia ter tido, as que em tempos se viveram e a impossibilidade de se andar para trás no tempo".

Descrevendo-se como autora de "canções folk pensativas e por vezes estranhas", Laura Gibson completou recentemente um mestrado de Belas-Artes em Escrita e admite que isso lhe proporcionou novas ferramentas para a "busca por significado" que procura em cada um dos seus temas.

"Durante os dois anos do meu programa, li três livros por semana e fiquei imersa em linguagem e 'storytelling', o que certamente é bom para a escrita. Noto agora que tendo a usar objetos mais concretos nas minhas canções porque eles me ajudam a alicerçar ideias abstratas maiores, como o amor e a perda", revela.

Dessa aprendizagem resultaram composições como "I don't want your voice to move me", que, traduzível por "Não quero que a tua voz me mova", é a canção de que Laura Gibson mais gosta no seu último disco.

"Senti que me ajudou e que foi terapêutico escrevê-la. Há ali muita emoção pura, mas também muita reflexão e, ao fazer corresponder as palavras com o arranjo final, foi como obter uma rima interna, senti-me como que a resolver um puzzle", confessa.

Aos 39 anos de idade, Laura Gibson apresentar-se-á no Auditório de Espinho como compositora e cantora, executando também instrumentos como guitarra, piano elétrico e marxofone.

Depois de abordar em "Goners" tanta perda e tristeza, diz-se agora "em paz", por muito que reconheça que o abismo "está sempre presente", coabitando com a esperança.

"Para este disco permiti-me andar num território estranho e negro, e sinto que a minha capacidade de me expressar cresceu com essa viagem. Sou continuamente surpreendida pela capacidade humana para carregar a dor uns dos outros e é agora claro para mim que o desgosto não está amarrado ao tempo, embora continue a moldar-me", conclui.

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