Museu da Música é uma catástrofe e um absurdo, diz ex-ministro
O ex-ministro da Cultura José Sasportes disse à Lusa que a mudança do Museu Nacional da Música (MNM) em Mafra "é uma catástrofe", em reação ao anúncio da instalação no Palácio Nacional, feito em janeiro pelo Governo.
© Lusa
Cultura José Sasportes
"Mudar para Mafra é um absurdo, porque a bacia de audiência daquele museu não é a audiência de Mafra, e todas as pessoas que frequentavam o museu em Lisboa, não vão para Mafra", sustentou Sasportes, em declarações à agência Lusa.
O protocolo para a instalação do MNM na ala norte do Palácio Nacional de Mafra foi assinado no passado dia 31 de janeiro, entre a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e a câmara de Mafra, no âmbito de uma estratégia de descentralização defendida pelo Governo.
O antigo ministro e ex-presidente da Comissão Nacional da UNESCO, no entanto, reconhece que "é preciso sair" da estação de Metropolitano do Alto dos Moinhos, em Lisboa, onde o museu se encontra, "por razões de ordem vária, mas o Estado que encontre qualquer coisa [em Lisboa]".
O responsável lembrou que a mudança para Mafra do MNM "é uma decisão do PSD e não estava no programa eleitoral do PS". "O programa cultural do PS apresentado nas eleições não foi seguido nem de longe nem de perto, e agora estão a seguir o do PSD", apontou.
Sasportes, que dirigiu o Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (Acarte), da Fundação Calouste Gulbenkian, argumentou que "não pode ser a cultura a sacrificar-se ao turismo, será antes o contrário, pensando o turismo que a cultura lhe dá visibilidade".
O antigo titular da Cultura tem acompanhado o percurso deste espólio musical, desde que foi secretário da comissão da reforma do ensino, em 1971, que retirou os instrumentos do Conservatório. Na altura foi recuperado o Palácio Cabral, na calçada do Combro, em Lisboa, para aí se instalar o museu, mas, recuperado o edifício, este acolheu uma escola.
A instalação, há 25 anos, numa estação do Metropolitano, "foi uma ideia, um pouco extraordinária, mas que resultou, e a verdade é que essa possibilidade garantiu ao museu uma frequência e, sobretudo, uma legibilidade", disse Sasportes à Lusa. "As pessoas podem ir lá ver os instrumentos, e o museu, progressivamente foi-se transformando naquilo que deve ser um museu da música, que é um centro musical".
"As pessoas vão lá a conferências, há concertos, entram em contacto com o museu", prosseguiu o ex-ministro, referindo ainda a relação do MNM com a vida musical de Lisboa, "isto é, a Escola Superior de Música, o Conservatório, faculdades... que são os clientes naturais, além do público em geral", opinião partilhada por outras personalidades, como o pianista António Rosado e pela Associação dos Amigos do Museu.
A hipótese de Mafra "é completamente um absurdo", reforçou Sasportes referindo que "o museu da música não é um equipamento que Mafra mais precisa, é um equipamento de que Lisboa precisa, por ter aqui um centro de vida musical e precisa de instalações condignas para funcionar".
Sasportes chamou à atenção para "o trabalho gigantesco" que a instalação da coleção em Mafra exige. "Durará muito tempo para criar um sistema de ar condicionado e de proteção, de modo a que aqueles instrumentos antigos não se arruínem, no dia em que lá chegarem", afirmou.
José Sasportes, que coordenou a obra "La Danza Italiana in Europa nel Settecento", chamou também à atenção para "os custos que esta instalação envolve", face aos "permanentes constrangimentos orçamentais" na cultura.
O pianista Artur Pizarro, por seu lado, um dos promotores da petição 'on-line' contra a saída de Lisboa, (https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT92037), disse à Lusa que, em Mafra, o museu vai "diluir-se noutro".
Segundo Pizarro, o espaço em Mafra "não permite a expansão do MNM, que é uma coleção crescente e que precisa de apoio logístico, e isso não está pensado".
Pizarro fala ainda "da coisa pior de todas, que é o clima de Mafra": "Não há instrumento que resista, por muito ar condicionado e muito desumidificador, é o sítio geograficamente pior de clima e humidade onde se possa pôr uma coleção de instrumentos de madeira".
O Ministério da Cultura, por seu lado, garante que a ala norte, onde o museu será instalado, "oferece maior estabilidade ao longo do ano, em termos de humidade relativa e temperatura" e recorda que o Palácio Nacional de Mafra tem um contexto musical (os órgãos, os carrilhões, a biblioteca), que "permite construir um discurso museológico coerente, a que não são alheias as dimensões do próprio espaço físico".
O gabinete de Graça Fonseca disse ainda que, em Mafra, a área útil de exposição aumenta mil metros quadrados, a que acresce uma área exterior, com mais de 1.200 metros quadrados, "que podem ser utilizados para concertos e eventos"
"Pareceu-nos imperativo não só encontrar um espaço definitivo, mas dotar o museu de instalações adequadas ao seu efetivo funcionamento, a par de condições apropriadas para a exposição da maior parte do espólio", sublinhou o ministério, na defesa da instalação do MNA em Mafra.
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