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Steve Paxton espera que o seu legado suscite "novas descobertas"

O coreógrafo e bailarino norte-americano Steve Paxton acredita que o seu trabalho de exploração do movimento do corpo humano continua a ser sinónimo de investigação na dança, e espera que "suscite novas descobertas".

Steve Paxton espera que o seu legado suscite "novas descobertas"
Notícias ao Minuto

09:27 - 04/03/19 por Lusa

Cultura Coreógrafos

Paxton, atualmente com 80 anos, virá a Lisboa para presenciar um vasto ciclo que lhe é totalmente dedicado, organizado pela Culturgest, a partir de 09 de março, com performances históricas, conferências e uma exposição.

O programa visa demonstrar a transversalidade do seu trabalho que deixou marcas a nível internacional, incluindo na chamada Nova Dança Portuguesa.

Entrevistado pela agência Lusa por correio eletrónico, Steve Paxton mostrou-se surpreendido com esta iniciativa, em Lisboa: "Em teoria, é divertido, e, para mim, um ensinamento de como o meu trabalho é percebido".

Ao longo das últimas seis décadas, a obra de Steve Paxton, nascido em 1939, e com carreira iniciada nos anos 1950, tem moldado continuamente a face da dança.

Dançou com José Limon e Merce Cunningham, foi um dos fundadores do Judson Dance Theatre, origem de criações coletivas que lançaram as raízes da dança pós-moderna, e membro fundador do coletivo de improvisação nova-iorquino Grand Union.

Questionado sobre o impacto e dimensão do seu trabalho em todo o mundo, na comunidade da dança, e especialmente, em Portugal, o coreógrafo acredita que o seu trabalho "ainda representa a investigação" nesta área.

"Se for assim, espero que o meu trabalho represente, não apenas as minhas descobertas, mas também a ideia de explorar o movimento do corpo humano com novas descobertas em vista. A dança é um dos poucos instrumentos que temos para conseguir concretizar isso", sustentou.

Steve Paxton, que vive, desde a década de 1970, numa comunidade artística no norte de Vermont, nos Estados Unidos, escreveu extensamente sobre movimento - mais de 100 artigos nos últimos 50 anos -- e atuou em espetáculos de dança improvisada por todo o mundo.

O trabalho coreográfico de Steve Paxton é considerado pelos especialistas uma das referências fundamentais das práticas de movimento contemporâneas, atravessando toda a dança que se segue ao coreógrafo norte-americano Merce Cunningham.

Sobre como vê a apresentação das suas peças históricas ainda nos dias de hoje - a Culturgest vai apresentar, nomeadamente "Flat" (1964) e "Satisfyin Lover" (1967) - o criador disse: "É uma surpresa. Quando eu me interessei pela improvisação, aceitei, como parte do acordo, que o meu trabalho não deixasse vestígios. Mas, por sorte, eu fiz parte de uma geração que tinha o vídeo. Então acabou por deixar marcas".

Sobre a improvisação - o que foi há 40 ou 50 anos e o que é na atualidade - o coreógrafo disse à Lusa: "Para mim é diferente. Eu movo-me em círculos onde é comum. Por exemplo a improvisação na performance costumava ser algo fora do vulgar. Agora aparece em várias formas. Tornou-se uma opção, a par do contexto da coreografia, ou formas tradicionais. Agora sabemos mais sobre ela, sobre o que nos pode proporcionar, e onde podemos usar um método que seja melhor".

Na História da Dança do século XX, Paxton esteve continuamente na vanguarda dos movimentos pós-modernos norte-americanos, e desde sempre deixou o caminho aberto à contaminação entre a arte e o quotidiano.

Questionado sobre que figuras da dança mais o marcaram e influenciaram, recordou a cena da dança em Nova Iorque, quando jovem: "Havia muitas pessoas que pensavam a dança de forma profunda, e faziam trabalhos muito bons, ou que mais tarde se tornaram especiais para mim. Por vezes uma coreografia pode fazer-nos mudar de ideias".

"Mas, claro que você quer saber uma só figura, e uma resposta simples, portanto vou dizer Merce Cunningham. Ele era um professor soberbo e um coreógrafo radical. Foi uma honra dançar na companhia dele", disse.

O trabalho de investigação de Paxton tem vindo a influenciar coreógrafos e bailarinos, nomeadamente no campo da análise e integração de movimentos quotidianos: como caminhar, a importância do tato, do peso e do balanço e a abertura ao corpo não-técnico.

Nesta área, criou duas técnicas -- "Contact Improvisation" ("Contacto Improvisação") e "Material for the Spine" ("Material para a Coluna") --, e cruzou-se com artistas plásticos como Robert Rauschenberg, tornando-se também uma referência para o universo das artes visuais.

Sobre estas técnicas, sobre o facto de se terem tornado naquilo que esperava delas, o histórico coreógrafo norte-americano respondeu afirmativamente em relação a "Contact Improvisation".

"É impossível realmente dizer porque se tornou tão popular pois já ninguém sabe exatamente a sua dimensão", no entanto, pese embora a dispersão, Paxton diz que viu duetos que ultrapassaram as suas expectativas, em termos de "sensibilidade, rapidez, ternura, comunicação".

A aplicação e resultados desta técnica sugerem a Paxton que "os bailarinos podem aceitar, explorar e desfrutar dos reflexos humanos, aprender a confiar neles próprios e nos parceiros, expandir a sua capacidade, e descobrir lugares onde só eles podem ir".

Quanto à técnica "Material for the Spine" (MFS), considera-a "um peixe muito diferente".

"Também é exploração, mas uma entre o intelecto físico e as tarefas físicas desenhadas para expor a forma como o bailarino opera no seu corpo. Porque todos nós fazemos isso", disse.

Por outro lado, MFS "também exige a unidade das formas criada por um suave fluxo de energia, portanto é tecnicamente preciso em termos de instrução e exemplo, e, por causa desses requisitos, reveladora".

"O aluno tem a tarefa de determinar o seu sentido do material, em termos de esqueleto, músculo, espaço, e descobrir o que está a acontecer relativamente aos objetivos propostos para o movimento", descreveu.

Comparando ambos, segundo o coreógrafo, MFS "é seletivo, enfadonho, pessoalmente desafiante, provavelmente um pouco solitário, e disciplinado".

"É um bom contraste em relação a ´Contact Improvisation´, mas proporciona uma forma clara para uma pessoa do exterior analisar o movimento com o bailarino".

"Contacto Improvisação" continua a alimentar, um pouco por todo o mundo, inúmeras investigações artísticas e somáticas, tendo o trabalho de Steve Paxton extravasado a área da dança, influenciando as artes visuais.

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