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Muitas fontes do livro 'No Armário do Vaticano' são portuguesas

O autor de "No Armário do Vaticano", que aborda a homossexualidade e o poder na cúria romana, revelou que Portugal é mais importante no livro do que se pensa, na medida em muitas das suas fontes são padres portugueses.

Muitas fontes do livro 'No Armário do Vaticano' são portuguesas
Notícias ao Minuto

16:11 - 28/02/19 por Lusa

Cultura Autor

"Portugal é mais importante no livro do que se pensa. Porque tenho muitas fontes que vivem no Vaticano que são portugueses" disse Frédéric Martel em entrevista à agência Lusa, explicando, contudo, que não revela as suas identidades para sua proteção.

Lançado mundialmente a 21 de fevereiro, o livro foi escrito depois de quatro anos de investigação no Vaticano e em 30 países, incluindo Portugal, e da inquirição de 1.500 testemunhas, entre as quais 41 cardeais, 52 bispos e monsenhores, 45 núncios apostólicos e embaixadores estrangeiros e mais de duzentos padres e seminaristas.

Em Portugal, explica, teve muitos informadores e por isso deslocou-se a Lisboa e ao Porto duas vezes, assim como alguns que vivem no Vaticano, e agora, com a obra completa, assegura que foram fundamentais para a investigação.

"Quero agradecer embora não os possa citar, mas foram muito úteis", disse Frédéric Martel referindo-se às suas fontes portuguesas.

O sociólogo, escritor e jornalista afirma ainda ter ficado surpreendido com a forma serena dos padres "gay" portugueses, explicando que os clérigos (incluindo os homossexuais) são, na generalidade, muito homofóbicos, mas que esse não é caso dos portugueses.

"Não são obcecados com a questão. Vivem a sua vida. Na verdade, são também uma vítima de um sistema que não conseguem mudar embora procurem uma solução. Ajudaram-me", disse, adiantando que lhe forneceram dezenas de contactos.

Na publicação "No armário do Vaticano", Frédéric Martel diz que o Vaticano tem uma das comunidades homossexuais mais elevadas do mundo e que a lógica do segredo da Igreja quanto a esta questão é visível em todos os países que visitou.

"Vi a mesma lógica, a mesma sociologia em todo o lado: Brasil, Chile, Argentina, Alemanha, Espanha e Portugal. É todo um sistema do segredo", frisou, observando que o livro pretende apenas falar da verdade.

Assumindo-se como homossexual e explicando que por isso mesmo conseguiu perceber alguns códigos, Frédéric Martel defende que o problema não é a homossexualidade, mas sim a hipocrisia, a esquizofrenia, a vida dupla que o livro desvenda.

"Todo o sistema é perverso, todo o sistema é uma grande mentira e nós precisamos de falar a verdade", sustentou, explicando que não pretendeu escrever sobre escândalos nem o seu livro é um ataque à Igreja ou aos padres, pelo contrário.

Na verdade, prosseguiu, a pesquisa agora publicada pretende mostrar uma realidade que todos sabiam que existia, mas da qual não tinham a prova.

O bispo português Carlos Azevedo foi um dos contactos que teve durante a sua investigação.

Considerado o homem chave do papa Bento XVI em Portugal, Carlos Azevedo era o bispo auxiliar de Lisboa e vice-reitor da Universidade Católica, uma figura em ascensão que o papa pretendia nomear patriarca de Lisboa, o que nunca aconteceu, afirma, por causa da sua homossexualidade.

O papa emérito escolheu um "closeted" (alguém que esconde a homossexualidade), escreve Frédéric Martel, e que acabou por ver a sua carreira comprometida exatamente por rumores sobre a homossexualidade, tendo este sido abandonado por todos os seus amigos portugueses, repudiado pelo núncio e abandonado à sua sorte pelo cardeal José Policarpo, "porque apoiá-lo seria correr o risco de ser, por sua vez, apontado a dedo".

"Foi punido. Devia ter sido cardeal e patriarca de Lisboa e foi marginalizado e isso é injusto e se existe justiça no mundo ele deveria ser cardeal", declarou.

Sobre o papa Francisco, Frédéric Martel, considera que é um homem corajoso que está "no meio de uma guerrilha".

"Se compararmos com João Paulo II e Bento XVI, o papa Francisco é corajoso e está a ser atacado por cardeais que são homofóbicos. Está no meio de uma cabala e é importante explicar o que se passa e proteger este papa que está no meio de uma guerrilha com cardeais que o atacam e isso é tão injusto", defendeu.

O livro "No Armário do Vaticano", editado em Portugal pela Sextante editora, é já o número um de vendas em França e um 'best-seller' em Itália, Bélgica, Suíça, Holanda e Estados Unidos. Em 700 páginas descreve com detalhe um segredo que o autor considera ser um dos maiores dos últimos 50 anos.

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