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"Não podemos ‘chorar’ pelos artistas e ir ao teatro uma vez por ano"

O Festival 'Espontâneo' irá realizar-se entre os dias 28 e 31 de março. O diretor Marco Graça esteve à conversa com o Notícias ao Minuto, apresentando esta que é já a oitava edição.

"Não podemos ‘chorar’ pelos artistas e ir ao teatro uma vez por ano"
Notícias ao Minuto

14:10 - 20/02/19 por Filipa Matias Pereira

Cultura Marco Graça

Foi no ano de 2012 que a companhia de improvisação teatral 'Instantâneos' produziu a primeira edição do 'Espontâneo'. Ao longo das suas sete edições, o 'Espontâneo' foi responsável por trazer até Portugal dezenas de improvisadores de todo o mundo. Este festival conseguiu, efetivamente, afirmar-se como o único evento internacional de improvisação teatral neste país à beira-mar plantado. 

Portugal é, com efeito, uma referência além-fronteiras e de passagem obrigatória para os improvisadores do todo o mundo. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Marco Graça, diretor do festival, apresenta a oitava edição do 'Espontâneo' que tem data marcada para os dias 28, 29, 30 e 31 de março. 

Ao longo de sete edições, o ‘Espontâneo’ tem sido responsável por trazer até Portugal dezenas de improvisadores. Qual o balanço destas sete edições?

O balanço destas sete edições é muito positivo, diríamos mesmo que superou as expectativas que tínhamos quando iniciámos este projeto. A improvisação teatral era um ilustre desconhecido em Portugal, o público tinha pouquíssimas referências sobre esta arte e até muitas conceções erradas sobre o que era a improvisação teatral.

O ‘Espontâneo’ surgiu com esse objetivo, o de mostrar o que de melhor se fazia no mundo em termos de improviso. E ao longo destes anos conseguimos trazer até ao nosso país alguns dos maiores nomes da improvisação, procurando sempre a diversidade, quer de espetáculos, quer de nacionalidades representadas. [Além disso tem] também uma enorme mais valia, nomeadamente o facto de o público português compreender diversas línguas, o que nos permite ser dos poucos festivais no mundo que pode apresentar espetáculos em inglês, espanhol e português. Esta realidade potencia muito a qualidade e a diversidade da programação do festival, tornando o palco do ‘Espontâneo’ um lugar sem fronteiras e de encontros únicos.

A improvisação teatral era um ilustre desconhecido em PortugalComo nasceu, em 2012, este projeto?

Em 2012 não havia quase nenhum tipo de oferta formativa, em Portugal, para quem quisesse começar a improvisar. A companhia que produz o festival, os ‘Instantâneos’, sentia que havia um espaço por preencher nesse campo e decidiu criar este festival não só para trazer professores de improvisação teatral a Portugal, mas também para mostrar ao público que a improvisação era um universo que não estava fechado na redoma da comédia. Para além disso, pretendia-se evidenciar que havia outras possibilidades, muito interessantes e fora desse contexto.

Mas em 2012 não foi fácil porque o nosso país estava fora do circuito internacional de espetáculos de improviso. Porém, a persistência e a adesão do público ao festival levou a que atualmente o panorama seja muito diferente. Portugal já é um local de passagem obrigatória e o festival é uma referência em todo o mundo. E isso é visível na crescente qualidade da programação ano após ano.

Qual o cartaz previsto para esta oitava edição?

A oitava edição apresenta o maior elenco internacional de sempre: são mais de 30 improvisadores internacionais e nacionais. Este ano demos um especial ênfase ao espetáculos de improviso musical e, como tal, vamos ter a companhia mexicana ‘ImproTop’, que nos irá apresentar o espetáculo ‘ImproBroadway’, uma comédia musical improvisada ao estilo da Broadway.

O inglês Phil Lunn, que apresenta ‘Phil Lunn is… a Cabaret Singer’, um espetáculo que foi aclamado no festival Fringe e Keng Sam e Damien Fontaine, que nos chegam da Ilha da Reunião e que apresentarão ‘Instant T’, um formato inspirado numa playlist musical que servirá de inspiração à criação de narrativas improvisadas.

Temos também uma forte presença brasileira, com o Grupo de Risco e com os ImproMime, ambos de São Paulo, que trazem dois espectáculos muito diferentes do habitual e com abordagens muito particulares. Depois temos nomes consagrados como Omar Argentino (Argentina) e Mico Pugliares (Itália), Kaspars Breidaks (Letónia), Zeca Carvalho (Brasil) e Chris Wilmers (Irlanda), que dirigem e improvisam, nos Impro Ensembles, que são espetáculos que juntam em palco todo o elenco internacional e são sempre um dos momentos altos do festival.

Em termos nacionais temos os Instantâneos, Os Improváveis e os Cardume, que são os coletivos mais consistentes e com mais percurso em território nacional.A improvisação começa sempre com um pequeno passo que nos leva a um destino desconhecidoQuais os ingredientes do festival responsáveis por proporcionar ao público uma viagem “única e improvisada”?

Usamos o termo viagem porque a improvisação começa sempre com um pequeno passo que nos leva a um destino desconhecido. Desconhecido porque tudo o que é feito em palco é criado no momento, sem nenhum guião, logo sem nenhuma direção definida. E único porque quem determina como as coisas acontecem é o público, aquele público que está assistir, naquela noite. Na improvisação não há dois espetáculos iguais, são sempre diferentes porque o público é diferente.

É um ato de cidadania ir ao teatro, a uma exposição, a um concertoComo analisa a qualidade do teatro em Portugal? É equiparável com o que se faz em além-fronteiras?

Não acredito que existam razões para que o teatro em Portugal seja diferente, em termos de qualidade, daquilo que se faz além fronteiras. Da minha perceção, como espectador e criador, creio que a qualidade é exatamente igual a qualquer outra coisa estrangeira. Podemos ter é um questão de dimensão, ou seja em Portugal temos um público mais reduzido, logo o investimento na criação de espetáculos terá de ser menor. Mas não acredito que esse seja o fator determinante para a qualidade do que se faz e produz.

No seu entendimento, Portugal é um país que apoia os seus atores?

Na minha perspetiva, os atores, assim como outros profissionais das artes, dependem do investimento que se faz na cultura, quer a nível institucional, quer da própria sociedade. Ou seja, o Estado, quer através do Ministério da Cultura, quer através das autarquias, deverá ter um papel crucial na produção nacional, mas isso também deve ser acompanhado pelo desenvolvimento de hábitos culturais por parte da sociedade.

Não podemos ‘chorar’ pelos artistas e depois ir ao teatro uma vez por ano. Se queremos mais qualidade, mais diversidade, temos de ter uma postura mais participativa em termos culturais. A cultura, o teatro em específico, não são peças de museu, são entes vivos, dinâmicos e atuais que necessitam de público e o público tem de sentir necessidade deles. É um ato de cidadania ir ao teatro, a uma exposição, a um concerto. Seguramente que se o público estiver presente, os atores e todos os profissionais das artes do espetáculo se sentirão muito mais apoiados.

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