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Portugal apoiou independentistas do Biafra para "desviar atenções"

Portugal apoiou secretamente os independentistas do Biafra na guerra contra a Nigéria para afastar os holofotes da comunidade internacional da guerra nas ex-colónias, segundo uma investigação publicada em livro.

Portugal apoiou independentistas do Biafra para "desviar atenções"
Notícias ao Minuto

16:07 - 19/02/19 por Lusa

Cultura Guerra

'Os Falcões do Biafra - O envolvimento secreto de Portugal na guerra civil da Nigéria (1967-19709)', de Fernando Cavaleiro Ângelo, conta a história de um grupo de aviadores portugueses que, durante o conflito, entregavam alimentos e medicamentos às populações da região do Biafra, mas também armas e munições aos rebeldes.

"Portugal tinha as três frentes de batalha a decorrer - Guiné-Bissau, Moçambique e Angola - e tinha que fomentar a divisão, a instabilidade, dividir para reinar, para que os holofotes da comunidade internacional e das organizações internacionais, nomeadamente das Nações Unidas, se centrassem no Biafra e desviassem as atenções do caso mais complexo que tínhamos na altura: Angola", disse o autor à agência Lusa.

"A minha tese central é que Portugal não teve uma intervenção direta, mas teve uma postura discreta nos bastidores para que as coisas fossem em linha com a política nacional da altura. Portugal facilitou muito", acrescentou.

Portugal alinhou com a França e com o Vaticano no apoio aos independentistas do Biafra, contra o Reino Unido (antiga potência colonizadora), os Estados Unidos e a União Soviética, que apoiaram a Nigéria.

"A Nigéria tinha sido um país altamente negativo para com as políticas portuguesas, nomeadamente em relação às colónias, e Portugal via aqui uma excelente oportunidade para atuar e dar proteção, através do seu espaço territorial e aéreo, a operações de apoio ao Biafra. Foi a grande cartada de Portugal neste conflito", adiantou.

Segundo o investigador, que é oficial da Marinha, este apoio "extremamente importante" envolveu o "desviar de olhos" da movimentação de armamento através de armazéns e aeroportos e das operações aéreas dos "Falcões do Biafra" em território português.

"Os Falcões do Biafra eram quatro ex-militares da Força Aérea Portuguesa (pilotos) que tinham acabado de chegar da guerra de África. As dificuldades económicas eram muitas e começaram a ser aliciados para, numa primeira fase a história de cobertura era que iam treinar as futuras guarnições da Força Aérea Biafrense", disse.

No entanto, prosseguiu o investigador, "rapidamente começaram a ver que o filme não era esse, mas sim levar aeronaves até ao teatro de operações e executar missões no terreno".

Tratava-se de aviões T6, que tinham sido adquiridos à França e chegado a Portugal, onde foram aprontadas no aeródromo de Tires.

Além de documentos inéditos, a investigação tem também por base testemunhos de dois dos quatro pilotos que participaram nas missões, nomeadamente Artur Alves Pereira e Armando Cró, ainda vivos.

A investigação revela também que as missões foram sempre seguidas à distância pela polícia política do Estado Novo, PIDE, que registou as movimentações dos pilotos em Lisboa, Faro, Bissau e São Tomé e Príncipe.

Fernando Cavaleiro Ângelo nasceu em Cabo Verde, em janeiro de 1970. Oficial da Marinha portuguesa no ativo, desempenha atualmente as funções de Diretor do Centro de Comunicações, de Dados e Cifra da Marinha, depois de uma carreira de mais de 15 anos nas informações militares portuguesas.

O investigador lançou em 2017 o livro 'Os Flechas - A Tropa Secreta da PIDE/DGS na Guerra de Angola'.

O lançamento oficial do livro, que é uma edição da Casa das Letras, do grupo Leya, está marcado para 07 de março, mas a obra chega hoje às livrarias.

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