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Mark Twain nos Açores: Descreveu habitantes como "fósseis e aldrabões"

O escritor norte-americano Mark Twain, imortalizado pelo clássico da literatura "As aventuras de Tom Sawyer", esteve nos Açores em 1867, tendo usado epítetos como "aldrabões" e "fósseis", para descrever habitantes locais.

Mark Twain nos Açores: Descreveu habitantes como "fósseis e aldrabões"
Notícias ao Minuto

18:30 - 31/01/19 por Lusa

Cultura Literatura

Samuel Langhorne Clemens, que usou como pseudónimo Mark Twain, natural do Missouri, seguia a bordo do barco a vapor "Quaker City" de Nova Iorque, com destino à Terra Santa, naquele que constituía um dos primeiros cruzeiros transatlânticos.

O navio ia escalar a ilha de São Miguel, mas, surpreendido pelo mau tempo, a alternativa foi a ilha do Faial, após uma passagem à vista pela ilha das Flores.

O escritor norte-americano, que ficou impressionado com as belezas naturais do Faial, bem como com a limpeza da cidade da Horta, não deixou de classificar no livro que viria a produzir sobre a viagem, "The Inocents abroad", os açorianos como "mentirosos", "aldrabões" e "fósseis".

Para o o escritor e professor universitário Vamberto Freitas, a narrativa de Mark Twain integra uma certa literatura norte-americana que "olhava com preconceito" para os portugueses, muito embora nas suas pesquisas nunca tenha conseguido identificar as "raízes profundas deste anti-portuguesismo".

Vamberto Freitas, que viveu nos Estados Unidos cerca de 20 anos, onde foi professor, considera que esta leitura de Mark Twain "surge numa linha que tem o seu seguimento em dois outros escritores", nomeadamente Jack London, em "The Valley of the Moon", e, "muito especialmente" John Steinbeck, na sua obra "As Vinhas da Ira", bem como no romance "Tortilla flat", "O Milagra de São Francisco", na tradução portuguesa.

O ensaísta e crítico literário salvaguarda que, a partir dos anos de 1990, os portugueses "foram resgatados" na sua imagem por uma geração de escritores luso-descendentes que passaram a encarar a comunidade de uma forma "radicalmente diferente, pela positiva, sem deixarem de criticar aspetos da cultura e modo de estar".

Mark Twain retrata no seu livro a "comunidade no Faial é eminentemente portuguesa", como "lenta, pobre, dorminhoca e preguiçosa", tendo ficado assustado com o grau de conservadorismo que encontrou, afirmando mesmo que serão necessários "mais dez mil anos" para retirar os Açores desta situação.

Narrando que "os homens, mulheres e crianças de uma família comiam e dormiam todos no mesmo quarto, sendo sujos, devastados por vermes", o escritor norte-americano referia que "as pessoas mentem, enganam os estrangeiros, são desesperadamente ignorantes e quase não têm qualquer reverência pelos seus mortos".

"O último traço mostra quanto são pouco melhor que os burros com que dormem e comem", escreveu em dois capítulos do seu livro, no qual expõe que os açorianos andavam descalços, usavam carros de bois e arados de madeira ao estilo romano, criticando igualmente as suas crenças religiosas.

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