'O crocodilo' de Dostoievski é uma fábula sobre a atualidade no São Luiz
Uma tragédia cómica é como o ator e encenador Rui Neto define a peça 'O crocodilo', a partir do conto homónimo de Dostoievski, que se estreia no próximo dia 31, no Teatro S. Luiz, em Lisboa.
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Cultura Teatro
'O Crocodilo ou o Extraordinário Acontecimento Irrelevante' é o nome completo do espetáculo baseado num conto que o escritor russo nunca concluiu, e que Rui Neto entendeu que tem "uma pertinência muito atual", por "comunicar muito com os ciclos políticos que vemos na atualidade", disse o encenador à agência Lusa.
"Este conto tem uma visão social dos tempos em que vivemos", além de ter também "um lado absurdo", que interessou o ator e encenador, já que faz parte do universo que tem trabalhado nos últimos tempos.
A lógica de um homem ser devorado por um crocodilo é "assim uma coisa um bocadinho surreal, tendo em conta que o homem se mantém vivo no interior do bicho", mas este surreal foi precisamente um dos fatores que despertou curiosidade no texto ao encenador - um crocodilo que Rui Neto interpreta como "quase uma máquina que atualmente nos devora a todos, e muitas vezes sem darmos conta", observou.
"Uma máquina que nos engole que, se calhar, suprime toda a nossa parte mais romântica e sonhadora, e que acaba por ser um bocadinho aquilo em que vivemos, o ritmo das sociedades mais tecnológicas - esta ideia de progresso de termos todas as coisas na ponta do dedo que, na verdade, acabam por ser, se calhar, os nossos crocodilos contemporâneos", sublinhou, em declarações à Lusa.
A "muita comicidade e a oralidade fácil" do texto foram também fatores que "entusiasmaram" Rui Nunes, para a montagem do espetáculo.
Ivan, um homem que se deixa fascinar de curiosidade por um crocodilo que é apresentando num jardim de um parque natural, é o centro da ação da peça.
O insólito é que Ivan acaba por ser devorado pelo crocodilo, mas sobrevive sem nenhum arranhão dentro do estômago do animal, ainda que todas as tentativas para o retirar de lá se revelem infrutíferas.
Rui Neto reescreve o conto de Dostoievski, no qual encontra um paralelo com Portugal atual, dotando ainda o espetáculo de música original ao vivo, funcionando esta também como elemento cénico.
Ana Guiomar, Miguel Raposo, Miguel Sopas e Rui Melo interpretam o espetáculo, que tem música de Dinis Oliveira.
Rui Neto assina a cenografia, figurino e espaço cénico desta coprodução da Lobo Mau e do São Luiz Teatro Municipal.
A peça pode ser vista na sala Mário Viegas, de 31 de janeiro até 09 de fevereiro, com espetáculos de quinta-feira a sábado, às 21:00, e, aos domingos, às 17:30.
No dia 3 de fevereiro, após o espetáculo haverá uma conversa com os artistas, moderada por David Antunes.
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