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Eixo oriente-ocidente vai atravessar programação do Museu Gulbenkian

Os eixos oriente-ocidente e norte-sul vão atravessar a programação do Museu Calouste Gulbenkian, em 2019, tendo como ponto de partida as ligações multiculturais da vida e obra do fundador, anunciou hoje esta entidade, em Lisboa.

Eixo oriente-ocidente vai atravessar programação do Museu Gulbenkian
Notícias ao Minuto

18:01 - 04/12/18 por Lusa

Cultura Lisboa

Penelope Curtis, diretora do museu, apresentou aos jornalistas as linhas principais da programação para o próximo ano, que passam por algumas alterações nas exposições permanentes, com novas obras, exposições temporárias, e novos projetos com artistas convidados.

Um dos pontos altos da programação do próximo ano será a exposição de verão, 'A Paixão pela Arte Islâmica', que explora a crescente importância da arte do Médio Oriente na altura da queda o Império Otomano e no início da exploração do petróleo.

"A nossa coleção islâmica é uma das mais importantes do mundo", sublinhou Penelope Curtis, historiadora britânica de arte que entrou na Gulbenkian em 2016, e liderou a reestruturação dos museus Gulbenkian.

Em novembro, será apresentada uma exposição comemorativa do 50.º aniversário do museu e da sua museografia, enquadrando a reconstrução de projetos de arquitetos e designers como Albini, Bo Bardi, Carlo Scarpa e Aldo Van Eyck.

O museu, que abriu portas em 1969, irá recriar algumas soluções clássicas daquele período aplicadas à área das exposições de arte, "de modo a criar um ambiente físico no qual os visitantes poderão experimentar várias formas de olhar e conviver com a arte".

Entre as novidades, na Coleção do Fundador, estão novas vitrinas com diferentes obras, desde livros, têxteis e medalhas, algumas habitualmente em reserva, que revelam as trocas de conhecimentos entre Istambul e Veneza, cerca de 1500, enquanto na Coleção Moderna, são mostradas pinturas de artistas portugueses e ingleses que a fundação enviou para Bagdade, na década de 1960.

A Gulbenkian criou uma nova galeria na Coleção do Fundador que "rompe com o conceito tradicional de categorias históricas", e analisa as ligações entre o ocidente e o oriente.

Penelope Curtis recordou que o mecenas arménio Calouste Gulbenkian (1869-1955) tinha obras de ambas as geografias expostas lado a lado na sua casa e, quando a coleção foi instalada no museu, após a sua morte, foram organizadas segundo uma cronologia, e Ásia e Europa acabaram por ficar divididas.

"Ambas estavam muito próximas quando Gulbenkian era vivo, mas depois foram separadas. Vamos reaproximá-las e atravessar várias culturas, explorando a relação oriente e ocidente", indicou a diretora do museu.

Na nova galeria, é possível encontrar, por exemplo, uma medalha com o retrato do sultão otomano Maomé II, criada pelo artista veneziano Gentile Bellini, no século XV, e várias encadernações de manuscritos, nomeadamente um de maiores dimensões, do Alcorão, originário da Turquia, do século XVI.

Quanto à exposição permanente da Coleção Moderna, além de uma seleção das obras apresentadas em Bagdade, em 1966, na sala dedicada aos anos 1940 e 1950, são expostas pela primeira vez obras neorrealistas de artistas portugueses como Júlio Resende, Júlio Pomar, Abel Salazar e José Viana, que representam sobretudo a repressão política e o quotidiano da época.

"Queremos manter a introdução de novas obras na exposição permanente para que o público saiba que há sempre novidades e razões para regressar ao museu", justificou Penelope Curtis.

Também foram introduzidas, entre outras, obras em fotografia de Helena Almeida, falecida este ano, de Carla Filipe, John Coplans, Victor Pomar, Fernando Calhau, Luísa Correia e João Queiroz.

Relativamente ao eixo norte-sul, a diretora do museu explicou que foram convidados três artistas contemporâneos a apresentar exposições que relatam experiências desde 1970 até à atualidade sobre colonialismo e pós-colonialismo.

Quanto às exposições temporárias, a partir de fevereiro de 2019, está prevista 'Moi je suis la langue et vous êtes les dents', de Yto Barrada, uma artista franco-marroquina que tem desenvolvido uma obra marcada pelas narrativas da história e das identidades, na sua relação com o passado colonial e pós-colonial.

Com curadoria de Rita Fabiana, esta exposição irá revelar alguns trabalhos inéditos, com cadernos de anotações, objetos de caráter antropológico que resgatam memórias silenciadas.

Na mesma altura, o artista português Francisco Tropa apresentará 'Pyrgo de Chaves', um projeto de cruzamento entre a escultura contemporânea e a arqueologia, com a colaboração do arqueólogo Sérgio Carneiro, tomando como ponto de partida as recém-descobertas Termas Romanas de Chaves.

A partir do final de maio, Filipa César exibe 'Crioulo Quântico', um documentário fílmico sobre a gentrificação em curso nas Ilhas Bijagós, por franceses e senegaleses que ali estão a criar uma zona franca.

Filipa César, artista portuguesa que vive e trabalha em Berlim, tem abordado a história das imagens e da produção cinematográfica da Guiné Bissau, quando o cinema foi muito usado como instrumento político de criação da identidade nacional.

'Sarah Affonso e a Arte Popular' é o título provisório de uma exposição prevista para julho, com curadoria de Ana Vasconcelos, centrada na relação da artista Sarah Affonso (1899-1983) com a arte e a cultura popular do Minho, que marcou a sua infância.

A intenção da Gulbenkian é revisitar uma artista cujo nome é conhecido por ter sido a mulher de Almada Negreiros, e que possui um percurso artístico próprio, mas cuja obra "tem sido pouco investigada e exposta", e que possui "assinalável qualidade".

Também estão previstas exposições do artista cabo-verdiano Irineu Destourelles, a partir de setembro de 2019 - 'Subtitulizar' -, na qual explora a perpetuação de práticas coloniais, e do designer britânico Robin Fior, cuja obra teve grande importância em Portugal pelo seu pioneirismo, sobre "a tradição radical do design gráfico".

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