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Artistas portugueses apelam ao boicote de Portugal à Eurovisão em Israel

Vários artistas portugueses apelaram, numa carta aberta dirigida à RTP, responsável pela escolha do representante nacional no concurso, ao boicote de Portugal ao Festival Eurovisão da Canção, que em 2019 irá decorrer em Telavive, Israel.

Artistas portugueses apelam ao boicote de Portugal à Eurovisão em Israel
Notícias ao Minuto

11:44 - 30/11/18 por Lusa

Cultura Música

"Pedimos à RTP que aja dentro da EBU-União Europeia de Radiodifusão para que o festival seja transferido para um país onde crimes de guerra - incluindo assassinatos de jornalistas - não são cometidos e, caso contrário, se retire completamente do Festival de 2019", lê-se na carta, endereçada esta semana à RTP, responsável pela candidatura portuguesa ao concurso.

A lista de signatários inclui, entre outros, a escritora Alexandra Lucas Coelho, a artista plástica Joana Villaverde, a cantora Francisca Cortesão, os atores João Grosso, Maria do Céu Guerra e Manuela de Freitas, a pintora Teresa Dias Coelho, a cineasta Susana Sousa Dias e o fotógrafo Nuno Lobito.

Além disso, assinaram também a carta aberta artistas portugueses como o músico José Mário Branco e o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, que tinham subscrito uma missiva de apoio a um apelo de organizações culturais palestinianas para o boicote ao Festival Eurovisão da Canção 2019, caso decorra em Israel, divulgada em setembro no jornal britânico The Guardian.

Na carta dirigida à RTP, os artistas portugueses, referindo que "Eurovisão não combina com Apartheid", defendem que a estação pública, ao anunciar a participação de Portugal no concurso em Israel em maio, "confirma a sua disposição, em nome do entretenimento, de encobrir a ocupação israelita do território palestiniano e a contínua negação dos direitos humanos do povo palestiniano".

Os signatários defendem que "Israel declarou-se efetivamente um Estado de apartheid ao adotar este ano a 'Lei do Estado-Nação Judeu'".

"Aos seus cidadãos palestinianos é agora negada constitucionalmente a igualdade de direitos. Este apartheid determina até mesmo que secções da população sob o controle de Israel poderão participar na Eurovisão. Ao ser anfitrião da Eurovisão 2019, Israel branqueia este apartheid e utiliza a Eurovisão de forma desavergonhada como parte da sua estratégia oficial Brand Israel, que pretende mostrar a 'face mais bonita de Israel' para desviar deles a atenção do mundo dos seus crimes", lê-se na carta.

Os artistas que assinam a missiva, recordando que "inspirados pelos artistas que em consciência rejeitaram o Sun City no apartheid sul-africano nos anos 80, organizações culturais e artistas palestinianos apelaram a que se pressione Israel de forma não violenta através do boicote até que sejam cumpridas as suas obrigações segundo a lei internacional", tornam público o seu apoio "a este apelo, ao lado de milhares de artistas pelo mundo fora".

"Porque não queremos tornar-nos cúmplices das violações dos direitos humanos do povo palestiniano. Queremos antes chamar a atenção do mundo para a colonização, que a cada ano se torna mais violenta", sustentam.

A Lusa pediu uma reação à RTP, mas tal não foi possível em tempo útil.

A carta aberta divulgada em setembro foi subscrita por artistas internacionais como Brian Eno, The Knife, Wolf Alice e finalistas da Eurovisão, incluindo os vencedores de 1994, os irlandeses Paul Harrington e Charlie McGettigan, os cineastas Alain Guiraudie, Ken Loach, Mike Leigh, Aki Kaurismäki e Eyal Sivan (israelita).

Israel recebe o Festival Eurovisão da Canção em 2019 depois de ter vencido a edição deste ano, em Lisboa, com o tema 'Toy', interpretado por Netta Barzlilai.

Esta será a terceira vez que Israel acolhe o concurso, depois de 1979 e 1999, em Jerusalém, por ter vencido nos anos anteriores. Em 1980, embora tenha vencido em 1979, o país declinou a oportunidade de organizar o concurso pela segunda vez consecutiva, acabando por passar para a Holanda.

Em maio passado, quando venceu o concurso em Lisboa, a cantora israelita Netta Barzlilai celebrou a vitória dizendo que em 2019 o festival seria em Jerusalém, algo que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, imediatamente reforçou, para mais tarde recuar.

A referência a Jerusalém foi feita numa altura em que os israelitas comemoravam, em maio, os 70 anos do nascimento do Estado de Israel, e o festival acabou por ser tornar num argumento de discussão política e diplomática sobre os estados judeu e palestiniano, quando as conversações de paz internacionais entre ambos continuam num impasse.

A situação política foi ainda acompanhada pela transferência da embaixada dos Estados Unidos em Israel de Telavive para Jerusalém.

Em junho, a União Europeia de Radiofusão, organizadora do festival, fez saber que pretendia um lugar "menos controverso" do que Jerusalém, cidade dividida entre israelitas e palestinianos desde 1967, e Benjamin Netanyahu concordou que o governo se afastaria da escolha da cidade.

Ao mesmo tempo, diversas organizações culturais palestinianas apelaram ao boicote ao concurso.

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