Ainda antes das conversas que tem programadas para hoje e terça-feira, na Feira do Livro de Guadalajara, onde é apresentado como um dos autores destacados à boleia da edição espanhola de 'Não é meia-noite quem quer', António Lobo Antunes, 76 anos, recordou como os leitores mexicanos o acolheram com uma ternura comovente em 2008, quando recebeu o prémio de literatura da feira e descobriu que tinha um cancro.

Tratado pela imprensa mexicana como "mestre", António Lobo Antunes contou que acabou há três meses a escrita de um livro novo e que está angustiado, à espera de que surjam novas vozes.

"Escrever é escutar com mais força. É só organizar as vozes, é um delírio organizado. (...) Um livro é sempre uma surpresa e depois um presente que sinto que não mereço", disse, respondendo sempre em castelhano.

Perguntaram-lhe sobre a morte, sobre a escrita, falou sobre a infância e sobre migrações, a propósito da caravana de migrantes que atravessa o México rumo aos Estados Unidos.

"A vida aqui agora é muito difícil para os mexicanos. Deixa-me furioso que o senhor Trump faça uma pressão como esta sobre um povo que ele não conhece porque é um ignorante, um povo com uma cultura que têm séculos. E chateia-me que ele olhe de cima a baixo gente muito mais nobre. Ele que vá à merda", disse.

Admitindo que vai a poucas feiras do livro, como esta de Guadalajara, onde a literatura portuguesa está em destaque - "é sempre discutível ser país convidado" -, Lobo Antunes disse que não tem tempo para relações sociais e que não conhece os escritores portugueses, nem sequer fisicamente. "Se quiseres escrever não podes fazer mais nada".

A Feira Internacional do Livro de Guadalajara termina no dia 2 de dezembro.