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Reeditado 'Júlio Pomar - Guerra e Paz', com prefácio de João Lobo Antunes

A reedição da obra 'Júlio Pomar - Guerra e Paz', prefaciada por João Lobo Antunes, pela Althum Editora, é apresentada na terça-feira na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa.

Reeditado 'Júlio Pomar - Guerra e Paz', com prefácio de João Lobo Antunes
Notícias ao Minuto

08:05 - 23/11/18 por Lusa

Cultura Althum

Os desenhos com que Júlio Pomar (1926-2018) ilustrou a edição do romance 'Guerra e Paz', de Leon Tolstói, traduzido por João Gaspar Simões (1903-1987) e publicado em três volumes, pela primeira vez, em 1958, voltam a ser editados. Os desenhos de Pomar datam de 1955 a 1958.

Esta nova edição conta com um prefácio da presidente da FCG, Isabel Mota, no qual, parafraseando o prefácio de Lobo Antunes publicado em 1958, afirma que se "'todo o livro tem uma biografia, muitas vezes exposta num prefácio que o procura explicar, sem cuidar de saber se o livro gosta que o expliquem', neste caso, como a reedição desta obra não carece de qualquer explicação".

Isabel Mota refere que o livro "promoveu o feliz encontro entre duas personalidades ímpares do nosso Portugal contemporâneo: Júlio Pomar e João Lobo Antunes".

"Sobre a vida e a obra de Júlio Pomar, salienta-se a sua capacidade de nos transportar imediatamente para uma realidade esteticamente conformada que não é alheia à relação entre a teoria e a prática ou a política e a arte, que interiormente o caracteriza", escreve Isabel Mota.

Citando o escritor e pintor Mário Dionísio, um admirador de Júlio Pomar, Mota afirma que, na sua obra, "a 'revolução na rua' e a 'revolução na tela' encontram-se indissociavelmente ligadas", e prossegue, afirmando que "ainda hoje, a sua obra tanto pode ser vista em exposições e em museus como em edifícios e em espaços públicos, mantendo viva essa vontade de intervir na realidade através da arte".

A presidente da FCG realça que a obra de Pomar "vai do neorrealismo ao expressionismo e ao abstracionismo e da pintura à crítica da arte, passando pela azulejaria, pela tapeçaria, pela cerâmica, pela gravura, pela cenografia e pela escultura".

Quanto a João Lobo Antunes (1944-2016), Isabel Mota recorda que o seu "prestígio na academia, nas ciências biomédicas ou nos meios da saúde davam-lhe uma mundividência que também se refletia na sua qualificada experiência de neurocirurgião".

Lobo Antunes foi um "professor, intelectual e médico, mas sobretudo um profissional muito humano, atento, disponível e tranquilizador, um humanista sensível e compassivo, que deu conforto e esperança a tantas famílias", segundo Mota que refere o seu "invulgar espírito de missão", ao qual "juntava assim um exemplar sentido de serviço público".

No prefácio, Lobo Antunes dá conta dos seus encontros com Pomar, e afirma que "uma das características do [seu] génio, bem patente nos desenhos que se reuniram neste volume, é a capacidade de reduzir a imagem ao menor número de traços que permitam o seu reconhecimento".

"A técnica usada - o pincel chinês (ou japonês) e a tinta da China -- parece particularmente apta a produzir este efeito de singular simplicidade. Em muitos aspetos os desenhos de Pomar aproximam-se surpreendentemente da caligrafia e pintura chinesas", escreve João Lobo Antunes, e prossegue: "as figuras mesmo pintadas sem olhos devem parecer que estão olhando, porque há coisas que um milhar de pinceladas não consegue representar, mas que podem ser capturadas por dois ou três traços justos. Isto é, verdadeiramente, dar expressão ao invisível".

Lobo Antunes realça que o "génio de Tolstoi está na capacidade de reproduzir com maravilhosa exatidão o irreprodutível, a evocação quase miraculosa da plena e intraduzível individualidade do indivíduo, que induz no leitor o sentido agudo, vivo, da presença do objeto e não a mera descrição do mesmo".

"Daí o tremendo desafio que constitui ilustrar uma obra desta natureza. O que é notável neste trabalho de Júlio Pomar, e os estudos incluídos provam-no bem, é que o artista conseguiu transmitir nos seus desenhos este pulsar da vida, tornando-a graficamente uma realidade palpável, o que nos leva a pensar que se Tolstoi quisesse dar forma plástica ao seu texto o faria assim", sublinha.

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