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Novo livro sobre o MRPP é lançado hoje em Lisboa

Um novo livro sobre o PCTP/MRPP conta a história do partido maoista que chegou a ser considerado o mais "hegemónico" da extrema-esquerda, mesmo sem eleger deputados, e que hoje parece ser apenas "uma nota de rodapé".

Novo livro sobre o MRPP é lançado hoje em Lisboa
Notícias ao Minuto

22:00 - 14/11/18 por Lusa

Cultura Extrema-esquerda

"Nesses meses, de um verão quente que começa antes do verão e que se prolonga outono dentro, o MRPP é a força hegemónica da extrema-esquerda", escreve o jornalista Miguel Marujo, citando um dos fundadores, Fernando Rosas, na obra 'Morte aos traidores! A história improvável do mais controverso partido político português', lançado hoje em Lisboa.

Na segunda metade da década de 1970, o MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado) "agita massas, promove comícios anunciados de manhã para o fim da tarde, usa uma forte componente de agitação e propaganda, por vezes tumultuosa, com uma importância social e política aparentemente mais mediática (como hoje se diz) do que real", considera o autor.

Essa perceção mediática impõe-se, "talvez por ação dos nomes que militam no partido e acabam por marcar a sociedade democrática portuguesa em vários momentos da sua história".

Algumas dessas figuras foram presas em maio de 1975, em pleno PREC (Processo Revolucionário em Curso), depois de o partido ter sido suspenso: Agostinho Branquinho, Ana Gomes, Diana Andringa, Fernando Rosas, José Freire Antunes, José Lamego, José Manuel Durão Barroso, José Saldanha Sanches, Maria João Rodrigues, Maria José Morgado, Romeu Francês, Teresa de Sousa ou Vítor Ramalho.

Contudo, entre a perceção mediática de que a hegemonia do MRPP era forte, também medida pela tiragem do seu órgão oficial "Luta Popular" (que ainda hoje existe na internet), e a sua implantação real "há uma distância enorme, que as urnas vão mostrar."

A primeira participação em eleições, em 1976, "é um estrondoso fracasso para o MRPP", apenas recebe 36.200 votos (0,66%) e é um duro golpe para o líder, Arnaldo Matos.

Em 40 anos, em todas as eleições em que participou, o PCTP/MRPP nunca elegeu qualquer deputado.

O MRPP havia nascido em Lisboa, na clandestinidade, em 18 de setembro de 1970, tendo como fundadores Vidaúl Ferreira, Arnaldo Matos, Fernando Rosas e João Machado.

Nesta altura, muitos jovens de esquerda estão desiludidos com o PCP por causa do esmagamento da Primavera de Praga e do Maio de 68, sendo o movimento "uma espécie de federação de grupos de ativistas -- os da tropa, os do setor operário, os estudantes, os intelectuais".

A adesão ao maoismo é explicada pelo autor com o fascínio "por uma linguagem radical, levados por amigos, num fenómeno cultural e ideológico, também explicado por um país que parece não ter saída para uma juventude, antes do 25 de Abril".

O autor recorda que Mao Zedong é o líder chinês que encanta uma geração europeia com a sua Revolução Cultural (1966-1976).

O MRPP chega ao 25 de Abril de 1974 com vários presos políticos e com o "mártir" José Ribeiro dos Santos, 26 anos, assassinado pela polícia política (PIDE) num encontro de estudantes em Lisboa, em 12 de outubro de 1972.

Os estatutos do MRPP definem que o programa consiste no "derrubamento da burguesia e demais classes exploradoras, na substituição da ditadura da burguesia pela ditadura do proletariado e na instauração da vitória do socialismo sobre o capitalismo. O objetivo supremo é a realização do comunismo".

O movimento estará sempre em oposição ao PCP, uma posição que "perdura por anos e anos" e será uma marca do partido.

"Com o 25 de Novembro [que o MRPP apoiou], começa o esvaziamento daquilo a que se chama o refluxo do processo revolucionário. Todos estes grupos de esquerda radical esvaziam-se no processo revolucionário. E começam todos a desaparecer. O MRPP foi dos únicos que ficou à tona", lê-se na obra de Miguel Marujo.

O partido maoista, designado Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP) a partir de dezembro de 1976, tem nestes mais de 40 anos dois rostos: Arnaldo Matos, denominado de grande educador da classe operária, até 1982, e depois Garcia Pereira, que deixa o partido em 2015, após ter sido candidato presidencial e em legislativas pelo círculo eleitoral de Lisboa.

Garcia Pereira sai do partido em rutura com Arnaldo Matos com acusações mútuas de "traição".

O partido que "marcou uma época" parece agora "resumir-se a uma nota de rodapé", conclui o autor.

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