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"Hoje sinto-me como peixe na água. O palco é o sítio de que mais gosto"

Foi há 20 anos que iniciou a carreira com a banda Silence 4. Depois do fim do grupo, David Fonseca lançou-se a solo. Hoje celebra uma data redonda com concertos marcados para os Coliseus de Lisboa e Porto.

"Hoje sinto-me como peixe na água. O palco é o sítio de que mais gosto"
Notícias ao Minuto

08:30 - 11/11/18 por Marina Gonçalves

Cultura David Fonseca

David Fonseca vai subir de novo ao palco do Coliseu, desta vez para assinalar uma data particularmente importante: 20 anos de carreira. Foi há precisamente duas décadas que o cantor foi descoberto com 'Silence Becomes It', disco de estreia da banda Silence 4. Quando o grupo chegou ao fim, o artista não abandonou a música, datando o seu álbum mais recente, 'Radio Gemini', de maio deste ano. 

‘Radio Gemini apresenta 20 Anos’ vai subir aos palcos dos Coliseus de Lisboa e Porto este mês de novembro, nos dias 14 e 16, respetivamente.

Um espetáculo que vai contar com muitas surpresas, além da atuação dos convidados Camané, Manuela Azevedo, Rita Redshoes e da espanhola Alice Wonder.

A poucos dias dos concertos, o cantor esteve à conversa com o Notícias ao Minuto e garantiu que vai ser uma “grande festança”. “Como é óbvio, quando se fazem comemorações costuma haver bolo e cantorias, festa. Neste caso, não sei se vai haver bolo, mas festa vai haver muita porque é uma data redonda”, acrescentou, referindo que vai “recordar as coisas que fez e olhar um bocadinho para trás, não deixando de estar aqui, no presente”.

Além dos espetáculos, David Fonseca fala ainda do lançamento do videoclipe da música ‘Resist’, que pertence ao seu mais recente álbum e que conta com a participação de Alice Wonder.

De novo no Coliseu, qual a novidade deste espetáculo em comparação com os anteriores, além dos novos temas e dos convidados?

Além dos convidados que temos, haverá uma série de surpresas no concerto que eu não posso revelar. Mas, sim, vão acontecer outras coisas que têm relação com a minha carreira e com o meu percurso e que sei que as pessoas gostam.

Vai ter em cima do palco todos os convidados que queria?

Vou ter os convidados que queria. Os que convidei aceitaram. Deu sorte desta vez.

O palco é, de longe, o sítio em que mais gosto de estar nesta atividade e se pudesse era apenas isto que fazia. Deixava os discos e tudo, só queria estar em cima do palco a tocar que é muito mais divertido Agora com 20 anos de carreira, sente os espetáculos e vive-os da mesma maneira?

Acho que senti os espetáculos sempre da mesma maneira. Até acho que gosto mais de dar espetáculos agora do que quando comecei porque fui aprendendo a estar em cima do palco. Não era uma coisa que me era totalmente natural. Fui aprendendo não a estar em cima do palco, mas a perceber o que queria fazer em cima do palco, porque comecei de uma forma muito tímida. Durante muito tempo, em cima do palco, era apenas a pessoa que cantava e ao longo dos anos fui descobrindo que tinha interesse em fazer outras coisas. Em tornar um espetáculo mais visual, mais dinâmico… Isso fazia com que tivesse de olhar para o espetáculo de uma forma completamente diferente. Hoje sinto-me como um peixe na água. O palco é, de longe, o sítio em que mais gosto de estar nesta atividade e se pudesse era apenas isto que fazia. Deixava os discos e tudo, só queria estar em cima do palco a tocar que é muito mais divertido.

Nunca tive essa coisa de olhar para trás e de ter saudades de uma coisa ou outra. Acho que as coisas aconteceram da forma que tinham de acontecerVai ser bom recordar todo este percurso? Quais os momentos que deixam mais saudades?

Saudades? Nenhumas. Não penso assim porque acho que não se pode ter saudades de uma coisa quando ela acabou. Prefiro que vivamos o que está a acontecer agora. Gostei muito de tudo o que aconteceu, mas, felizmente, a minha carreira é muito ativa e muito viva no momento presente. Sempre foi aliás, nunca tive essa coisa de olhar para trás e de ter saudades de uma coisa ou outra. Acho que as coisas aconteceram da forma que tinham de acontecer. O que foi bom viveu-se e o que foi mau também se viveu.

Daqui a 20 anos vamos estar em 2038, parece uma data de um futuro muito longínquo. Não sei se nessa altura se dão concertos de 40 anos de carreira, se calhar já ninguém faz issoDaqui a 20 anos imagina-se a fazer outro concerto para celebrar os 40?

Não faço a mais pequena ideia, não faço futurologia. Se me perguntassem em 98 se ia dar um concerto de 20 anos dizia logo que não. Não estava a ver como é que isso ia acontecer. Acho difícil fazer essa futurologia e nem sei bem se é isso que desejo. Desejo que a minha vida artística seja desafiante e não sei se daqui por 20 anos continua a ser desafiante fazer música, se calhar, cá estarei a fazer esse concerto ou outra coisa qualquer. Sabe Deus, daqui a 20 anos vamos estar em 2038, parece uma data de um futuro muito longínquo. Provavelmente já haverá naves e carros que voam… Não sei se nessa altura se dão concertos de 40 anos de carreira, se calhar já ninguém faz isso.

Todos os videoclipes que existem em Portugal, por mais produção que tenham, são sempre uma produção extremamente caseiraDias antes dos concertos, lançou o videoclipe da música 'Resist' (um tema que conta com a participação de Alice Wonder que faz parte deste novo álbum) e voltou a mostrar a sua criatividade audiovisual… Como é que surgem as ideias para a gravação de um vídeo? Em que se inspira?

Não sei… É sempre uma luta muito grande quando faço um vídeo porque nunca sei exatamente o que vou fazer. Acho que me inspiro na música em si, o que é que a música diz e como é que visualmente funciona na minha cabeça. Quando encontro esse sítio depois tento perceber como é que isso é filmável, porque nem sempre aquilo que tenho na cabeça é filmável. Às vezes pura e simplesmente não é filmável, outras porque não temos orçamento para fazer as ideias que temos na cabeça. Na realidade, isto é uma coisa que a maior parte das pessoas não sabe, mas a indústria dos videoclipes não é a que tem mais poder económico porque não é, de facto, uma indústria que tenha muito dinheiro para conseguir subsistir. Ou seja, tem de ser tudo muito de forma caseira.

Todos os videoclipes que existem em Portugal, por mais produção que tenham, são sempre uma produção extremamente caseira. Por isso, temos de encontrar todas essas coisas numa só. Uma ideia que seja possível fazer esse tipo de produção mais pequenina, porque não é uma publicidade, um filme ou uma longa-metragem, é um videoclipe que é o parente financeiro mais pobre do que todas as coisas que acabei de mencionar. É complexo fazer um vídeo com poucos meios e apenas com ideias. Tem de haver muita criatividade e é isso que tenho tentado fazer ao longo da minha carreira.

E como foi a experiência de gravar com a Alice Wonder?

Gostei muito porque eu adorava a voz dela. Conheci-a no Instagram e sempre que ela publicava coisas a cantar eu ficava fascinado com a voz dela porque achava, de facto, uma voz tão diferente de uma miúda tão nova… Achava fora do comum. Quando fizemos o tema fiquei alegremente surpreendido porque julgava que ia ficar incrível mas não tão bonito como ficou, porque ela tem uma maneira muito sui generis de cantar. Uma abordagem completamente diferente da que estava habituado. É uma voz completamente diferente da minha e isso foi também o que me atraiu. A minha voz é talvez mais dura, mais direta e a dela um bocadinho mais doce, frágil. Achei que esse contraponto iria ter uma vantagem grande dentro da canção.

Qual o feedback recebido dela após o trabalho?

Ela gostou muito de tudo o que fez porque só agora é que lançou o seu disco de estreia, tem pouca experiência de estúdio, de fazer estas coisas. Acho que gostou do processo todo e do resultado final. Foi um encontro feliz para os dois.

Quem faz uma carreira longa é uma espécie de prova de resistência porque só há uma maneira de isso acontecer, que é gostar efetivamente muito daquilo que se faz Qual o filme e a música que melhor descrevem este momento da sua carreira?

O filme não faço ideia, mas a música seria esta, ‘Resist’. Não é irónico? Apesar de não ser disso que a música fala, a palavra serve para isto. No fundo, quem faz uma carreira longa é uma espécie de prova de resistência porque só há uma maneira de isso acontecer, que é gostar efetivamente muito daquilo que se faz e olhar para todos os projetos como se fosse o primeiro. Olhar para eles como se fosse a primeira vez que vai entrar nesta aventura. E ao entrar nesta aventura, temos de partir de coração aberto, de expectativas e sonhos, porque senão as coisas desmoronam-se rapidamente.

Quando a pessoa tem ideia de que está tudo garantido, de facto não está. É uma área onde é preciso trabalhar imenso para conseguir fazer chegar as canções às pessoas porque cada vez mais a concorrência é enorme e há muitas formas de fazer chegar a música, mas são complexas e fragmentadas. É um momento em que é preciso a tal resistência sistemática para estarmos a fazer esta atividade. Mas tem corrido bem, por isso, acho que vou continuar a fazer exatamente como estou a fazer.

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