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Museu do Chiado tem de ter mais meios para ser "a casa dos artistas"

A diretora do Museu de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, Emília Ferreira, defende que aquela entidade deve ter meios para ser "a casa dos artistas" plásticos, dando razão às críticas do grupo que entregou uma carta reivindicativa ao Governo.

Museu do Chiado tem de ter mais meios para ser "a casa dos artistas"
Notícias ao Minuto

13:35 - 27/10/18 por Lusa

Cultura Emília Ferreira

"Os artistas têm razão. O Museu do Chiado não tem capacidade de apoiar a classe artística contemporânea", disse a responsável à Lusa, questionada numa entrevista à agência Lusa sobre aquela missiva que um grupo de 200 artistas entregou este mês ao primeiro-ministro, António Costa.

Na carta, os artistas lamentavam a falta de apoios nesta área, e o respetivo impacto negativo na vida dos artistas e na arte contemporânea portuguesa, criticando também aquele museu.

Segundo a responsável, "não tem havido meios, situação que vem de há anos, mas há vontade política de mudar", declarou, mostrando-se crente no diálogo, "embora Portugal nunca poderá vir a adquirir muitas obras de arte, porque não é um país rico".

"Mas há formas de se fazer mais do que se tem feito, e isso é urgente", defendeu, na primeira entrevista que dá desde a nomeação para a direção do Museu do Chiado, há cerca de um ano.

O Museu do Chiado foi fundado em 1911, como Museu Nacional de Arte Contemporânea, e o seu acervo integra mais de 5.000 peças de arte, num percurso cronológico desde 1850 até à atualidade, incluindo pintura, escultura, desenho, fotografia e vídeo.

"Tal como esses artistas disseram [ao primeiro-ministro], o Museu do Chiado deve ser a casa dos artistas vivos, porque os outros museus trabalham com artistas mortos, que já não precisam de ajuda, e este é o único museu nacional de arte contemporânea", anuiu.

Emília Ferreira recordou os problemas estruturais do museu, que têm a ver com a falta de espaço, pese embora ter sido alargado ao espaço da Rua Capelo, nos recursos humanos e financeiros, assinalando que há poucos meios para adquirir novas obras.

A responsável disse, na entrevista, que pretende seguir neste museu uma filosofia de "trabalhar para atrair o público, sem perder a qualidade", e sem ter de recorrer a exposições 'blockbusters', como foi a dedicada a Amadeo de Sousa-Cardoso, no ano passado, que fez aumentar muito os visitantes do museu.

Nesse sentido, Emília Ferreira pretende conquistar público de forma inclusiva, criando exposições com conteúdos, "que divulguem artistas menos conhecidos, também alvo de investigação, e despertem o interesse dos especialistas e do público, sem terem de ser apresentadas de forma simplista".

"O nosso foco será na coleção do museu e dá-la a conhecer cada vez mais. Uma relação nem sempre é um amor à primeira vista. Pode ser construído, e o público pode vir regularmente ao museu conhecer os seus amigos, que são os artistas. Pode eleger algum da sua preferência e descobri-lo de vez em quando", sugeriu.

Paula Rego, Helena Almeida, Amadeo de Sousa-Cardoso, Jorge Pinheiro "e tantos outros artistas merecem ser vistos pelo público e disponibilizarem-se a sentir emoções com as suas obras, que estão nos museus".

A diretora do Museu do Chiado vai mais longe e defende mais apoio para a cultura, uma área que, no seu entender, vai ser cada vez mais importante no futuro.

"Portugal é conhecido pelo turismo de praia e pela gastronomia, mas está na altura de investir no turismo cultural. A cultura vai ser a grande indústria do século XXI, e é esse barco que temos de apanhar", defendeu, rejeitando as opiniões de que os artistas querem viver de subsídios.

Para Emília Ferreira "não faz sentido que as pessoas aceitem pagar preços elevados por bilhetes de futebol, e depois não queiram consumir cultura, que é a sua identidade".

"A cultura é algo que nos define, que nos salva e que nos perde. Não podemos dizer que a beleza e a perturbação vinda das obras de arte não servem para nada. Os artistas têm essa função de nos maravilhar, de nos manter alerta e de nos perturbar", salientou à Lusa.

Considera que "se Portugal quer progredir como país, tem de apoiar o que mais o distingue, que é a cultura, as artes, a música, a literatura, a dança e a gastronomia".

Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Emília Ferreira é mestre e doutora em História da Arte Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL).

A sua tese de doutoramento, intitulada "Lisboa em Festa: a Exposição Retrospetiva de Arte Ornamental Portuguesa e Espanhola, 1882. Antecedentes de um Museu" foi recentemente publicada em livro, no âmbito da coleção Estudos de Museus, uma parceria DGPC/editora Caleidoscópio.

Trata-se de uma obra sobre o "primeiro sucesso maciço de público" em Portugal, acontecimento que esteve na génese do Museu Nacional de Arte Antiga.

É investigadora do Instituto de História da Arte (UNL) e investigadora associada na Universidade de Victoria, Canadá.

Curadora de exposições de artes plásticas, educadora e também escritora de ficção, colabora com o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, desde 1997, e foi membro da Casa da Cerca -- Centro de Arte Contemporânea, em Almada, de 2000 a 2017.

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