Uma casa sem paredes, um jardim para o futuro e outras artes nos Açores
Está a decorrer na ilha de São Miguel, o festival de artes Walk&Talk. No ano em que o evento ganha nova morada, é feito um breve balanço das oito edições ao Notícias ao Minuto.
© Walk&Talk
Cultura Walk&Talk
Nasceu em 2011, numa edição mais tímida, que se cingiu à cidade de Ponta Delgada e contou com cerca de 30 artistas - nacionais e estrangeiros. Oito anos depois, o festival, que já foi referido pelo New York Times e outras publicações de renome, mostra-se mais maduro, tendo sido distinguido em Bruxelas com o selo EFFE, que destaca os melhores de cada área a nível europeu.
Apesar da visibilidade ‘lá fora’, que cresce também graças aos artistas que anualmente vêm de todo o mundo a convite para atuar no arquipélago, os açorianos não são postos em segundo plano. Pelo contrário, a sua presença é querida, e espera-se que participem nas várias formas de arte que marcam as duas semanas do festival – algumas das quais com duração efémera, visto que terminam com o fim do festival.
É o caso do pavilhão temporário que foi montado em frente ao Teatro Micaelense e que se apresenta como o epicentro do Walk&Talk. A falta de paredes é propositada e convida à entrada e exploração sem limites daquele espaço que acolhe algumas das atividades que completam o programa como workshops ou conversas.
“O facto de termos construído um pavilhão no centro da Praça São João ajuda a que ganhemos uma certa autonomia, porque temos casa própria”, conta-nos Sofia Carolina Botelho, que pertence à equipa de diretores artísticos, admitindo que a afluência do público tem sido muito positiva e melhor do que a do ano anterior. Além disso, sublinha, a um mês do arranque, o festival perdeu o espaço que utilizava como ponto central do evento, obrigando a uma alternativa menos central, numa zona residencial onde “se perdia” o diálogo e participação dos curiosos que se quer num festival aberto como este.
Com nova casa e a quatro dias de terminar a 8.ª edição, o balanço é já bastante positivo, estando o circuito de arte já “praticamente pronto”, confirma Sofia Carolina Botelho ao Notícias ao Minuto, e destaca a peça de Navine G. Khan-Dossos, pintada na Avenida Marginal de Ponta Delgada, virada para o mar, que aborda a questão do papel da mulher ao longo da história.
No Parque Urbano da mesma cidade, está a peça da dupla de artistas Sasha Pohflepp e Chris Woebken que em conjunto com botânicos locais que ‘prepararam’ um jardim para 2100, que é pensado para sobreviver às alterações climatéricas. Já um pouco por toda a ilha, foi distribuída a peça 'Atropelos', que “é mais efémera”, explica a diretora criativa do festival.
Esta é apenas uma pequena amostra de todas as peças que se apresentam nas mais variadas expressões artísticas - do artesanato ao teatro – que fazem crescer o circuito de arte pública da região, que já se espalha por duas ilhas.
Chegar a outras ilhas é algo que acontecerá naturalmente e de acordo com os projetos
Apesar deste crescimento, “chegar a outras ilhas é algo que acontecerá naturalmente e de acordo com os projetos”, esclarece Sofia Carolina, que explica que a chegada à ilha Terceira foi uma experiência: “Ainda estamos a perceber o que melhor funciona a nível de ocupação. O ocupar outras ilhas é algo que não conseguimos fazer sozinhos enquanto associação. Não faz sentido reproduzir o festival noutra ilha se não estamos lá. O que faz sentido, sim, é haver esta lógica de explorar outras ilhas, com projetos que façam circular a arte noutros territórios”.
Como exemplo, fala-nos da artista que foi convidada para o festival, em São Miguel, e que apanhou o barco para o Faial por estar a desenvolver um documentário sobre vulcões. “Fazia todo o sentido visitar o Vulcão dos Capelinhos. Este tipo de exploração interessa-nos muito mais do que replicar o festival de ilha em ilha.”
Num balanço mais geral, a organização assume que tem vindo a alterar algumas estratégias: “Repensamos o formato e, com um maior número de apoio, em vez de aumentar o programa optamos por investir na estrutura, que é hoje mais forte, tem melhores condições de trabalho.”
O que se mantém desde a 1.ª edição, enquanto aposta que não perde força, é a atenção a atitudes sustentáveis: além da preferência por materiais da região. O desperdício é mínimo e os artistas de peças efémeras têm em conta o ‘depois’ de cada peça. O Pavilhão Temporário é um destes casos, em que se opta por matérias endógenas, nomeadamente a criptoméria, que será, depois do festival, vendida a baixo custo e reutilizada noutras construções. Os copos reutilizáveis, que surgem pela primeira vez esta edição, são outra aposta que se prevê manter nos próximos anos.
A 8.ª edição do Walk&Talk em São Miguel termina no próximo sábado, dia 14, com uma festa de encerramento a acontecer no próprio Pavilhão ao som dos DJs Voyagers
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