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José Saramago sobe ao palco pela voz de atores com Trissomia 21

Quatro anos depois de muitas aulas, os atores da companhia TriActo sobem ao palco com um conto de Saramago para mostrar que são mais do que um rótulo chamado trissomia 21 e que cada um é um caso de superação.

José Saramago sobe ao palco pela voz de atores com Trissomia 21
Notícias ao Minuto

10:00 - 29/06/18 por Lusa

Cultura Teatro

A estreia aconteceu na quinta-feira, dia 28, no Fórum Picoas, em Lisboa, e os dias anteriores foram de ensaios intensos, entre marcações, acertar as luzes ou afinar os últimos detalhes para levar a palco "A maior flor do mundo", um dos contos infantis escritos por José Saramago.

Inês Vigário, 24 anos, é o narrador da história, um papel de responsabilidade que a tem obrigado a conciliar ensaios diários com o trabalho que tem numa empresa de elevadores.

"Da estreia tenho um bocado de medo porque é verdade que eu às vezes esqueço-me um bocado das falas. Eu posso saber já as minhas, mas quando um se engana, enganamo-nos todos", afirma, em declarações à Lusa.

Já Rodrigo Andrade, 34 anos, admite que os ensaios têm sido difíceis, principalmente a parte de decorar as falas, que tem de conciliar com as marcações ou respirar corretamente enquanto fala. Nada que o demova do seu maior sonho, nascido depois de ir ao teatro.

"Da primeira vez que fui assistir à 'Fada aborrecida' eu pensei para mim mesmo 'porque não fazer teatro', porque o meu sonho é fazer novelas e aí eu pensei 'porque não começar já a ter fama e a ter sucesso'", contou, admitindo o seu gosto pelas telenovelas brasileiras.

Luís Farrolas, 25 anos, não tem medo das palavras e não hesita em afirmar que não só ama o teatro, como os professores e os encenadores, que vê como uma família.

"Quero ajudar a minha família e pensei 'vou ao teatro ser ator profissional, é isso que eu gosto, é isso que eu amo, tenho garra para isso'. Isso é a minha vida e vou continuar até ao fim", afirma, acrescentando que gostava de contracenar com os atores Pedro Granger e Rita Pereira.

De acordo com Elisabete Pedreira, uma das encenadoras, esta é a primeira vez que a companhia de teatro, constituída por 12 atores, se apresenta ao público em geral, e a peça escolhida não podia ser outra.

"Este conto foi escolhido porque fala sobre superação, a superação de uma criança que sai, salta o muro da aldeia para ir ver e ir mais além. E é o que se passa com estes jovens. Eles saltam o muro e vão ver mais além através do teatro", defende.

Para Elisabete, o maior desafio é o tempo, ou a falta dele, para conseguir trabalhar e ensaiar mais, mas também faltam apoios, já que aqui todos estão de corpo e alma, mas sem remuneração.

"[Gostava] que conseguíssemos fazer sempre peças, duas ou três por ano e que todos fossem remunerados por isso, que fossem atores profissionais, ou seja, que sentissem uma recompensa além do prazer que têm", diz a encenadora.

Inês Lopes, 26 anos, quer fazer teatro "até ao fim da vida": "Gosto muito de estar lá no palco. Sinto-me bem, sinto-me livre".

O mesmo desejo tem João Miranda, 25 anos: "Gostava de ser ator e quero concretizar o meu sonho".

A criação da TriActo surgiu no final do ano passado, da vontade de Patrícia Vasconcelos, da escola de atores ACT, quatro anos depois de ter começado com aulas de teatro para jovens com trissomia 21, com o apoio da associação Pais21.

"Eles mereciam crescer para outra responsabilidade, a de criar grupo de teatro, ter ensaios, mais horas de ensaios, terem um objetivo e de fazer toda a preparação de montar um espetáculo, de tudo o que isso significa", explicou à Lusa.

Patrícia Vasconcelos sublinha que esta é uma companhia de teatro para o futuro, que, depois dos três dias em que a peça vai estar em palco, pretende definir uma programação e "fazer uma coisa como deve ser".

"Eles não são um rótulo chamado trissomia, eles são o André, o Henri, eles são eles próprios e este momento de criação da TriActo (...) permitiu-lhes conhecerem-se a si próprios e terem muita autoconfiança, ouvirem a própria voz, transmitirem as ideias", defende, por seu lado, Carmo Teixeira, da direção da Pais21.

De acordo com a responsável, o grupo de teatro teve também como consequência o desenvolvimento das competências sociais destes jovens, que agora têm "um espaço em que criaram amigos" e "criaram laços que eram absolutamente impensáveis ao princípio".

Para o futuro, Carmo Teixeira espera que este seja apenas um primeiro passo no caminho para se tornarem atores profissionais e "poderem, através desta companhia, ser conhecidos, poderem contracenar e fazer parte de outros projetos".

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