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Um bom ator? "É preciso grande talento. Pode ser uma pessoa linda mas..."

A Academia Portuguesa de Cinema traz a Portugal, pela terceira vez, um conjunto de diretores de casting internacionais no âmbito da iniciativa PASSAPORTE'18. Nelson César de Assis Fonseca é um desses profissionais. O Notícias ao Minuto falou com o gerente artístico de elenco da TV Globo sobre a participação na iniciativa, a sua profissão e a de ator, incluindo o que faz falta hoje em dia.

Um bom ator? "É preciso grande talento. Pode ser uma pessoa linda mas..."
Notícias ao Minuto

18:07 - 24/05/18 por Anabela de Sousa Dantas

Cultura PASSAPORTE'18

Nelson César de Assis Fonseca é natural de Belo Horizonte, capital do Estado brasileiro de Minas Gerais, e desde cedo que trabalha no meio artístico. Começou num grupo de teatro e de dança, dando os primeiros passos no mundo do espetáculo após uma mudança para o Rio de Janeiro, onde, mais tarde, conseguiu entrar para a TV Globo.

O agora gerente artístico de elenco está em Lisboa para participar no PASSAPORTE'18, uma iniciativa da Academia Portuguesa de Cinema que pretende aproximar os atores portugueses de diretores de casting internacionais, abrindo portas a possíveis oportunidades além fronteiras.

“Estou muito curioso, é muito interessante um evento como este, pela possibilidade de conhecer atores portugueses, sendo que agora há cada vez mais intercâmbio”, começou por indicar Nelson, dando exemplos como o dos atores Ricardo Pereira, Nuno Lopes, Maria João Bastos ou Paulo Rocha, que fazem carreira por terras de Vera Cruz. "E muitos estabelecem-se lá, como Ricardo Pereira e Paulo Rocha. E também há quem venha para cá, como o Thiago Rodrigues", frisou.

“Acho muito interessante esta troca de conhecimento entre diretores de casting e atores”, acrescentou, em conversa com o Notícias ao Minuto. Nelson recordou o exemplo de José Fidalgo, que participou na novela ‘Deus Salve o Rei’, onde contracenou com Bruna Marquezine: “Foi uma indicação do André Reis, que o conheceu aqui numa edição do PASSAPORTE”.

"A pessoa se tiver talento e carisma, se for um artista, ninguém impede"

Nelson entrou para TV Globo como assistente de produção e passar do tempo (e a experiência) acabou por culminar na sua atual posição: gerente artístico de elenco. A trabalhar naquela estação há cerca de 20 anos, o profissional acredita no talento como o principal impulsor.

“O produtor de elenco não tem tanto poder assim”, indicou, respondendo à pergunta sobre se a sua profissão é aquela que faz a diferença numa carreira. “A pessoa se tiver talento e carisma, se for um artista, ninguém impede. Mais do que sorte, acho que é o momento, a oportunidade”, acrescentou.

No entender do diretor de casting, a principal característica da sua função é “ter a sensibilidade de estar a ver uma peça de teatro, reparar num tipo que está ali no canto e perceber que tem futuro”. “Não existe uma universidade para o produtor de elenco ou para o diretor de casting. Não existe fórmula. Trata-se de sensibilidade, ter um olhar para aquilo”, afirmou.

“Quando era produtor de elenco, numa novela que eu fiz com Ricardo Waddington [direção de núcleo], que era do Benedito Ruy Barbosa [autor] - ‘Cabocla’ (2004), um remake do Benedito, que tinha sido feita lá atrás – havia o desafio de encontrar dois atores para as personagens de Tomé e Tobias, muito importantes. Foi aí que eu encontrei o Malvino Salvador e o Eriberto Leão que já estava no mercado. Mas o Malvino era modelo, era um iniciante. Tinha alguma experiência de teatro, mas era um iniciante. Começou a carreira dele ali, eu achei que era o momento. É esse que eu acho que é o fator sorte”, recordou, sublinhando que “o momento é que faz a carreira”.

O que falta nos atores de hoje? "Formação, leitura, conhecimento"

Por outro lado, o talento continua a ser o bem mais valioso: “Acho que é impossível realizar algum produto sem haver um grande talento. Pode ser a pessoa mais linda do mundo mas…”.

Admitindo que, atualmente, a produção artística se faz em cada vez mais quantidade e cada vez mais rapidamente, Nelson Fonseca acredita que nem todos os atores têm a formação dos atores de antes. “Fernanda Montenegro, Italo Rossi, Sérgio Britto, Suzana Vieira, Tony Ramos. São atores que não foram escalados pelo tipo, foram escaladas pelo talento e pela formação. Não é por causa da cor dos olhos, da forma do nariz… Agora, a escolha por tipo é muito forte, escolher pelo tipo de pessoa”, afirmou.

O que falta nos atores de hoje? “A formação, a leitura, o conhecimento, o aprofundamento na estrutura do que é ser um ator. Agora acontece muito encontrar um ator que é lindo e ele funciona. Essa pessoa vai ter sucesso porque é linda, vai ter não sei quantos milhões de espetadores. O tipo começa a vender. Isto tornou-se num mercado paralelo que coloca a pessoa lá em cima. Mas se se abrir essa pessoa, lá dentro não mora ninguém. Não estou a generalizar, mas é uma coisa que existe e que é muito preocupante”, confessou.

Nelson Fonseca crê que é urgente “ter consciência do que é o ofício do ator”. E dá o exemplo de Fernanda Montenegro: “Ela tem o ofício nela, sabe o que é chegar a horas, sabe o que é decorar um texto, o que é entender uma cena, o que é dividir uma cena, um palco. Tem o ofício na alma”.

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