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Novo livro de Marta Chaves é uma "varanda" para a sua vida

Psicóloga clínica há 14 anos, Marta Chaves começou a publicar os seus poemas em 2008, primeiro em antologias e revistas, depois em livro, o último dos quais, publicado no final de abril, marca a sua estreia na Assírio e Alvim.

Novo livro de Marta Chaves é uma "varanda" para a sua vida
Notícias ao Minuto

17:02 - 10/05/18 por Lusa

Cultura Assírio e Alvim

'Varanda de Inverno' é o título do sexto livro de Marta Chaves, nascida em Coimbra, em 1978, e residente em Lisboa, onde concilia duas vidas diferentes: a de psicóloga clínica e psicoterapeuta, e a de poeta.

Apesar de só ter começado a revelar os seus poemas em 2008, e de ter começado a publicá-los em livros a partir do ano seguinte, Marta Chaves começou a escrever aos 15 anos, impelida por uma música e por um livro de poesia.

"Ter ouvido o 'Gloomy Sunday' interpretado pela Diamanda Galás foi uma das situações que me lembro claramente de ter levado a que escrevesse um dos primeiros poemas e, antes disso, foi ter visto a capa do livro 'O Medo', do Al Berto, com uma fotografia feita pelo Paulo Nozolino ao poeta, numa homenagem a Caravaggio", contou, em entrevista à Lusa.

A partir dos 17 anos começou a escrever de forma mais intensa.

Lê várias vezes os mesmos poetas, não para procurar inspiração, mas por uma "necessidade recorrente", que a faz voltar sempre a Herberto Helder, Sophia de Melo Breyner Andresen, Ruy Belo, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza Neto Jorge, Manuel de Castro, E.E. Cummings e T.S. Elliot.

Os cinco livros de poesia que antecedem este - 'Onde não estou, tu não existes' (2009), 'Pensa que deixou de pensar nela' (2010), 'Dar-te amor e tirar-te a vida' (2012), os três pela editora Tea for One, 'Pedra de Lume' (Paralelo W, 2013), e 'Perda de Inventário' (Alambique, 2015) -, foram publicados com pouco tempo entre eles.

'Varanda de Inverno' marca o período mais longo em que a autora esteve sem publicar (três anos), um tempo pelo qual se sente "grata", pois permitiu-lhe "um crescimento e movimentos" que levaram a que o livro "se apresente como está".

"O tempo e liberdade que tive para escrever este livro (um ano e um mês até estar terminado), foram essenciais para o livro respirar tal qual como respira. Sinto claras mudanças que se prendem com a minha forma de estar e ver o mundo, de ter conseguido um espaço onde assumo a primeira pessoa em quase todos os poemas, coisa que não acontecia tão frequentemente nos livros anteriores", assume.

O foco no presente também traz mudanças que espelham um "amadurecimento" e uma "linguagem mais limpa e clara".

Depois de três títulos, que davam nome a poemas, Marta Chaves acabou por escolher 'Varanda de Inverno', uma ideia que lhe surgiu uma semana antes de entregar a prova final à editora, e que lhe pareceu evidente que daria a melhor abertura para este livro: "É uma varanda que dá para a minha vida".

A história da escolha dos títulos é uma história que "acaba por ser engraçada" - diz -, porque dois deles já existiam em formas muito aproximadas aos que tinha escolhido e, de cada vez que o descobriu, teve de pensar num novo e alterar.

À terceira parecia ter acertado. No momento em que chegou a 'Fria Claridade' - título inicialmente anunciado pela própria Assírio e Alvim -, julgou fazer jus à capa com a fotografia que escolheu, do artista visual Daniel Blaufuks.

A capa manteve-se, o título acabou por mudar e esta varanda que se abre agora aos leitores revela uma poesia com um registo bastante económico que origina poemas muito curtos, poemas que surgem naturalmente, tal como aparecem nos livros, explica.

"Não se trata de uma edição exaustiva, de burilar o poema. São como são", afirma Marta Chaves, para quem a sua experiência enquanto psicóloga clínica não é alheia a esta forma de escrever.

A consequência mais imediata que encontra entre os dois universos, é o facto de a natureza da relação terapêutica implicar muito a escuta e a fala, isto é, assentar muito sobre a linguagem.

"De resto a ligação entre a poesia e a psicologia, é a mesma que encontro entre a poesia e a vida. Tudo se constitui como experiência de vida que nos situa no mundo. Na prática clínica há um trabalho de exploração narrativa que na poesia também se dá", acrescenta a autora.

No entanto, estas duas esferas da sua vida não se misturam, mas também não estão compartimentadas, esclarece Marta Chaves, que tem a psicologia como profissão e a poesia como um impulso, que resulta das suas vivências e da sua liberdade.

"Imagino que se tivesse outra profissão, seria igual o modo como concílio o trabalho com a escrita, uma vez que os poemas não batem à porta e não lhes digo para entrar ou esperar. Escrevo quando tenho esse impulso. Não estipulo horas para fazê-lo".

Reconhece que a sua profissão tem a vantagem de lhe permitir gerir os horários e ter consciência de que precisa de ter tempo livre para poder parar, ler, ouvir música e viajar.

"Essas vivências são as que me dão condições para escrever. É uma escolha da qual não abdico, ser livre e independente, não correr atrás do tempo. Faço-o meu".

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