A BYD abriu esta quinta-feira (9 de outubro) a sua maior fábrica fora da Ásia. Localiza-se no Brasil, no Estado da Bahia, e representa um projeto de quase 900 milhões de euros.
A cerimónia de abertura do complexo de Camacari, no Estado da Bahia, construído nas antigas instalações da norte-americana Ford, contou com a presença do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, informou hoje o jornal de Hong Kong South China Morning Post.
"Estamos aqui não apenas para construir carros, mas para construir o futuro -- um futuro que pertence a cada brasileiro que optar por um transporte mais limpo", afirmou durante a cerimónia de quinta-feira o fundador e presidente da BYD, Wang Chuanfu, de acordo com o jornal em língua inglesa.
A nova unidade representa um investimento de 5,5 mil milhões de reais (883 milhões de euros) e será a maior fábrica de carros elétricos da América Latina.
A produção arranca com capacidade anual de 150 mil veículos, podendo atingir 300 mil numa segunda fase. A expectativa é que o projeto gere mais de 20 mil empregos diretos e indiretos quando estiver totalmente operacional.
Os primeiros modelos produzidos incluem o SUV híbrido Song Pro, o compacto elétrico Dolphin Mini e o sedan híbrido King. A BYD apresentou ainda uma edição especial do Song Pro com motor híbrido flex - desenvolvido para o mercado de etanol brasileiro.
Desde que entrou no mercado brasileiro de veículos de passageiros em 2022, a BYD vendeu mais de 170 mil carros eletrificados e tornou-se líder no segmento, com 74,4% das vendas de veículos elétricos ou híbridos, segundo dados do setor.
A marca já ocupa o sétimo lugar no mercado automóvel geral, superando fabricantes tradicionais como a Honda, com mais de 5,5% de quota.
Este crescimento meteórico gerou desconforto entre concorrentes e polémica. A associação brasileira de fabricantes de veículos, Anfavea - que representa marcas como Toyota, Volkswagen e General Motors - acusou a BYD de "dumping" (preço de venda inferior ao custo de produção) e criticou a isenção temporária de tarifas para veículos parcialmente fabricados no Brasil.
Após negociações, o Governo brasileiro concedeu uma isenção de seis meses no valor de cerca de 463 milhões de dólares (400 milhões de euros), mantendo o plano de aumento das tarifas sobre importações a partir de 2027.
A BYD rejeitou as acusações, sublinhando que os seus preços no Brasil são significativamente mais altos do que na China e que a produção local acarreta custos operacionais elevados.
Em comunicado, a empresa defendeu a necessidade de diferenciação fiscal entre veículos importados e fabricados no país como forma de incentivar o investimento industrial.
O projeto também enfrentou críticas relacionadas com condições laborais. No ano passado, o Ministério Público do Trabalho suspendeu temporariamente a obra após identificar casos de exploração laboral no estaleiro. A BYD afirmou ter colaborado totalmente com as autoridades e reiterou o seu "compromisso inabalável com os direitos humanos e laborais".
Apesar das controvérsias, o investimento está alinhado com os objetivos industriais e ambientais do Governo brasileiro. A empresa pretende atingir 70% de componentes fabricados localmente até 2028 e criar centros de investigação e testes no país. O projeto conta com apoio do programa federal Mover, que incentiva tecnologias automóveis mais limpas e eficientes.
Na cerimónia, Lula elogiou o investimento chinês como símbolo da retomada da industrialização e da sustentabilidade. "Deus escreve certo por linhas tortas. Precisou a Ford sair do Brasil para a BYD entrar. E acho que foi uma boa troca para nós, porque esta é a tecnologia mais importante da indústria automóvel mundial", afirmou.
O chefe de Estado brasileiro reforçou ainda o desejo de aprofundar as relações com a China, referindo-se ao homólogo chinês, Xi Jinping, como "amigo do Brasil" e destacando que ambos são líderes do Sul Global que "não aceitam interferência nos seus assuntos".
"Com esta fábrica, estamos a apresentar ao mundo um projeto de nação", declarou Lula. "Queremos uma relação civilizada com todos. Esta fábrica vai devolver dignidade ao povo de Camacari e permitir-lhes viver com mais qualidade e cabeça erguida", aponto.
Wang Chuanfu assegurou o compromisso de longo prazo da BYD com o Brasil: "Continuaremos a investir aqui. Queremos tornar-nos uma marca verdadeiramente brasileira. O futuro é elétrico e pertence a todos nós."
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