A atravessar um período de crise movida pela transição energética, a indústria automóvel europeia pode perder centenas de milhar de empregos no futuro próximo - incluindo 100 mil na Alemanha até 2030.
As contas são veiculadas pelo Automotive News, que cita a Bloomberg. São considerados os despedimentos previstos na Audi, Porsche e Volkswagen - todas estas são marcas do Grupo Volkswagen.
Fornecedores também sofrem forte impacto
Na Europa como um todo, segundo a Associação Europeia de Fornecedores Automóveis - CLEPA podem perder-se 300 mil a 350 mil trabalhos nos próximos anos. O setor emprega cerca de 1,7 milhões de pessoas no continente.
Os fornecedores de componentes são afetados por uma combinação de fatores como a quebra na procura por peças para motores de combustão, a concorrência chinesa e as dificuldades na transição para viaturas elétricas.
Um exemplo é a ZF, que planeia cortar 7.500 postos de emprego na divisão para unidades motrizes elétricas e baixar o investimento nas tecnologias para carros elétricos. O diretor-executivo da empresa, Mathias Miedreich, associa as medidas a uma transição mais lenta do que o esperado. O dirigente também está consciente de uma redução do mercado das transmissões automóveis, que exigirá um planeamento de longo prazo.
A Bosch prevê eliminar 13 mil empregos globalmente, enquanto a Schaeffler pretende eliminar três por cento dos seus 120 mil postos de trabalho. Já a Continental prevê centrar-se nos pneus e negócios industriais, acabando com a divisão para os automóveis. Já anunciou a intenção de cortar 3.000 empregos na divisão de pesquisa e desenvolvimento automóvel.
As falências na Alemanha deverão aumentar 30 por cento este ano, por comparação com 2024 - diz a consultora Falkensteg citada pela Automotive News. De janeiro a agosto, anunciaram falência 36 fornecedores.
O relatório da Falkensteg fala em "problemas estruturais muito profundos" e em desafios particulares para os fornecedores de componentes ligados aos motores de combustão. Estes terão dificuldades para encontrar investidores.
A concorrência chinesa
A procura de carros elétricos pode estar a ser menor do que o esperado, mas tem vindo a crescer. No entanto, boa parte desse crescimento regista-se na China, onde a concorrência local é forte.
Os custos para estes são mais baixos, além de o ritmo de inovação ser difícil de acompanhar. Pedro Pacheco, da Gartner, falou disso mesmo à Automotive News, sublinhando: "Se queres ter sucesso nesse mercado, precisas de apanhar vários fornecedores que já estão lá a operar".
Será esta a solução?
Eliminar postos de trabalho, reduzir investimentos e custos são os mecanismos mais imediatos que as empresas têm para evitar colapsos financeiros.
Mas Pedro Pacheco alertou: "Por vezes, quando situações assim acontecem, a primeira coisa que estas empresas fazem são fortes cortes de custos. Quando fazes fortes cortes de custos, limitas a tua capacidade para inovar".
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