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A curiosa história do primeiro português a estar numa temporada da NASCAR

Aos 41 anos, Miguel Gomes vai correr atrás do sonho de chegar aos EUA. Em 2021, o português será piloto oficial da Marko Stipp Motorsport na EuroNASCAR e... tudo começou nos jogos online.

A curiosa história do primeiro português a estar numa temporada da NASCAR
Notícias ao Minuto

08:51 - 19/04/21 por Ruben Valente

Auto Nascar

De um sonho nasceu a oportunidade e Miguel Gomes agarrou-a com unhas e dentes. Um amante de jogos online passou para as pistas reais e tornou-se no primeiro piloto português a garantir um lugar numa temporada oficial da NASCAR, a famosa competição de 'stock cars' dos Estados Unidos da América.

Aos 41 anos, Miguel Gomes vai competir na versão europeia da NASCAR, designada de EuroNASCAR, e numa entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto explicou-nos ao pormenor as diferenças para a tão aclamada modalidade norte-americana. 

Como passou das pistas ovais no computador para a realidade? Miguel Gomes falou-nos do seu percurso, dos seus primeiros testes e das expectativas que tem para este ano de competição. Afinal de contas, o sonho está apenas no início.

Fiquei fascinado como é que estava a fazer corridas com um piloto real. Ele disse-me depois: ‘se tens mesmo vontade de experimentar, eu posso indicar-te para fazer testes neste campeonato’Primeiro de tudo, como é que o primeiro português foi parar a uma temporada oficial da NASCAR?

Era algo que já andava a tentar há uns anos. Participei anteriormente na European Late Model Series, que é também com stock cars, mas não era uma série oficial da NASCAR. Fiz também algumas provas num campeonato britânico chamado VSR V8 Trophy, que também era com carros NASCAR, mas também sem ser oficial. Só fiz corridas esporádicas nestes campeonatos. Quando em 2014, esta prova europeia se tornou oficial da NASCAR tenho andado a seguir este campeonato… Cheguei a fazer uns testes em 2016, mas não tive ‘budget’ para entrar na altura. Depois disso ainda participei numas provas de recrutamento da NASCAR em 2020, fui fazer testes em dezembro de 2019, mas com a pandemia foi complicado e não deu para alinhar nesse ano. Este ano, finalmente, estão reunidas as condições para fazer uma época completa e vou alinhar na EuroNASCAR 2, que é como se fosse a segunda divisão da EuroNASCAR.

E antes disto? Qual é o percurso do Miguel Gomes no automobilismo?

A história é engraçada porque esta porta abriu-se devido ao ‘simracing’ [jogos online], sempre joguei, sobretudo em circuitos ovais. Desde 2003 que jogo e foi em 2006 que conheci um piloto que participava num campeonato britânico. Fiquei fascinado como é que estava a fazer corridas com um piloto real. Ele disse-me depois: ‘se tens mesmo vontade de experimentar, eu posso indicar-te para fazer testes neste campeonato’. Foi assim que entrei no automobilismo, em 2007. Fiz testes na pista de Rockingham em Inglaterra, que é uma oval de milha e meia. Não tinha experiência nenhuma de automobilismo e na altura consegui ser o mais rápido, mesmo havendo pilotos experientes lá. Mais tarde, surgiram as corridas que já referi anteriormente, até chegar agora à EuroNASCAR.

Notícias ao Minuto Miguel Gomes ao lado de um Ford Mustang, um dos modelos utilizados na EuroNASCAR© D.R.  

Qual o teu grande objetivo? Dar o salto para a competição nos EUA?

Encaro esta participação na EuroNASCAR, onde não há ovais, como uma porta que pode estar aberta para fazer corridas em pistas ovais na América. Isto já aconteceu a vários pilotos, entrarem para a competição na Europa e mais tarde irem para os EUA. É um sonho que tenho, o de fazer corridas em solo americano!

A NASCAR é uma competição bastante diferente dentro do que é o desporto motorizado. Para quem não acompanha tanto, como é que ‘venderias’ estas provas de automobilismo?

O foco da NASCAR é o piloto. As regras são feitas para os carros serem o mais iguais possíveis. Não há diferenças como vemos, por exemplo, na Fórmula 1. Na F1 podes ser o melhor piloto, mas se tiveres no pior carro, pouco podes fazer. Na NASCAR claro que há diferenças, mas tudo é mais competitivo. Depois, os carros são potência bruta e o foco está no piloto e na forma como ele consegue segurar todos aqueles cavalos sem grandes ajudas, nem grandes apoios aerodinâmicos. É força bruta em carros que tecnologicamente não são avançados. As provas em si também são espetaculares porque se decidem no fim. Há muito contacto entre os carros, muitas ultrapassagens, muita incerteza, lidar com os carros a centímetros… De vez em quando um ‘big one’ [grande acidente] ou outro. É todo aquele espetáculo e sobretudo o que acho interessante é o foco no piloto.

 Quando fiz os primeiros testes avisaram-me logo: ‘Não tires nunca o pé do acelerador de repente. Se fizeres isso, perdes o carro e vais parar ao muro’“É só curvar para a esquerda”, dizem alguns. É assim tão simples conduzir numa oval?

É só curvar para a esquerda, mas num carro muito exigente. Por vezes, não é fácil curvar para a esquerda e não deixar o carro fugir contra o muro. Pode parecer conduzir sobre o gelo, sabes? O carro é mesmo muito difícil de conduzir, mesmo só virando para a esquerda. É uma modalidade diferente, é quase comparar ralis com F1, são exigências diferentes. Quando fiz os primeiros testes avisaram-me logo: ‘Não tires nunca o pé do acelerador de repente. Se fizeres isso, perdes o carro e vais parar ao muro’. Portanto, ao entrar em curva é preciso desacelerar e travar ao mesmo tempo. Nunca podia tirar o pé do acelerador e travar. Era proibido, senão a traseira ficava fora de controlo. Vários pilotos de GT, que estavam lá nesse teste, isso fazia-lhes confusão porque a condução deles era muito mais agressiva. Na NASCAR, os ‘inputs’ têm de ser muito suaves, o carro não está preparado para uma condução agressiva.

Que diferenças existem de maior entre a NASCAR Cup Series dos EUA e a EuroNASCAR?

É um campeonato muito mais pequeno. Vão ser sete provas e não aquele campeonato longo da Cup, da Xfinity ou da Truck Series. É um campeonato mais abaixo, como é o Canadian Series, o Mexico Series, que são mais curtos. Este ano não há corridas em ovais na EuroNASCAR, mas não se pode correr em pistas ovais tão longas como nesses campeonatos. Como a EuroNASCAR também é feita em pistas convencionais, a questão das bandeiras amarelas também não é igual. Numa oval, por exemplo, uma bandeira amarela pode mudar mesmo tudo. Na EuroNASCAR não acontece tanto. Quanto à pontuação é ao longo do ano, a única diferença é que a prova final conta a dobrar, sem fases de playoffs. Outra coisa é engraçada é que no início do ano, vão haver provas de eSports e o melhor piloto de cada equipa poderá pontuar para o campeonato real. Os melhores vão pontuar como se fosse uma corrida extra da EuroNASCAR.

Notícias ao Minuto

Já se percebeu que preferes pistas ovais. Explica-nos um bocadinho o porquê.

É precisamente por essa proximidade constante dos adversários. Estás praticamente a corrida toda com alguém ao teu lado, sempre a discutir centímetros de pista. É uma condução diferente de uma pista convencional, é difícil explicar.

Quais as expectativas para esta temporada com a Marko Stipp Motorsport?

Vai ser uma época de aprendizagem e descoberta. Quero ver o quão competitivo serei. A equipa não é de topo, é talvez do meio do pelotão. Estas primeiras provas vão servir para aprender, evoluir e perceber como posso ser mais competitivo.

Vais correr com o teu #46?

(risos) Sim, vai ser esse o meu número. Desde que vi o filme 'Days of Thunder' que passei a gostar do #46. E descobri também que era o número que tinha num carrinho a pedais quando era pequeno.

Notícias ao Minuto  

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