"Isto é mágico", diz um dos seis alunos do 4.º ano da escola básica do Ingote, Coimbra, enquanto todos os presentes veem como é que a partir de ordens dadas por eles no computador um pequeno robot de cartão com bateria e motor se move no chão.

O projeto promovido pelo Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola n.º 10 (CASPAE) está a ser aplicado na primária do Ingote desde janeiro e o saldo feito pelos alunos é bastante positivo.

"Acho que é a coisa que gosto mais de fazer na escola", disse à agência Lusa José, de 12 anos.

Núria, outra aluna, conta que gosta das sessões da iniciativa, porque aprendem-se "muitas coisas".

Também Micael, de 10 anos, sublinha que "é divertido mexer nos computadores" e até se vê um dia a fazer disso profissão.

No entanto, o objetivo do projeto, que está dividido em vários subprojetos em diferentes estabelecimentos de ensino de Coimbra, não passa por procurar que estas crianças "sejam informáticas", sublinha Ricardo Almeida, membro do CASPAE que dinamiza as sessões no Ingote.

A partir do contacto com a programação, "motiva-se as crianças para outro tipo de aprendizagens. Basicamente, utiliza-se a programação como pedagogia mais abrangente", explanou.

Enquanto se desenvolve um jogo de um labirinto ou se monta o robot que será telecomandado, surgem problemas e situações que têm de ser resolvidos com base no raciocínio lógico ou em conhecimentos de matemática, como é caso de distâncias, ângulos, coordenadas ou percentagens.

"As escolas estancaram no tempo em relação ao resto. O projeto permite ir ao encontro da motivação das crianças, porque cada um aprende de forma diferente", realçou, referindo que no projeto é utilizada a ferramenta de programação Scratch criada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) para crianças.

Segundo a diretora do CASPAE, Emília Bigotte, o projeto "mais abrangente", intitulado All in Scratch, surgiu há dois anos e já é aplicado num jardim-de-infância, no ensino superior (em alunos de engenharia biomédica), no primeiro ciclo no Agrupamento Eugénio de Castro e no 2.º e 3.º ciclo, com um "clube de Scratch", na Escola Alice Gouveia.

"A ideia é tentar levar a linguagem da programação de Scratch ao maior número de crianças, jovens e até adultos", salientou a responsável, referindo que, para o projeto, a instituição conta com o apoio do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra.

O contacto com a programação permite "associar várias disciplinas, como o português e a matemática", através de uma atividade "lúdica e atrativa" para os alunos, salienta Carla Mendes, coordenadora do projeto Trampolim, que desenvolve há vários anos ações no Ingote.

"Os alunos mostram-se interessados, alguns com mais dificuldades do que outros, mas aprendem muito com este tipo de iniciativas", realça o monitor do Centro de Inclusão Digital do projeto Trampolim, Gonçalo Luciano.

Também para os pais dos alunos do Ingote este tipo de iniciativas são muito bem-vindas. A mãe de Núria, Fátima, salienta que este tipo de sessões "devia existir em todo o lado e até mais aqui".

"É um excelente incentivo para as crianças", frisou, realçando a importância do contacto com computadores, face à cada vez maior presença da tecnologia na sociedade.

"Quando estão connosco, estão sempre motivadas e gostam porque é algo diferente", salienta Ricardo Almeida, considerando que o projeto "tem pernas para continuar".