Meteorologia

  • 25 ABRIL 2024
Tempo
17º
MIN 13º MÁX 19º

"Mário Soares tinha dúvidas sobre se PCP ia mesmo votar em si"

O dirigente socialista José Manuel dos Santos afirma que Mário Soares concluiu que venceria as presidenciais de 1986 quando soube que o poeta comunista Armindo Rodrigues, na altura seu inimigo, iria votar em si na segunda volta.

"Mário Soares tinha dúvidas sobre se PCP ia mesmo votar em si"
Notícias ao Minuto

12:17 - 14/02/16 por Lusa

Política Manuel dos Santos

"Mário Soares sabia que ia vencer Freitas do Amaral na segunda volta das eleições presidenciais, mas tinha a dúvida - a única - se o eleitorado do PCP disciplinadamente ia mesmo votar em si", conta Mário Soares, membro da Comissão Política do PS, depois assessor de Soares em Belém.

José Manuel dos Santos recorda-se do momento em que o chefe de Estado entre 1986 e 1996 chegou mesmo à conclusão de que iria vencer, algo que aconteceu logo após o PCP ter feito um congresso extraordinário para decidir o seu voto contra Freitas do Amaral.

"Um intelectual do PCP, Armindo Rodrigues, que tinha sido muito amigo de Soares, ficou depois de 1975 seu inimigo feroz. Estavam de relações cortadas. Mas um familiar de Armindo Rodrigues disse a Soares que o poeta comunista ia mesmo votar nele na segunda volta das presidenciais", refere José Manuel dos Santos.

Recebida essa inesperada informação vinda de uma familiar do conceituado intelectual do PCP, Mário Soares concluiu imediatamente: "Se ele [Armindo Rodrigues] vai votar em mim, então vão votar todos os comunistas e eu já ganhei", disse o antigo Presidente da República, citado por José Manuel dos Santos.

Para a mudança verificada no comportamento dos eleitores comunistas, bem como de muitos cidadãos de outros quadrantes políticos que acabaram a votar em Mário Soares, José Manuel dos Santos aponta como determinante a perceção do papel histórico desempenhado pelo fundador do PS antes e depois do 25 de Abril de 1974.

"As pessoas podiam estar zangadas com o seu Governo [do Bloco Central PS/PSD]. Apesar de ter garantido a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), foi um Governo muito duro em termos de sacrifícios. Porém, olhando para trás, as pessoas percebiam o seu papel histórico antes e depois da democracia. Mário Soares era o que mais merecia ser Presidente da República", sustenta o dirigente socialista.

O colaborador direto de Soares nas suas lideranças no PS e como Presidente da República também destaca a qualidade dos tempos de antena da sua candidatura - tempos de antena que, na altura, eram mesmo considerados decisivos, a par dos debates.

"Os tempos de antena foram muito bem feitos, com uma equipa extraordinária a apoiá-lo: António Barreto, Vasco Pulido Valente, Alfredo Barroso, António Pedro Vasconcelos, Mário Barroso, Nuno Teixeira. As pessoas perceberam que Mário Soares, como Presidente da República, iria ser, em primeiro lugar, alguém que era a voz delas", defende José Manuel dos Santos.

Para este dirigente socialista, Soares era ainda alguém que "encarnava duas coisas: a continuidade histórica do país; e a superioridade política e moral da democracia".

"Ao ser Mário Soares o primeiro Presidente da República civil, isso deu à Presidência da República um papel central no nosso sistema político. Ainda recentemente Freitas do Amaral, seu direto adversário nas presidenciais de 1986, escreveu um artigo em que chama a Mário Soares 'Presidente modelar'. Mário Soares instituiu o modelo daquilo que o Presidente da República deve ser", sustenta José Manuel dos Santos.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório