Manuela Ferreira Leite não acredita no pretenso braço de ferro do atual Governo com a Bruxelas e adianta mesmo que será “um bocadinho aparente”. “No último mês tínhamos falado num certo mise-en-scène que eu acho que há sempre e que desta vez tem um foco muito especial sobre Portugal, pura e simplesmente por Portugal ser o único que está sob análise”, indicou.
A antiga ministra das Finanças explica, assim, no seu espaço de comentário da TVI24, que o atraso na entrega da proposta para o Orçamento do Estado colocou Portugal na lupa da Comissão Europeia, pois, regra geral, “os países são analisados em conjunto” e desta vez o país ficou “sozinho na mesa de negociações”.
“A aparente preocupação em relação a Portugal, acho que não é maior nem menor do que em relação a outros países”, acrescenta, levantando os casos de Espanha, Itália ou França.
Manuela Ferreira Leite diz, ainda, que, tendo em conta o que foi colocado no esboço orçamental, “o Governo português deve ter querido mesmo negociar com Bruxelas”.
“Devem ter querido mostrar, em termos políticos, (…) não diria que batem o pé mas que também não se conformam com tudo o que lhes diziam”, indica, explicando que os números que seguiam no Orçamento enviado não faziam sentido, pois não iriam ser aprovados.
A social-democrata sublinhou que Bruxelas cedeu nuns pontos e o Governo cedeu noutros. No caso de Bruxelas, Ferreira Leite destaca os critérios contabilísticos para medir as receitas e as despesas (despesas consideradas extraordinárias pelo Governo anterior não contam para o calculo do défice).
“A cedência do Governo português foi ter que ajustar o défice estrutural”, sublinhou. Neste sentido, “em termos formais e políticos, o Governo português ganhou”.
Primeiro porque “acaba por apresentar um Orçamento que tem o cuidado que as contas estejam equilibradas dentro dos critérios que estão a ser seguidos por Bruxelas e isso é bom para Portugal e para a sua credibilidade externa e ao mesmo tempo não tendo abdicado daquelas medidas que lhe garantia o apoio dos partidos que o apoiam na Assembleia, garantindo de alguma forma a aprovação do Orçamento”.
Seguidos estes dois pontos, indica Ferreira Leite, o Governo português “sai claramente beneficiado da negociação”.