Os dias do homem da freguesia de Rans, concelho de Penafiel, distrito do Porto, que é mais conhecido pelo diminutivo Tino mudaram esta semana com a suspensão das funções de calceteiro na Câmara Municipal do Porto, profissão que exerce desde os 15 anos pelo país em geral e há perto de duas décadas no Porto em particular.
Numa entrevista à Lusa durante a qual foi interpelado diversas vezes por pessoas que faziam questão de o saudar e congratular pela candidatura a Belém, Vitorino Silva disse que soube que ia conseguir as assinaturas necessárias no momento em que recolheu a segunda, porque eram já duas pessoas que "não podia deixar ficar mal": a primeira assinatura foi a da mãe, a 7.500.ª da filha.
"O meu quadradinho no dia das eleições de certeza absoluta que vai ser do tamanho do quadradinho dos outros e as urnas quando abrirem vão abrir para todos ao mesmo tempo. É isso que eu quero neste processo: provar que qualquer pessoa deste país, com mais de 35 anos, uma pessoa normal, pode chegar à varanda do mundo", afirmou Vitorino Silva.
Pessoa que atribui grande importância à simbologia das coisas (apresentou a candidatura presidencial na escada das Verdades, no Porto, e já se tinha declarado candidato à Câmara de Valongo às 11:44 do dia 20 de março de 2009 por ser o momento do ano em que o dia tem a mesma duração da noite), Vitorino Silva ficou satisfeito ao ver o seu nome ocupar o sexto lugar no boletim de voto, por ser o sexto de oito irmãos.
Finalizou o 9.º ano de escolaridade antes de acompanhar os irmãos no ofício de calceteiro em Mogadouro, no distrito de Bragança, onde, no primeiro dia de trabalho se espantou ao ver fogo-de-artifício: "E eu perguntei porquê foguetes e aquela gente disse 'chegaram os calceteiros'. Senti-me muito importante".
Aos 21 anos foi para o Exército, onde permaneceu durante sete meses e de onde só saiu para ocupar o cargo de presidente da Junta de Freguesia de Rans, depois do incentivo do irmão mais velho, Neca, que morreu num acidente de trabalho 11 meses antes de, a 12 de dezembro de 1993, Vitorino Silva ser eleito, pelo Partido Socialista, autarca com 544 votos, perto de 60% do total - anos mais tarde renovou o mandato com 67%.
O irmão mais velho de Vitorino Silva disse-lhe no Natal de 1992: "A única pessoa capaz de pôr Rans no mapa és tu". Vitorino riu-se e pensou "este gajo é tolo" porque, na altura, queria "fazer o que qualquer jovem fazia", ou seja, "beber uns copos e dar uns chutos na bola".
"Ele, para dizer aquilo, tinha de ter alguma razão e eu fui atrás da razão do meu irmão", reconhece hoje.
Entre essa eleição e a candidatura presidencial ficam a "criação" do 'Tino de Rans' pela comunicação social -- como o próprio classifica o congresso do Partido Socialista em 1999 -- e programas televisivos desde as 'Noites Marcianas' ao 'Big Brother VIP' passando pela 'Quinta das Celebridades'.
Sobre essas participações, Vitorino Silva lembrou a frequência no curso de Comunicação em Gaia e declarou que aproveitou a oportunidade de "comunicar para milhões".
Vitorino Silva diz-se preparado para os debates no âmbito da campanha e escusa-se a fazer um balanço dos dois mandatos de Cavaco Silva na Presidência da República porque "é passado". Agora o que o preocupa é "o futuro deste país".