Quando Vítor Gaspar anunciou a sua saída do Governo liderado por Pedro Passos Coelho, Portugal vivia uma situação política e económica bastante complicada. Hoje, o cenário é, bastante mais animador. A troika já abandonou o país, o desemprego tem vindo a baixar e há um clima económico, de certa forma, mais positivo. Mas o que mudou realmente? Esta pergunta é respondida com base na carta deixada pelo ex-ministro das Finanças aquando da sua partida.
Uma das críticas deixadas por Gaspar foi a da necessidade de o Estado responder aos seus compromissos internacionais, algo que era na altura considerado dificultado pelos sucessivos chumbos a normas orçamentais por parte do Tribunal Constitucional. Pois bem, um ano após a saída do governante, as indicações dos responsáveis do Palácio Ratton mantiveram-se, tendo-se registado novo chumbo. Porém, de frisar, há ainda medidas para 2015, no valor de 1,1 mil milhões de euros, que aguardam decisão por parte do coletivo de juízes.
O ex-responsável pela pasta das Finanças, acreditava ainda que existia espaço para um recuperação do investimento, por parte de empreendedores. Estava certo o economista, pois logo de seguida, no trimestre seguir ao abandono por parte de Gaspar das suas funções governativas, o cenário foi de recuperação, que se manteve até aos primeiros três meses de 2014, sendo esperado que este ano cresce 0,8%.
Outro dos motivos apresentados para a sua saída foi a crispação política vivida no seio do elenco governativo coligado. Aqui, sai “derrotado” Gaspar, pois após o anúncio da demissão ‘irrevogável’ de Portas, o centrista recuperou protagonismo, subindo a vice-primeiro-ministro, porém agora completamente vinculado ao cumprimento do memorando.
Desvios no cumprimento do acordado em termos de dívida e défice, em 2012 e 2013, representavam também para Gaspar motivo para admitir um falhanço. Todavia, uma melhoria da situação portuguesa nos mercados, bem como um maior fluxo de capitais, aliado a uma recuperação do consumo privado, permitiu a dispensa de um programa cautelar e da última tranche do programa de ajustamento.
Aqui, se no primeiro caso, muito será devido à intervenção do BCE neste âmbito, nos restantes quase tudo foi conseguido através do estabelecido através de medidas previstas no Orçamento do Estado.
Por fim, o desemprego, um dos principais flagelos da economia portuguesa, registou uma quebra de mais de 2 pontos percentuais, até ao início do primeiro trimestre deste ano, o que poderá ser explicado pela melhoria da economia, mas também pela emigração. Contudo, o número de trabalhadores em situação de desemprego prolongado, bem como ao nível dos mais jovens, continua muito alto, faltando a resposta “urgente e efetiva a nível nacional e europeu” pedida por Vítor Gaspar.