Meteorologia

  • 28 MARçO 2024
Tempo
15º
MIN 11º MÁX 18º

Portugal está governado por "neoliberalismo repressivo"

Volvidas quatro décadas de democracia, Portugal está governado por um "neoliberalismo repressivo", focado no "ataque ao Estado social" e que justifica tudo com "resposta simples" de que "não há dinheiro", critica o professor Adriano Moreira.

Portugal está governado por "neoliberalismo repressivo"
Notícias ao Minuto

07:20 - 03/04/14 por Lusa

Política Adriano Moreira

"Não ter dinheiro não significa não ter princípios e, portanto, é necessário que a falta de dinheiro não seja acompanhada por lançar os princípios pela janela", contrapôs o ex-ministro, ex-deputado e ex-líder do CDS-PP em entrevista à agência Lusa.

Portugal está hoje numa situação que "talvez não tenha precedente na vida europeia", assinalou, contrapondo que, para "animar a população portuguesa no sentido de recuperar um futuro com dignidade", é preciso dar-lhe "esperança".

Mas, em vez disso, a vida corre "cheia de dificuldades". A democracia produziu "efetivamente um grande desenvolvimento" e "o modo de vida aproximou-se da Europa", mas a "espécie de engenharia imaginosa financeira" que se lhe seguiu resultou numa "evolução muito má (...) até chegar a esta crise global", analisa o professor.

Neste contexto, Portugal "acentuou a sua condição de país exógeno (...), evolucionou para país exíguo e finalmente caiu na situação atual, de protetorado sem definição jurídica", descreveu Adriano Moreira, que recentemente assinou o "manifesto dos 70", que defende a reestruturação da dívida nacional.

Recordando que Portugal "sempre dependeu de apoio externo", o professor admitiu, porém, que essa dependência instalou "vícios" no país. Caído o Muro de Berlim e com ele a divisão entre o modelo ocidental e o comunista, restou o "neorriquismo e a tónica passou a ser gastar mais do que as disponibilidades", resumiu.

"É muito difícil dizer quem é o mais responsável. Eu acho que somos todos responsáveis", frisou, insistindo na importância de definir "um conceito estratégico nacional", o que implica um "consenso" alargado e que todas as diferenças se subordinem "a um conjunto de objetivos e valores que unem a comunidade", em vez de contribuir para "os desafetos, por exemplo, pondo os velhos contra os novos, pondo os reformados contra os ativos".

Para o académico, esse conceito deve privilegiar a relação de Portugal com o mar e defender "uma situação de igualdade na comunidade das nações" e de "dignidade nas relações entre os países".

A aposta na educação e nas instituições é outra das propostas de Adriano Moreira. "A investigação e o ensino são matéria de soberania, não são matéria de mercado", sustenta.

"Quando vejo a situação em que se encontram hoje as universidades portuguesas, acho que o conceito estratégico nacional está abalado", lamentou o presidente da Academia das Ciências de Lisboa.

"A democracia não é constituída só por indivíduos, também é por instituições", pois são estas "que asseguram a continuidade dos valores, dos projetos e da ação", frisou o professor de 91 anos, que olha à volta e vê um cenário "de grande inquietação", o que justifica o título que deu ao seu último livro, "Memórias do Outono Ocidental", "porque as folhas estão a cair".

Recomendados para si

;
Campo obrigatório