Mina de ouro na Boa-Fé preocupa moradores
Habitantes da localidade de Boa-Fé, no concelho de Évora e onde a Colt Resources planeia abrir uma mina de ouro, manifestaram-se esta sexta-feira preocupados quanto aos impactos negativos do projecto, mas a empresa disse que serão “os mínimos possíveis”.
© DR
País Évora
“Não há bónus sem haver ónus. Quem quer receber os bónus, tem que pagar alguns ónus”, afirmou Jorge Valente, representante em Portugal da canadiana Colt Resources.
Mas a empresa, acrescentou, vai trabalhar para que “os impactos negativos sejam os mínimos possíveis” e, ao mesmo tempo, “os impactes positivos que sejam os máximos possíveis”.
Jorge Valente falava à agência Lusa após uma reunião técnica de esclarecimento, na Câmara de Évora, sobre a concessão mineira da Boa-Fé, no âmbito da consulta pública do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do projecto, em curso até dia 16.
Na sessão, várias pessoas que moram na localidade transmitiram preocupações e críticas e levantaram dúvidas, não apenas quanto aos possíveis impactos ambientais do projecto, mas igualmente sociais e económicos.
As questões mais suscitadas centraram-se na localização na Rede Natura 2000 de uma das duas cortas (áreas de extracção de ouro) previstas, nos impactos para os recursos hídricos, na barragem para depositar o minério rejeitado e nas escombreiras de inertes.
José Rodrigues dos Santos, um antropólogo que se tem dedicado ao estudo deste projeto, disse à Lusa ser contra a instalação da mina de ouro a céu aberto na Boa-Fé, na zona da Serra de Monfurado.
“A ‘prova dos nove’ de que este projecto não devia ir para a frente é o facto de não haver seguro. A empresa diz que os riscos não são muito grandes e que não vai contrair um seguro para os cobrir porque custaria muito caro e inviabilizaria o projecto”, referiu.
Ora, sublinhou o antropólogo, “o seguro só pode ser caro porque os riscos, afinal, são muito mais elevados do que eles dizem”.
José Rodrigues dos Santos afiançou que, na localidade, a implementação desta extracção mineira suscita preocupações, o que levou à criação de “um grupo informal” de moradores para analisar e estudar o EIA, do qual faz parte também Ana Cardoso Pires.
“O relatório não técnico do EIA é quase um conto de fadas: Isto é bestial, vamos ter uma actividade produtiva que é muito desejada na região, muitos postos de trabalho que são ‘pão para a boca’ da maior parte da população. Isto é muito apelativo, queremos saber é qual é a contrapartida”, afirmou.
Segundo Ana Cardoso Pires, a morar na Boa-Fé há cerca de 20 anos, tendo já visto “três empresas estudarem o filão de ouro”, a implantação deste projecto, caso avance, tem de ser acautelada porque a extracção mineira “é uma actividade completamente de risco para as populações”.
Confrontado pela Lusa com estas preocupações, o responsável da Colt Resources frisou que o projecto é acarinhado na Boa-Fé, tendo presenciado a sessão “a minoria que não está satisfeita”.
“As pessoas querem o projecto, o emprego, a formação, o dinheiro que anda à volta da operação. As vozes positivas não vieram, mas temos todos os dias ‘feedbacks’ de que o projecto é desejado”, insistiu.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com