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O Dia do Trabalhador, visto por quem já caiu e ainda assim se levantou

Celebra-se hoje o Dia do Trabalhador. Para o efeito, o Notícias ao Minuto entrevistou quem já esteve empregado, passou pelo desemprego mas acabou por voltar a 'levantar-se'.

O Dia do Trabalhador, visto por quem já caiu e ainda assim se levantou
Notícias ao Minuto

09:06 - 01/05/16 por João Oliveira

País Entrevista

O Dia Mundial do Trabalhador nasceu em 1886, quando um largo grupo de funcionários se juntou nas ruas de Chicago (EUA) para pedir a implementação das oito horas diárias de trabalho.

Assim foi desde então. Reside, no entanto, uma questão: Será o trabalho algo a ser festejado por alguém que o perdeu quando menos esperava? Falamos de pessoas que perderam o emprego com uma idade que, para o mercado de trabalho, já é considerada ‘fora de validade’, seja porque as competências são demasiado extensas para o salário oferecido, ou por serem demasiado 'velhas' para assinarem um contrato definitivo.

Foi o que aconteceu com Susana Geraldes. Aos 48 anos viu ser-lhe retirado “o tapete” ao ser despedida, depois dez anos a fio a servir a empresa para a qual trabalhava.

Ao Notícias ao Minuto, esta mãe de dois filhos conta que “o nosso país nunca foi exemplar” em matérias laborais, dando como exemplo a altura em que emigrou, ainda jovem, para Alemanha a fim de encontrar emprego, mas “estando lá sozinha, era muito difícil”. Regressada a Portugal, integrou uma empresa que acabou por evidenciar “sinais de má gestão”, com vários salários em atraso. Depois conseguiu encontrar um emprego que durou apenas até ao dia em que engravidou: “Gravidezes são sempre um problema para as empresas”, lamenta.

Depois de outros “dois ou três empregos que se podem dizer precários”, o último ficou na memória pelas piores razões. “Iam-me renovar o contrato e eu, com a minha bondade, disse que estava grávida [do segundo filho]. Disseram-me logo que afinal já não iam renovar”, relata.

Foi aos 33 anos que entrou para a empresa que viria a representar nos treze anos seguintes, até que a troika chegou a Portugal. Como muitas outras firmas, aquela onde trabalhava foi forçada a despedir pessoas, “e nestas alturas, aquilo que importa não é a qualidade, é quem recebe mais. Os quadros pesados saem sempre primeiro”. Como descreve, “nós até dizíamos em tom de brincadeira, cada vez que víamos o responsável dos recursos humanos a entrar de fato e gravata, perguntávamos ‘quem é que é desta vez?’”. “Estás sempre à espera de seres tu. Não sabes quando, mas estás sempre à espera”, acrescenta.

Sem uma palavra dos patrões ou do grupo espanhol que dominava a empresa, já com 45 anos, Susana viu-se de pés e mãos atadas. A única entrevista que teve até hoje, foi o resultado de um currículo que enviou sem a data de nascimento. Quando descoberta a idade, a hipotética contratação caiu por terra.

Juntamente com o marido, também ele despedido pela mesma empresa, acabou por se dedicar ao ramo da agricultura de forma autodidata, mas garante que “ainda hoje envia currículos”. Ambos apostaram numa plantação de framboesas no Alentejo para poderem ser donos do seu próprio negócio, mas as garantias continuam a não existir.

“Há muita burocracia que existe e que o nosso Governo não facilita. São precisos papéis para tudo, as entidades públicas não fazem o trabalho a tempo útil. Nós precisamos de pareceres de várias entidades e todas elas dificultam o nosso trabalho”, descreve, dizendo que “podia estar a produzir o dobro do que produzo agora”.

Por enquanto, este será o plano a levar a cabo até ao próximo ano. Se o panorama continuar a não melhorar, Susana não tem medo “em ir trabalhar para uma fábrica na Inglaterra, onde se aceitam pessoas com 50 anos”.

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