Meteorologia

  • 16 ABRIL 2024
Tempo
16º
MIN 13º MÁX 26º

São jovens e dedicam-se ao amor por Deus. O que fica para trás?

O amor à Igreja e às pessoas fala mais alto e leva jovens a mudarem o rumo da sua vida para se dedicarem à religião. O Notícias ao Minuto dá-lhe a conhecer o exemplo de um dos alunos do Seminário Cristo Rei dos Olivais e a opinião do responsável pelo local.

São jovens e dedicam-se ao amor por Deus. O que fica para trás?
Notícias ao Minuto

08:10 - 01/05/16 por Inês André de Figueiredo

País Igreja

São jovens, como tantos outros, mas tomam decisões bem diferentes da maioria das pessoas. Abandonam tudo e aceitam deixar uma vida dita normal, para escolherem o caminho de Deus, ao serviço dos outros e em que as ambições pessoais são afastadas em prol da comunidade e da Igreja.

As dúvidas ou certezas existentes no caminho

Carlos, de 23 anos, frequenta o Seminário Cristo Rei dos Olivais, em Lisboa, e assume que aos 15 anos, quando ingressou no Seminário Menor, não havia a “certeza absoluta” do caminho a seguir, mas garante que a convicção foi aumentando durante o percurso percorrido.

“Aos meus 15 anos não percebia tão bem o que Deus queria de mim. Hoje, sei que Deus quer que eu seja padre, não tenho dúvidas”, explica, recordando que “havia sonhos de emprego, de constituir uma família, de lhe poder dar o melhor, de ser feliz com essa família, ter filhos, mulher e um trabalho com estabilidade”.

Mesmo assim, o seminarista garante que é possível colocar muitas coisas de ambos os lados da balança . “Nasci numa família e a família para mim faz sentido, foi assim que me fui descobrindo na vida humana, mas percebi que Deus me chamou para uma vida que, à partida, não vai ter isso”, realça em conversa com o Notícias ao Minuto.

Para ajudar na compreensão dos primeiros sentimentos em relação à vida paroquial existe um “período de acompanhamento externo durante o qual os jovens permanecem na família, nas suas escolas, nos seus grupos paroquiais e fazem um primeiro caminho de aprofundamento, de fé, de motivações e decisões”, explica o reitor do Seminário dos Olivais, padre José Pereira, ao Notícias ao Minuto

Assim, o responsável realça que se procura “algum sinal”, uma existência de algo “que não seja apenas uma emoção, uma busca ou uma realização pessoal”. Mais tarde, no ano propedêutico dá-se início a “um ano de vida comunitária, uma direção espiritual intensa, um conhecimento mais profundo da Igreja e um conhecimento humano muito importante”, em que os alunos são colocados em diversas atividades de apoio à comunidade, desde hospitais a lares de idosos.

Antes de serem considerados padres, os alunos passam por sete anos de aprendizagem, entre os quais um curso superior de Teologia na Universidade Católica.

Como são vistos pela sociedade?

Apesar de a entrada no seminário ser uma decisão pensada e consciente, trata-se de uma espécie de tabu para a sociedade, principalmente pela forma como os jovens abdicam de questões que estão bastante intrínsecas no seio da população. O padre José Pereira acredita que “há uma grande incompreensão em relação ao que são os dinamismos da vida espiritual”, realçando que, mesmo entre os próprios cristãos, há entraves na ideia de alguém da família vir a ser padre.

“Quando não conhecemos uma coisa olhamos com alguma desconfiança. O padrão é uma vida com uma certa qualidade, com uma estabilidade de emprego, um nível económico médio, um conjunto de ocupações e atividades mais culturais, ou mais diversão… Se esse é o padrão do que é a vida boa, com qualidade e com felicidade, um tipo de vida que manifeste outras opções [é visto] com alguma estranheza”, reconhece.

Carlos garante que pai e mãe sempre o apoiaram nas suas opções, mas revela que houve “alguns tios que nunca perceberam muito bem a entrada no seminário”, principalmente porque “não tinham filhos” e viam em Carlos e no seu irmão uma “possibilidade de verem os sonhos deles concretizados”.

Mesmo com o apoio inicial dos pais, Carlos foi questionado sobre se era mesmo esta a opção que queria tomar e alertado para o que poderia ‘perder’ em função deste sonho. Assim, o estudante garante que a escolha é de cada um dos aprendizes da Igreja católica. “Ninguém nos obriga a nada”, atira.

A troca do 'eu' em prol de algo maior

“No próprio caminho nós percebemos onde queremos estar. Não somos retirados do mundo, não nos privam de saber o que existe, mas não temos de experimentar tudo para saber que as coisas existem. O seminário propõe-nos um caminho e nesta caminhada há coisas que não fazem sentido”.

Desta forma, Carlos ressalva que os seus sonhos pessoais foram transformados. “Se algum dia tive muitas ambições, agora, pondo-me no caminho da igreja e de perceber o que Deus quer de mim, sou chamado a ter tudo menos ambições, no sentido de quem caminha para uma obediência. Não há uma ambição de escolhas, mas há uma continuidade e disponibilidade de perceber o que a Igreja precisa e que devo continuar”, conclui.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório