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Alterações climáticas ameaçam terrenos agrícolas do Baixo Vouga

Os terrenos agrícolas do Baixo Vouga estão em risco devido à lenta reação das autoridades ao impacto das alterações climáticas, concluíram investigadores da Universidade de Aveiro (UA) no âmbito de um estudo europeu.

Alterações climáticas ameaçam terrenos agrícolas do Baixo Vouga
Notícias ao Minuto

10:37 - 14/12/15 por Lusa

País Estudo

Em risco estão 4.600 hectares de férteis terrenos agrícolas ameaçados de progressiva salinização devido à acentuada subida das marés e às constantes inundações, que destroem diques e colheitas, cortam acessos e isolam populações e explorações agrícolas.

No estudo, feito em articulação com outras instituições europeias, os investigadores do Departamento de Materiais e Cerâmica da UA alertam para a "inação" das autoridades e dizem que a resistência em adotar medidas concretas para integrar as alterações climáticas nas políticas atuais torna ainda mais complicado o combate à intrusão salina superficial.

Segundo um projeto de conclusões a que a Lusa teve acesso, os investigadores apontam como principais problemas "a gestão, nem sempre adequada, da Ria de Aveiro, os conflitos entre entidades e a falta de apoio aos agricultores para lidarem com as inundações fluviais e com a intrusão salina superficial".

Território de grande valor agrícola e ambiental, o Baivo Vouga Lagunar (BVL) reparte-se entre os concelhos de Aveiro, Estarreja e Albergaria-a-Velha, estimando-se que ali existam cerca de quatro mil explorações agrícolas, integradas num ecossistema rico e variado que é suporte de várias espécies, muitas delas protegidas.

A progressiva subida das marés, que muitos acreditam estar associada ao fenómeno do aquecimento global, e as sazonais inundações na área do BVL têm levado à destruição de centenas de hectares de terrenos agrícolas, pondo em risco colheitas, gado (cavalos e bovinos são criados à solta nas ilhas do Vouga) e populações.

Recorrentemente são tornadas públicas queixas de agricultores, autarcas e agentes políticos que reclamam o início das obras destinadas à conclusão do sistema primário de defesa contra marés, um programa de sustentabilidade que visa impedir a intrusão de água salgada, e que deverá ser seguido por um plano de expansão da zona agrícola e pela criação de um sistema eficaz de comunicações.

O bloco do Baixo Vouga Lagunar foi um dos três casos de estudo do projeto europeu ADAPT-MED, em que investigadores da UA participaram e que partiu da pergunta: "Estão as atuais tomadas de decisão ajustadas à internalização da adaptação no processo de elaboração de políticas?".

O ADAPT-MED pretendeu identificar os principais fatores que afetam a capacidade de "internalizar" a adaptação às alterações climáticas em zonas costeiras mediterrâneas, no processo de tomada de decisão.

Nomeadamente, salientam os investigadores, "procurou-se analisar, recorrendo a processos participativos com os atores-chave, a forma como o processo de adaptação às alterações climáticas se relaciona, e poderá relacionar, com os mecanismos de planeamento e gestão do território e de prevenção do risco".

Durante o processo participativo dos atores-chave, foi reconhecido que não existem ainda medidas concretas para integrar as alterações climáticas nas políticas atuais, nem para evitar os impactes de outros problemas ambientais, como a intrusão salina superficial.

Os principais obstáculos apontados, perante a inação aos problemas apontados, foram a gestão, nem sempre adequada, da Ria de Aveiro, os conflitos entre entidades e a falta de apoio aos agricultores para lidarem com as inundações fluviais e com a intrusão salina superficial.

O projeto ADAPT-MED foi promovido por várias entidades em Portugal - Universidade de Aveiro e Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) -, França - ACTeon e o Instituto para a Investigação Geológica - e na Grécia - Universidade Nacional Capodistriana de Atenas. Adicionalmente, o projeto contou, desde o seu início, com a participação de diversos atores-chave em cada um dos casos de estudo.

No caso concreto do Baixo Vouga Lagunar, colaboraram ativamente no projeto instituições da administração central e regional (Administração do Porto de Aveiro, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, Direção Regional da Agricultura e Pescas do Centro, municípios, juntas de freguesia, associações de utilizadores, entidades não-governamentais, empresas privadas e cidadãos comuns). Colaboraram ainda utilizadores do Baixo Vouga Lagunar, como agricultores, produtores de gado e população local, e alunos da Universidade de Aveiro residentes nos concelhos abrangidos pelo BVL.

Os resultados fundamentais do projeto estarão disponíveis numa publicação que será distribuída, no dia 16, durante o seminário final que decorre entre as 14:30 e as 16:30 no anfiteatro do Departamento de Materiais e Cerâmica da UA.

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