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"O ISIS colocou um alvo sobre Portugal" e Mário "foi lutar"

O jovem de 21 anos foi o primeiro português a aderir à luta contra o Estado Islâmico. Esteve quatro meses no Curdistão e admite a possibilidade de um dia mais tarde voltar.

"O ISIS colocou um alvo sobre Portugal" e Mário "foi lutar"
Notícias ao Minuto

09:13 - 03/09/15 por Notícias Ao Minuto

País Síria

Mário Nunes, de 21 anos, tomou a decisão que ponderava há meses. Abandonou a Força Aérea (FA) e juntou-se à luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (ISIS). Foi o primeiro português a fazê-lo. Mas por ter desertado da FA arriscava vir a enfrentar um processo disciplinar, isto se voltasse com vida do Curdistão.

O cenário era complicado, mas ainda assim comprou um bilhete só de ida para Sulaymaniyah, Curdistão e atravessou a fronteira com a Síria onde, a 10 de fevereiro, aderiu às Unidades de Proteção Popular (YPG).

O jovem participou na libertação de algumas zonas até ali dominadas pelo ISIS. Esteve na linha de frente durante quatro meses ao lado de vários voluntários estrangeiros que, através do Skype, contaram à Sábado que Kendal, nome pelo qual era conhecido, era um verdadeiro patriota.

"O ISIS colocou um alvo sobre Portugal e Espanha e houve pelo menos um português que não ficou à espera que eles fossem ter com ele. Foi lutar", indica um voluntário.

Na entrevista à Sábado, Mário Nunes admite que a guerra o fascina, mas esse não foi o motivo que o levou a integrar o YPG. "Senti que podia fazer a minha parte sendo o primeiro português a combater na Síria e fazer com que outros portugueses se preocupassem ao verem um deles a combater pelo lado certo e não pelo Estado Islâmico", afirma.

"Estou disposto a pegar numa arma para contribuir para um mundo melhor. Todas as pessoas escolhem como podem ajudar: com dinheiro, com voluntariado, a curar pessoas. Mas há aqueles que dão o sangue e se batem frente a frente com pessoas más", adianta.

O jovem diz ter desertado da Força Área por ver que "a tropa está cheia de hipocrisia" e que "já não se cultiva o privilégio e a honra de se ser militar".

E como soube de que forma poderia partir para a Síria? "Através da página de Facebook dos Lions of Rojava". "Deram-me números de telefone. Viajei para Sulaymaniyah e aí levaram-me para uma casa onde formámos um grupo que depois foi transportado para uma localização não identificada nas montanhas", explica.

A viagem foi paga por Mário Nunes isto porque "os estrangeiros têm de levar o próprio dinheiro". "Mas não é preciso muito porque quase não temos despesas a não ser o custo do bilhete do avião que me custou 563 euros só de ida", frisa.

Quando questionado sobre os seus combates, Mário recorda-se de um em que a noite tinha sido um "inferno". "De noite foi o inferno, com projéteis a voar por todos os lados. Dormi e fiz as necessidades com os projéteis a zumbir perto da minha orelha. Quando o dia nasceu visitámos a vila e abundavam os corpos", conta.

E a sua rotina? "À noite era sobretudo fazer vigilância. Os turnos tinham em média três horas e meia, mas dependia do número de pessoas. De dia tentávamos entreter-nos a limpar armas e munições, a dormir, lavar roupa, ler e conversar", indica.

Ainda sobre a sua alimentação e as dificuldades pelas quais passava, o combatente disse só "comer carne uma vez por semana. Em alguns sítios onde a água é canalizada não chega é preciso esperar por água engarrafada, o que por vezes demora. Na maioria dos dias, o que comemos ao almoço é o que comemos ao jantar, mas a comida é deliciosa. Dormir em camas é raríssimo, temos um cobertor por baixo, outro por cima e sem almofada".

Quanto ao que mais sentia falta, além da sua namorada, Mário diz que ansiava por uma sanita. "Uma sanita estava nos nossos pensamentos todos os dias. Ter um buraco no chão e água para nos lavarmos era muito estranho para nós", conta.

Ainda assim, optou por voltar porque para combater tinha de esperar algum tempo e nunca sabia se ia participar ou não numa batalha. No regresso recebeu um enorme agradecimento. "Homens, mulheres e crianças levantavam-nos os dois dedos, que em curdo não significa apenas vitória. É uma forma de congratulação", recorda.

Mário Nunes que já está de regresso à Europa e em breve a Portugal não irá, afinal, enfrentar um processo disciplinar por parte da Força Aérea.

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