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Vilas operárias de Lisboa entre a reabilitação e o abandono

Escondidas no interior dos quarteirões da cidade de Lisboa, a Vila Berta e a Vila Macieira, na freguesia de São Vicente, são o exemplo que contrasta a reabilitação e o abandono das habitações operárias com mais de um século.

Vilas operárias de Lisboa entre a reabilitação e o abandono
Notícias ao Minuto

07:15 - 22/12/14 por Lusa

País Habitação

No final do século XIX e início do século XX, Lisboa "teve um aumento demográfico de 120%, portanto esta habitação operária foi uma necessidade devido à vinda de tantas pessoas à procura de trabalho", explicou à Lusa a arquiteta e investigadora na área do urbanismo, Filipa Antunes.

As vilas operárias refletem a imagem da industrialização com "áreas muito pequenas e rentabilizando o espaço ao máximo", em que o tamanho das casas correspondia à posição do operário na hierarquia da fábrica.

Lisboa chegou a ter "cerca de 955 pátios e vilas operárias", mas muitas já não existem e outras estão completamente degradadas, como é o caso da Vila Macieira. Apenas algumas foram reabilitadas, mantendo as características originais, como a Vila Berta.

"É a bela e o monstro. A bela é a Vila Berta e o monstro é a Vila Macieira", disse a presidente da junta de freguesia de São Vicente, Natalina Moura.

A entrada através de uma serventia pública, as varandas com vasos de flores e os azulejos nas paredes compõem "o postal" da Vila Berta, construída em meados de 1908 por Joaquim Francisco Tojal, como "um investimento imobiliário para arrendamento", disse o bisneto do empresário, Estevão Tojal, de 62 anos.

Isilda Martins, de 70 anos, começou por pagar renda e mais tarde optou por comprar a casa onde vive há 43 anos.

Esta moradora gosta do sossego e da boa vizinhança que ali existe: "Aqui conhecemo-nos praticamente todos, ainda é aquele género, que parece na província, de dizer o bom dia, boa tarde, até amanhã, uma boa noite".

Atualmente, houve uma renovação etária da população a residir na Vila Berta, que se preocupa com a preservação e reabilitação das casas, contribuindo para que o local faça parte dos circuitos turísticos de Lisboa, visitado por "milhares de pessoas por mês", disse Estevão Tojal, que é também um dos responsáveis pela Associação de Defesa do Património da Vila Berta.

A pouco mais de 900 metros da Vila Berta existe a Vila Macieira, construída em 1907 na Calçada dos Barbadinhos, no n.º 140, onde o cenário é completamente diferente, com o risco de desmoronamento.

À entrada da Vila Macieira estão os cães, que guardam o local e alertam para presença de desconhecidos. No pátio, os moradores partilham o espaço com as galinhas, ao mesmo tempo que fazem pequenos trabalhos. Ir buscar água faz parte da rotina diária de cada um deles.

Desempregado e sem possibilidades económicas, Mohamde Anha, de 36 anos, escolheu a Vila Macieira para viver há mais de um ano, apesar de não ter condições de habitação: não tem água, não tem luz, não tem gás, não tem casa de banho, mas também não tem a preocupação de pagar renda.

"Se a Câmara [de Lisboa] não pode ajudar, tenho que viver aqui até conseguir um prédio ou qualquer coisa para sair daqui", disse o morador.

Vila Macieira é atualmente habitada por "uma população flutuante que, não tendo onde se colocar, procura um espaço a que chama casa sua", disse Natalina Moura.

A autarca defendeu a demolição dos edifícios, considerando que era preciso ser "uma sonhadora", para acreditar na reabilitação da Vila Macieira, devido à "robustez financeira" que seria necessária por parte da Câmara de Lisboa.

A 30 de setembro foi apresentada a petição "Por uma Solução para a Vila Macieira, por questões de segurança e de saúde pública", em que os moradores de São Vicente exigem que "as pessoas que habitam este espaço sejam realojadas em situações condignadas".

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