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Viveu três meses como louco, mas estava são

Carlos foi internado por estar demasiado tempo em frente ao computador. Os seus pais pediram a uma médica que o diagnosticasse, sem o ver. Tinha uma ?patologia delirante?. Num domingo, quatro agentes da PSP levaram-no de casa para a ala psiquiátrica do Hospital Egas Moniz, em Lisboa. Durante quase três meses viveu uma realidade alterada por antipsicóticos e sedativos, até que um tribunal decidiu devolver-lhe a sua vida, conta o jornal i.

Viveu três meses como louco, mas estava são
Notícias ao Minuto

12:06 - 23/10/14 por Notícias Ao Minuto

País Tribunais

"A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.” A citação pertence a Erasmo de Roterdão, pode encontrar-se no ‘Elogio da Loucura’, e serve bem para ilustrar a reportagem que esta quinta-feira é contada pela mão do jornal i.

A história é a de um homem de 41 anos que foi internado na ala psiquiátrica de um hospital em Lisboa. Os seus pais achavam que passava demasiado tempo em frente ao computador. Carlos era informático, fazia jogos para grandes empresas europeias.

Durante quase três meses, os seus argumentos e explicações apenas serviram para deteriorar o seu diagnóstico inicial. Sofria, depois de os pais do paciente terem pedido uma ‘credencial’ para interná-lo a uma psicóloga do Serviço Nacional de Saúde, de uma “patologia delirante”.

"Uma das características da sua psicopatologia é não ter noção do seu problema. Precisa ficar aqui para se tratar”, diziam-lhe.

"Durante a entrevista [que serviu de admissão no Hospital] não foi possível evidenciar qualquer aspeto compatível com psicopatologia à exceção de um certo secretismo”, nada confirmava a psicopatologia de Carlos. Mas a entrevista com os pais, com base no que o paciente escrevia no Facebook, terá ditado o seu internamento.

A história começou no dia 11 de outubro de 2013. Sem ser visto, com base apenas em relatos, na ficha médica de Carlos lia-se que sofria de uma “patologia delirante em grande tempo de evolução sem qualquer tipo de tratamento”, razão que justificou que uma delegada de Saúde emitisse um mandado para condução urgente ao hospital.

Confrontado com uma realidade que não aceitava, muito menos percebia, Carlos tentou a via judicial. O seu advogado oficial tentou um processo de habeas corpus. A sua libertação imediata foi indeferida. Já em dezembro, conseguiu a sua primeira vitória judicial e regressou a casa, ainda com o rótulo de doente com “perturbação delirante”. Trocou, então, de advogado.

Já em abril deste ano, um relatório de avaliação psiquiátrica, pedido ao juízo médio de Instrução Criminal da Comarca da Grande Lisboa Noroeste – Sintra, confirmava a perspetiva do paciente. Não estava doente.

Ao fim de meses de medicação, Carlos ficou com sequelas. Sofre de depressão e é acompanhado num hospital da sua área de residência para minimizar os estragos de um diagnóstico ‘certo’, mas que não era o seu.

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